Um navio sem capitão. É assim que Daniel Macedo, defensor público da União, define a atual situação de um dos hospitais mais importantes do Brasil: o Into (Instituto de Traumatologia e Ortopedia).
Há mais de 90 dias sem um diretor --preso na Operação Fratura Exposta, um dos desdobramentos da Lava Jato, com executivos de multinacionais fornecedores do Into--, o maior centro de cirurgias do Brasil padece com falta de próteses e órteses, poucas cirurgias e uma fila de 12 mil pessoas que aguardam operações nos joelhos, ombros, quadris, mãos, pés.
Em 2014, o MPF (Ministério Público Federal) e a DPU entraram em acordo judicial com o instituto: estabeleceu-se uma meta cirúrgica de 10.500 pacientes a serem operados por ano. "Essa meta vinha sendo cumprida até 2018. Em setembro, o Into havia feito apenas 6.100 cirurgias. Percebi que eles não conseguiriam bater a meta", afirma Macedo ao UOL.
Com base nisso, agentes da DPU (Defensoria Pública da União) e da Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio) fizeram uma vistoria na sede do Into no final do mês passado. Encontraram o que Macedo classifica como "desabastecimento sistêmico".
"Segundo o que nos disseram, esse desabastecimento sistêmico foi ocasionado porque cinco empresas multinacionais citadas na Operação Fratura Exposta proibiram a contratação junto ao poder público. Não há, segundo o Into, empresas no Brasil que fabriquem órteses e próteses usadas no Into", disse o defensor.
De acordo com ele, "estruturalmente, a corrupção tomou conta de tudo. O Into é o maior centro de cirurgias traumáticas e ortopédicas do Brasil, um dos mais premiados do mundo, e responde por 60% das cirurgias do Estado. Sem diretor geral há mais de 90 dias, é um navio sem capitão, uma unidade sem rumo", avalia Macedo.
"Ninguém do corpo técnico do hospital quer assumir esse cargo. Já se avizinha um novo governo, ninguém quer ficar nessa transição, e o Into está na vitrine da imprensa [devido à operação]", continuou.
Com isso, os pacientes sofrem.