Quando eu tinha 15 anos, eu era da igreja. Minha avó era evangélica. A gente morava na Baixada da Sobral, um bairro periférico aqui. Minha avó não tinha dinheiro para me dar o que eu queria. Com 16 anos, eu dei um tiro em um jovem e fui para a prisão. Saí no dia 8 de agosto de 2002 e fui transferido para um presídio. Desde então, já saí e voltei para o presídio cinco vezes. A última vez em que eu fui preso foi em 2016. Saí em 2019.
Eu entrei no PCC em 2005. As facções eram escondidas. Ninguém falava sobre [elas]. Fui um dos gerentes gerais aqui no Acre do PCC. Pelo telefone, a gente mandava matar, executar, fazer tudo aquilo que o Diabo mandava fazer diariamente. A gente mandava matar porque não retornavam com a droga ou o dinheiro que eram da facção. O crime não tem dó sobre a vida dessas pessoas. Rapaz, eu não tenho uma soma, porque fiquei de 2005 a 2014 mandando executar pessoas, com meus parceiros. Mas, que eu me lembre, mandei matar 15 pessoas.
A gente conversava com todos os estados do país. Eu tinha acesso de conversar com as lideranças. Mas meu cargo mesmo era castigar. Castigava quem roubava a facção ou porque pegou mulher de preso. Sempre em vacilos... Quem batia na mãe ou no pai. Tem uma ordem que a gente tem que respeitar. Se mandasse executar ou roubar, se a ordem tivesse sido dada por mim, se não conseguissem executar, se ele não conseguisse aquilo dali, tem o tribunal do crime. Eu mesmo já tive que matar.
Mas matei só duas pessoas. Um que pegou uma droga nossa e que iam matar eu e minha esposa se eu não matasse o cara responsável. E, na outra situação, o cara comeu a minha mulher. Esse cara saiu da prisão junto comigo. Passamos três anos juntos na prisão. Ele passou cinco dias livre e eu o matei. Esse tipo de talarico, se a gente mata um cara desse, os caras da facção ficam feliz.
Eu tinha acesso com a Pantera Negra, que 'caiu' num assalto aqui em Cruzeiro do Sul (AC), com o Diamante Negro, que fica em Mato Grosso do Sul, que foi transferido junto com as lideranças para o sistema federal. O Marcola [Marco Willians Herbas Camacho, apontado como líder do PCC] dava ordem para o Marquinhos, de Mato Grosso do Sul, que fazia a ponte até a gente.
O CV [Comando Vermelho] chegou a invadir a minha casa em 2016, quando tava solto. Eu tava na área deles, me descobriram. Invadiram de madrugada, três caras. Mandaram duas mulheres para beber comigo, percebi que tinha algo errado. Trocamos tiros. Me colocaram numa cadeira etc. Ficaram me arrodeando. Dei um murro num cara, saí correndo, quebrando tudo. Pulei cerca, quintal. Saí na mão com vários. Comecei a gritar por socorro, todo mundo de madrugada. Chamaram a polícia e consegui escapar da morte.
Minha ex-mulher, mãe de um dos meus quatro filhos, também é do PCC. Fui eu que coloquei ela. Pedi para ela ir para o encontro com Deus depois, mas ela não quis me escutar. Ela não quis. Ela caiu na prisão com arma e 30 kg de maconha. Dentro do presídio, você tem colega, não tem amigo. Eu quero construir uma família, comprando os materiais do meu salão de cabeleireiro. Falta só uma máquina e uma tesoura. Eu estou na tornozeleira [eletrônica]. Eu tô no semiaberto ainda, mas vai acabar em julho de 2020.