"Vejo um movimento de reação [...] em que se busca tirar a credibilidade de agentes públicos que atuam na operação [Lava Jato], para promover os retrocessos que possam permitir que poderosos que praticaram crimes graves alcancem impunidade", afirmou o procurador da República Deltan Dallagnol nesta sexta-feira em seu perfil do Twitter.
Se defender atacando é uma estratégia que ele sempre usou enquanto um dos líderes públicos da Operação Lava Jato.
Porém, desde junho, quando conversas privadas entre integrantes da força-tarefa, e principalmente entre o procurador e o então juiz Sergio Moro, o paranaense de Pato Branco tem sido alvo de uma pressão inédita até então contra seu trabalho.
A temperatura se elevou a ponto de ministros do Supremo Tribunal Federal estudarem medidas contra Dallagnol.
Nos últimos cinco anos, o nome do procurador apareceu como um dos protagonistas de uma nova geração de agentes públicos dedicados ao combate à corrupção. A fama garantiu reconhecimento e visibilidade para o coordenador da Lava Jato.
A série de reportagens capitaneada pelo site The Intercept Brasil despertou dúvidas sobre a lisura na atuação de Dallagnol. O UOL passou a integrar recentemente o grupo de parceiros na análise das mensagens e divulgação de seu conteúdo.
O procurador passou a ser alvo de críticas de quem vê nas mensagens indícios de que ele extrapolou suas atribuições, contou com ajuda indevida de Moro nos processos da operação e tirou proveito pessoal de sua exposição como porta-voz da Lava Jato.
"O Dallagnol acabou prejudicando a imagem construída pelo Ministério Público", avalia o jurista Lenio Luiz Streck, que sempre foi crítico ao que considera abusos da Lava Jato. "O Ministério Público deve ter um mínimo de isenção. Ele não pode atropelar regras éticas, morais, para atingir os seus fins. O Dallagnol não teve isenção. Em tudo que ele fez, o lema é que os fins justificam os meios."
"Existe um saldo extremamente positivo no combate à corrupção e existe também, por outro lado, um dano à imagem do Deltan, em decorrência dessas mensagens", opina o promotor de Justiça Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção e admirador do trabalho da Lava Jato sob o comando de Dallagnol.
"Esse conjunto de mensagens, ao que tudo indica obtido de forma criminosa, tem uma situação desagradável, desconfortável. Mas não podemos perder a noção do todo", acrescenta Livianu. "O balanço da Lava Jato é absolutamente positivo. É inegável que nunca se trabalhou com tanta profundidade e com dados tão exitosos no combate à corrupção no Brasil."
Procurado pela reportagem, Dallagnol não quis fazer comentários.