A postura adotada pela babá de Henry Borel ao mudar novamente sua versão no primeiro dia de audiências sobre o assassinato do menino a colocou mais uma vez em evidência no caso.
Cabo eleitoral do ex-vereador Dr. Jairinho (sem partido) nas eleições municipais de 2016 e 2020 no Rio, Thayná de Oliveira Ferreira mora com a família em Bangu, bairro da zona oeste carioca onde fica o reduto eleitoral do político.
Mas os laços entre as famílias da babá e do homem que responde por homicídio triplamente qualificado são ainda mais profundos, expondo uma espécie de "conflito de interesse" no papel de Thayná como testemunha de um crime que chocou o país.
O nome da babá aparece na prestação de contas de Jairinho nas eleições de 2016 e 2020 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), recebendo ao todo R$ 1.575 por "prestação de serviços de panfletista", mesma função exercida pelo pai e noivo dela.
Um tio também chegou a atuar como assessor parlamentar do ex-vereador na Câmara Municipal do Rio —Jairinho teve o mandato cassado no final de junho após ser preso em abril juntamente com a mãe da criança, Monique de Medeiros, também acusada do crime.
A família de Thayná mora na zona oeste, reduto político de Jairinho e do seu pai, o Coronel Jairo, deputado estadual citado na CPI das Milícias, em 2008, por suposta ligação com o grupo criminoso Liga da Justiça.
Cerca de dois meses após distribuir "santinhos" e fazer o tradicional "corpo a corpo" com os eleitores na região, Thayná foi parar na casa de Jairinho por indicação da própria mãe, que ainda hoje é responsável pelos cuidados de um sobrinho do político.
"Ela falou que conhece a família há muitos anos e que trabalhou até nas campanhas do Jairinho. Mas não acredito que ela tenha sido coagida ou que isso tenha influenciado [na mudança de versão]. Ela disse só que começou a perceber na terapia que vinha sendo manipulada pela mãe do Henry", afirmou Priscila Guilherme Sena, advogada de Thayná.
Entre janeiro e março, a babá conviveu com Jairinho, Monique e Henry no apartamento do ex-vereador em um condomínio da Barra da Tijuca, onde a criança de 4 anos morreu.
Após a morte de Henry, a mãe de Thayná chegou a ficar afastada do serviço, mas foi chamada novamente para a casa da família.
"Eles [família de Jairinho] até chegaram a mandar a mãe de Thayná embora. Mas ela ficou afastada só por uma semana porque o menino é muito ligado a ela e começou a desenvolver um quadro de ansiedade. Aí, chamaram ela de volta", contou a defensora de Thayná.