'Slide tem que ser didático': vazamento mostra bastidores do PPT de Lula
As mensagens divulgadas ontem pelo site The Intercept mostram os bastidores da produção e as repercussões da exibição do PowerPoint usado pelo Ministério Público Federal (MPF) ao denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em setembro de 2016.
O arquivo, que virou piada nas redes sociais, foi comentado no grupo de procuradores que trabalhavam no caso no aplicativo Telegram, chamado "Incendiários ROJ", segundo as mensagens obtidas pelo Intercept.
Em 9 de setembro, Dallagnol questiona os colegas procuradores sobre inconsistências em provas contra o ex-presidente. Cerca de 24 horas depois, ele celebrou o procurador que encontrou uma reportagem do jornal O Globo, em 2010, que mostraria conexão entre a Petrobras e o tríplex do Guarujá: "Tesão demais essa matéria", disse.
O que Dallagnol escreveu:
9 de setembro, 21h36:
"Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis? então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apto? São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua"
10 de setembro:
22h45: "Tesao demais essa matéria do O GLOBO de 2010. Vou dar um beijo em quem de Vcs achou isso"
23h05: "Sabemos qual a fonte da matéria? Será que não vale perguntar para a repórter, a Tatiana Farah, qual foi a vonte dela? [fonte]
Acho que vale. Informalmente e, se ela topar, dá para ouvi-la.
Pq se ele já era dono em 2010 do triplex? a reportagem é um tesão, mas se convertermos em testemunho pode ser melhor
23h06 - "Podemos fazer contato via Secom, topam?" [Secretária de Comunicação]
"vou pedir pra ascom o contato" [Assessoria de Comunicação]
23h08: "Vcs não têm mais a mesma preocupacção que tinham quanto ao imóvel, certo? Pergunto pq estou achando top e não estou com aquela preocupação. Acho que o slide do apto tem que ser didático tb. Imagino o mesmo do lula, balões ao redor do balão central, ou seja, evidências ao redor da hipótese de que ele era o dono"
A partir daí surgiu a ideia apresentada por Dallagnol dias depois, que acabou virando piada e foi duramente criticada.
Na mesma noite, assim que conseguiu o telefone da jornalista autora da matéria, Tatiana Farah, Dallagnol repassa o contato a dois procuradores e pede que tentem descobrir a fonte da matéria.
23h56: "Vcs ligam pra ela?"
23h57: "Na ligação tem que ser totalmente respeitoso e deferencial em relação ao sigilo de fonte"
23h58: "Tem que dizer que viram, queriam parabenizar pela matéria, e que, respeitado o dto de fonte, caso não seja o casso de manter o sigilo, se ela poderia indicar quem foi a fonte, ainda que ap´so eventual conferência ou conversa com as fontes?
Segundo a reportagem, no grupo Incendiários ROJ do Telegram não é possível saber se os dois procuradores tentaram contato com a jornalista.
Mas, em outro grupo do Telegram ("Filhos do Januário 1") o procurador Januário Paludo cita novamente a jornalista no dia 13 de setembro, véspera da denúncia de Lula, afirmando ter conversado com ela para saber como ela tinha obtido as provas da matéria:
17h40: "Conversei com a TATIANA FARAH DE MELLO, que fez a reportagem em 2010 sobre o TRIPLEX. Ela realmente confirmou que foi para GUARUJA e lá colheu diversas informações sobre os empreendimentos da BANCOOP. A matéria era para ser sobre a BANCOOP e o calote dado nos mutuários. Em guaruja conversando com funcionários da obra - que ainda estava no esqueleto, é que ela descobriu que o triplex seria do Lula. Ela manteve contato com a Assessoria de comunicação do Palácio do Planalto que confirmou a informação. Toda parte documental, como e-mail e outros dados foram inutilizados quando ela saiu do 'o Globo'. Acho que podemos tomar por termo o depoimento. Marco uma video e pronto"
Em seguida, o procurador Pozzobon o parabeniza. E outro procurador, Carlos Fernando dos Santos Lima faz uma ressalva sobre a ideia de convocá-la judicialmente
17h40: "Boooooa demais Jan!"
17h40: "Creio que tomar depoimento de jornalista não é conveniente."
Na véspera da denúncia e da apresentação do PowerPoint, Dallagnol citou a importância de convencer a opinião pública.
Dallagno: "A opinião pública é decisiva e é um caso construído com prova indireta e palavra de colaboradores contra um ícone que passou incolume pelo mensalão"
No dia 16, dois dias depois da apresentação dos slides da denúncia contra Lula, Dallagnol, procurou o então juiz da Operação Lava Jato e hoje ministro da Justiça, Sergio Moro. No mesmo dia, Dallagnol participou de uma palestra e brincou com os memes sobre o PowerPoint: Decidi não usar nenhum slide aqui, disse. Não há o horário em que as mensagens entre o procurador e Moro foram trocadas.
Dallagnol: "A denúncia é baseada em muita prova indireta de autoria, mas não caberia dizer isso na denúncia e na comunicação evitamos esse ponto."
"Não foi compreendido que a longa exposição sobre o comando do esquema era necessária para imputar a corrupção para o ex-presidente. Muita gente não compreendeu porque colocamos ele como líder para imperar [imputar] 3,7MM de lavagem, quando não foi por isso, e sim para inputar 87MM de corrupção."
"Ainda, como a prova é indireta, 'juristas' como Lenio Streck e Reinaldo Azevedo falam de falta de provas. Creio que isso vai passar só quando eventualmente a página for virada para a próxima fase, com o eventual recebimento da denúncia, em que talvez caiba, se entender pertinente no contexto da decisão, abordar esses pontos"
Segundo o site, Moro o apoia dois dias depois somente, no dia 18 de setembro.—também sem hora de envio.
Moro: "Definitivamente, as críticas à exposição de vcs são desproporcionais. Siga firme."
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