Babá diz que mentiu a pedido de mãe de Henry e que presenciou 3 agressões
Thayná de Oliveira Ferreira, babá do menino Henry Borel, de 4 anos, morto no dia 8 de março, confessou ontem à polícia que mentiu no primeiro depoimento que concedeu a pedido da mãe do menino, a professora Monique Medeiros. A funcionária também explicou que mentiu no primeiro relato porque estava com medo de falar a verdade pois "já que, por ter visto o que Jairinho tinha feito contra uma criança, ficou com medo que algo também pudesse acontecer com ela".
Em mais de 12 horas de depoimento obtido pelo UOL, Thayná disse que sabia das agressões praticadas pelo médico e vereador Dr. Jairinho (sem partido) contra o enteado, como apontado pela polícia. Ela afirmou que desconfia de pelo menos três vezes que a criança poderia teria sido agredida pelo padrasto somente no mês de fevereiro.
A primeira teria acontecido no dia 2 de fevereiro, por volta das 06h, quando Monique havia saído de casa para praticar esportes e Henry estava no local com o padrasto. A criança estava no próprio quarto com a babá quando começou a chamar pela mãe e Jairinho foi ao local, chamou o menino de "mimado" e disse que queria conversar com ele no quarto do casal. Thayná contou que ambos ficaram no cômodo fechado por cerca de 30 minutos, mas a mulher não ouviu nenhum barulho.
Ao ser questionado pela funcionária sobre o que teria acontecido no quarto, o menino teria respondido que havia "esquecido". A funcionária teria relatado a situação para Monique que respondeu que iria procurar entender o que aconteceu. No mesmo dia, após o menino voltar da escola, a babá e ele foram até a brinquedoteca do condomínio, porém Henry não brincou porque disse estar com dor no joelho. A trabalhadora relatou que contou no mesmo dia para a professora sobre a dor do filho e Monique afirmou que ele poderia estar inventando.
A segunda situação foi no dia 12 de fevereiro, às 14h30, quando Jairinho chegou em casa uma hora após Monique sair para ir à academia e fazer as unhas. O parlamentar chamou a criança para ir ao quarto do casal e depois Thayná teria ouvido o menino falar "ô tia" e quando ela ouviu, foi até o local e encontrou a porta fechada e a televisão com alto volume. A mulher diz ter gritado por Henry e Jairinho e ninguém respondeu, então, ela pegou o celular e avisou Monique da situação — como mostrado pelos prints recuperados pela polícia (confira a íntegra das conversas).
Quando o menino saiu do cômodo, começou a relatar que estava as dores e a funcionária fez uma chamada de vídeo com Monique e Henry, que teria contado das agressões para a mãe. Jairinho retornou para a casa — ele havia saído após o menino sair do quarto — e disse, "visivelmente exaltado", questionando o menino: "você gosta de ver sua mãe triste com o tio?", "você mentiu pra sua mãe?". A criança ficou acuada e a babá decidiu descer para outra área comum do prédio com o menino. A professora chegou, deu uma volta de carro com a funcionária e o filho, que teria confirmado as agressões do padrasto.
O terceiro episódio teria acontecido na última semana de fevereiro, onde Jairinho chegou mais cedo em casa e a namorada estava na academia. O parlamentar chamou o menino para o quarto do casal mais uma vez e, depois de um tempo, Thayná bateu na porta, mas ninguém respondeu. Três minutos depois a porta foi aberta e a funcionária viu Henry intimidado e o garoto disse que caiu da cama. Na sequência, quando questionado, Jairinho disse que o menino não havia caído da cama.
Assim que Monique chegou em casa, a funcionária narrou a situação, reforçando que a criança estava com o braço machucado e com a cabeça doendo. A professora teria questionado o filho se era verdade, mas Thayná não ouviu a resposta pois estava indo embora do trabalho. Nos outros dias, a trabalhadora afirma não ter notado nada de anormal na casa.
Babá diz ter sido convencida a mentir
A babá explicou que teria sido convencida pela mãe de Henry a mentir no primeiro depoimento que deu à polícia no dia 24 de março. No entanto, ela afirmou que não recebeu nenhum tipo de compensação financeira para não falar a verdade, assim como, diz que não foi procurada por ninguém para ser orientada no novo relato.
Além disso, Thayná contou que alguns dias após da morte de Henry, recebeu uma ligação de Thalita Souza, irmã de Jairinho, pedindo para que a funcionária fosse na casa dela para ir até um escritório de advocacia no dia seguinte. Chegando no local, Thayná encontrou a empregada da casa, Rosângela de Souza Matos, e ambas teriam sido levadas por um motorista até o escritório do advogado André França Barreto.
No escritório, Rosângela Mattos teria falado com o advogado, enquanto Monique chamou Thayná para uma sala e pediu para a funcionária apagar logo todas as mensagens trocadas entre ambas e da trabalhadora com Jairinho. Monique ainda teria dito para que Thayná dissesse em depoimento que "nunca havia visto nada, que nunca havia ouvido nada e que era para apagar todas as mensagens". A funcionária ainda afirmou ser convencida pelo advogado a dar uma entrevista e induzida a falar coisas boas dos patrões.
Nos textos e imagens recuperados pela polícia, Thayná conta quase em tempo real as agressões que Henry vinha sofrendo, inclusive, com o envio de um vídeo que mostra o menino mancando. A filmagem foi feita em 12 de fevereiro, mesmo dia em que a funcionária narrou para a mãe do menino que o vereador havia se trancado com o enteado em um quarto do apartamento do casal, na Barra da Tijuca.
Ainda no depoimento, a funcionária disse que a empregada Rosângela, Thalita e a avó materna de Henry, Rosângela Medeiros, também tinham conhecimento das agressões que o menino sofria.
A trabalhadora ainda contou que era comum ouvir o casal brigando quase toda semana, sendo comum que "até que um dos dois estivesse com malas prontas, para 'sair de casa', porém, estranhamente, mesmo quando ouvia tons de voz mais exaltados no interior do quarto, quando o casal saía, tudo estava bem, já que saíam se beijando e se abraçando".
Mudança no novo depoimento
No primeiro depoimento, Thayná afirmou que não notou nenhuma anormalidade na relação entre Henry e o casal. Agora, na nova versão, a funcionária explicou que teria mentido porque estava com medo de falar a verdade.
"Na conversa entre a mãe e a babá, foi revelada uma rotina de violência. A própria babá fala que o Henry estava mancando [após supostamente levar chute nas pernas]. Quando a babá quis dar banho, ele não deixou que fosse lavada a cabeça porque estava com dores", analisou o delegado Henrique Damasceno, da 16ª DP, em entrevista coletiva na última semana.
Todavia, a babá omitiu o episódio e contou outra versão no primeiro depoimento à polícia. "Nós temos uma testemunha que tinha vínculo [com o casal], que visivelmente contou uma versão falsa. Esse é um dos indícios que demonstra claramente que havia interferência na investigação", disse o Damasceno, responsável pela investigação.
A advogada de defesa da funcionária, Priscila Sena, afirmou acreditar que a cliente disse tudo o que sabia nesse novo depoimento.
"Ela [Thayná] narrou toda a dinâmica dos fatos, explicou tudo 'direitinho'. O delegado tomou a termo só que eu acho que, enfim, ela disse tudo que tinha para dizer sem colocar nada que desabonasse a conduta dela. Ela fez o que deveria ter sido feito no momento que ela tinha que fazer. Ela diz que sim [que a Monique pediu para apagar as mensagens]", afirmou Sena ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
Ao ser questionada por que a professora teria solicitado para que a funcionária apagasse as mensagens, a advogada disse apenas que Thayná "não diz" a motivação do pedido.
Monique Medeiros e Jairinho foram presos temporariamente na última quinta-feira (8) pois, segundo investigadores, o pedido de prisão aconteceu pelo casal atrapalhar investigações e ameaçar testemunhas.
A mãe de Henry foi encaminhada ao Instituto Penal Ismael Sirieiro, em Niterói, e o vereador Jairinho foi levado para o presídio Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo de Gericinó. Os dois se queixaram de dores nos últimos dias e Monique foi internada na madrugada de ontem por suspeita de infecção urinária no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho de Castro, na zona oeste do Rio.
*Com colaboração de Beatriz Gomes, do UOL, em São Paulo
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