Nos últimos meses, o governador tem tentado se descolar da imagem do presidente fazendo críticas pontuais a ele. Na mais recente, disse que nunca mamou nas tetas de ninguém, em resposta a uma crítica do presidente. O movimento tem seus riscos.
"A eleição municipal é um teste para quem tem projetos nacionais. O que Doria quer é formar um arco grande de alianças [para 2022]. E isso passa por não criar problemas na eleição municipal. Ele não pode sair dessa eleição com inimigos, mas fazer aliança com o PSL tem uma simbologia complicada. Ele tem sinalizado críticas ao bolsonarismo. É provável que algum segmento do PSL também comece a fazer restrições a ele", analisa o cientista social Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
A ambiguidade da situação obriga aliados a mudarem o discurso repentinamente. Recém-expulso do PSL depois de ter feito críticas a Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Frota dizia que sua candidata em São Paulo era Joice. Assim que se filiou ao PSDB a convite de Doria, passou a alardear apoio a Bruno Covas, mas chegou a falar, no programa Roda Viva, da TV Cultura, que poderia pensar em trazer a deputada para o ninho tucano se tivesse carta branca da Executiva Nacional da legenda.
Doria teria a possibilidade de apoiar Joice mesmo que ela não troque de partido, mas esta hipótese é malvista por interlocutores do governador. No círculo próximo a Bruno Covas, a avaliação é de que Doria e Joice possuem um "alinhamento muito grande", mas que o governador não tem alternativa a não ser apoiar de fato a reeleição do correligionário.
"Ele não teria nada a ganhar ao me trair. Eu sou o candidato dele", disse o prefeito a um interlocutor próximo recentemente. "No ano passado, essa questão da falta de palavra já pegou bastante para ele por conta da questão com o Alckmin e por ele ter abandonado a prefeitura mesmo depois de prometer na campanha que não o faria. As sondagens internas mostram isso, e ele sabe".
A ligação de Joice com Bolsonaro também representaria um risco para os planos do tucano. "Ajudar a Joice aqui em São Paulo seria loucura, como trazer um cavalo de Troia para dentro do nosso quintal", diz um tucano a par das articulações. "Quem garante que ela não serviria como um pivô para o Bolsonaro aqui, coisa que hoje ele não tem, para 2022? Para as pretensões do governador, esse seria o pior dos cenários."
Outro interlocutor de Doria lembra que Joice é inexperiente - o mandato de deputada é sua primeira experiência em cargo eletivo. Por este raciocínio, falhas de uma eventual gestão dela na prefeitura arranhariam a imagem dos caciques que lhe dessem apoio.
Entretanto, a gestão Bruno Covas também carece de uma marca positiva. "O que queremos de Doria é inaugurar os hospitais, as escolas, enfim, mostrar todo o trabalho feito em parceria [com o governo estadual]", declara um tucano de confiança do prefeito. "Ele não criou uma marca, mas pode se beneficiar porque está no centro (político). Então pode ser uma alternativa ao bolsonarismo e ao petismo ao mesmo tempo", analisa o professor Carvalho Teixeira.