Projeto de fundação para captar fundos para IBGE opõe servidores e Pochmann
![Servidores do IBGE protestam contra IBGE+ em novembro de 2024 - ASSIBGE/Reprodução](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/b2/2025/01/28/servidores-do-ibge-protestam-contra-ibge-em-novembro-de-2024-1738098925275_v2_450x337.jpg)
![Servidores do IBGE protestam contra IBGE+ em novembro de 2024 - ASSIBGE/Reprodução](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/b2/2025/01/28/servidores-do-ibge-protestam-contra-ibge-em-novembro-de-2024-1738098925275_v2_450x337.jpg.webp)
A criação de uma fundação com a finalidade de captar dinheiro para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pôs em lados opostos os servidores e Marcio Pochmann, presidente do órgão. Nesta quarta-feira (29), os funcionários realizarão ato contra a medida no Rio de Janeiro e em diferentes partes do país.
O que aconteceu
IBGE+ foi criado em 12 de julho de 2024. De acordo com o instituto, a fundação foi criada para que o IBGE possa receber dinheiro para pesquisa e inovação não apenas do orçamento federal, mas também de ministérios, bancos públicos e autarquias como pagamento por pesquisas e outros projetos.
Servidores dizem que foram pegos "de surpresa". Segundo eles, a criação da IBGE+ não foi discutida internamente — o que teria impedido que o corpo técnico do órgão pudesse dar colaborações. Além disso, os funcionários afirmam que a fundação foi criada sem autorização por lei, algo que é necessário em casos desse tipo.
Instituto afirma que debates internos aconteceram. "A Fundação IBGE+ é também alvo de forte campanha de desinformação por, possivelmente, evidenciar conflitos de interesses privados existentes dentro do IBGE", afirmou o instituto em nota. Já a criação sem lei não foi esclarecida pelo órgão ao UOL.
Funcionários temem perda de autonomia e credibilidade com fundação. Em carta, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do IBGE afirma que a contratação ilimitada de pessoas externas e pressões geradas por acordos com empresas podem levar à captura da produção do órgão "por interesses privados".
O conjunto de ameaças colocadas põe em perigo os sistemas nacionais de estatística, cartografia e geociências. Por consequência, coloca em perigo também a formulação e o monitoramento de políticas públicas, que utilizam esses sistemas como subsídio
Trecho da carta do Sindicato Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do IBGE
"Nada que possa comprometer o IBGE no exercício de sua missão institucional será permitido", afirma instituto. De acordo com o órgão, a nova fundação "obteve aprovação por todos os órgãos de controle necessários" e "será fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União".
Falta de dinheiro é pano de fundo
Pochmann esteve no Planalto na última segunda-feira (27). Na ocasião, o presidente do IBGE disse ter se reunido com Marco Aurélio Santana Ribeiro, chefe de gabinete pessoal de Lula, para levantar mais recursos para o instituto. "Essa é a minha preocupação", disse ele à imprensa na ocasião.
Salários respondem por mais de 90% do orçamento do IBGE hoje. De acordo com o instituto, os gastos diretamente com pesquisas representam menos de 5% do total das despesas do órgão. O sindicato estima que metade dos servidores do IBGE trabalham hoje "absolutamente precarizados", sem infraestrutura adequada.
Apesar de oposição de funcionários, CUT, MST, MTST e UNE apoiam Pochmann. As entidades divulgaram uma nota em que afirmam que o presidente do IBGE é "a expressão do compromisso coletivo com os valores e objetivos representados pelos nossos movimentos populares".
"Não tenho acompanhado a situação, mas não me surpreendo", diz Edmar Bacha, ex-presidente do IBGE. Em artigo publicado recentemente, a também ex-presidente Wasmália Bivar disse que "a Fundação IBGE+ tem tudo para tornar o IBGE menor" e disse que é possível que o instituto capte mais dinheiro com o formato atual.
Planalto ainda não debateu interferência
O assunto já foi levado ao presidente Lula (PT), segundo interlocutores do Palácio do Planalto. A crise já teria sido citada, inclusive, em uma reunião com a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), responsável pelo instituto, e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Por ora, não há qualquer definição de mudança. Petista, Pochmann foi indicado ao cargo pelo próprio presidente Lula, mas a avaliação dentro do Palácio do Planalto é de que há problemas maiores e mais urgentes a serem resolvidos — deportações dos Estados Unidos, preço dos alimentos e possível alta do diesel, por exemplo.
Tebet também evitaria fazer qualquer alteração. Segundo auxiliares, a ministra e Pochmann têm boa interlocução. E, como foi uma indicação direta de Lula, não caberia a ela tomar decisões sobre o destino da presidência do instituto.
Pochmann está no cargo desde julho de 2023. Lula já disse que o considera "um dos grandes intelectuais desse país" e que o escolheu por confiar na sua "capacidade intelectual". Entre 2007 e 2012, ele presidiu o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) — onde foi acusado de demissões com viés ideológico.