Um policial militar com um fuzil apontado para o asfalto da Estrada do Itararé, movimentada via de acesso ao Complexo do Alemão, sinaliza para que um veículo pare. Ele então mira a arma para a condutora, que baixa o vidro sem movimentos bruscos para mostrar o rosto. O agente acena com a cabeça em sinal positivo e a libera.
Em seguida, a blitz pede que um motociclista branco —com a bandeira do Brasil estampada no capacete— reduza a velocidade e também o libera. Por sua vez, dois homens negros que passavam de moto são parados para verificação de documentos. As abordagens ocorreram em 26 de novembro em frente a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) no conjunto de favelas da zona norte do Rio.
Dez anos após forças de segurança retomarem o território dominado pelo tráfico, a abordagem, com moradores na mira de fuzis, contrasta com a promessa de instalação de uma polícia de proximidade —sem tiroteios, com menos armamento e maior contato com moradores.
"A pacificação foi uma falsa ilusão. As pessoas viam uma coisa na TV. Mas, na prática, a realidade era outra. Nada do que nos prometeram aconteceu", resume a artista plástica Mariluce Mariá, 39.
O governo do Rio estuda agora o que chama de "reocupação definitiva" de comunidades, com participação de policiais civis, para o ano que vem —novamente em projeto capitaneado pela polícia (leia mais abaixo). "Vamos apenas repetir o que deu certo e corrigir os erros", diz Allan Turnowski, secretário de Polícia Civil do Rio.
O ex-comandante das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) Frederico Caldas contudo ressalva: "É um equívoco continuar o projeto só com polícia e sem a presença social".
Apesar de o problema da violência não ter sido resolvido, a Polícia Militar insiste que "as UPPs serão o elo para a consolidação do policiamento de proximidade, lançado no começo deste ano".
Unidades continuam a operar no Alemão, mas a PM não informou quantas e em quais moldes.