Às 17h30 do dia 24 de outubro, Pizarro participava de uma manifestação. "A polícia, sem dar nenhum prévio aviso ou advertência, começou a reprimir o protesto. E começou um conflito, com gente atirando pedras", conta.
"Eu estava bastante distante dos 'carabineros' [policiais], a uns 50 metros. Em nenhum momento fui enfrentá-los diretamente, no meio dessa desordem, desse tumulto. Eu estava com um amigo", explica o jovem.
"A marcha se dispersou, tentando evitar o controle policial. Eu me perdi do meu amigo e aí senti um golpe no olho. Sendo sincero, imaginei que tivesse sido uma pedra, nunca imaginei que tivesse sido uma bala de chumbo", relata.
"Levei a mão ao rosto e elas ficaram ensanguentadas. A Cruz Vermelha estava prestando os primeiros socorros e veio me acudir, levando-me para longe da marcha, a um lugar mais seguro. Foram eles que me explicaram que eu tinha levado um tiro de chumbo no olho", diz.
Na marcha do dia 21, foi a vez de José Soto. "Começaram a disparar, e eu nem percebi", conta ele. "Senti uma golpe forte no nariz. Pensei que tivesse sido uma pedrada, porque eu estava perto de um caminhão dos bombeiros que estava sendo atacado com pedras", relembra.
"Sangrava muito. Fiquei assustado, sem saber o que tinha me acontecido. Procurei não desmaiar e seguir caminhando para pedir ajuda, porque eu estava sozinho. Consegui chegar às laterais do protesto e alguns paramédicos vieram me ajudaram. Eles jogaram água no meu rosto, colocaram uma venda e me levaram ao centro assistencial mais próximo."
Os três jovens fazem parte de um grupo que só aumenta no Chile: pessoas feridas nos olhos durante a forte repressão aos protestos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Direitos Humanos, já somam 160 os casos, dos quais em 26 houve dano aos dois olhos, com perda total da visão.