O ministro da Cidadania, Osmar Terra, e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), ligada ao ministério da Saúde, travam uma batalha por conta do 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira (Lnud), concluído em novembro de 2017 e até hoje sob embargo.
O estudo foi encomendado pelo Ministério da Justiça durante o governo Dilma (PT), ao custo de R$ 7 milhões, e entregue à gestão Temer (MDB), que se recusou a recebê-lo. Os questionamentos seguem sob Bolsonaro (PSL).
O governo afirma que a Fiocruz mudou a metodologia e impossibilitou, assim, a comparação com os dois levantamentos anteriores. A fundação diz que seguiu o que pedia o edital.
No meio acadêmico, especula-se outra razão para o descontentamento: o governo estaria pressionando a Fiocruz por conclusões mais alarmistas sobre o panorama de drogas como maconha, cocaína e crack no Brasil.
Declarações recentes do ministro da Cidadania - pasta criada por Bolsonaro e agora responsável por temas relacionados a drogas - reforçam essa tese.
Há duas semanas, em entrevista o jornal O Globo, Terra afirmou que "não confia no estudo da Fiocruz", nem vê "validade científica" nele. Ele diz que a instituição está "mobilizada a favor da liberação das drogas" e por isso não admite uma "epidemia de drogas no país".
A versão preliminar a que a reportagem teve acesso não nega, nem confirma isso.
A polêmica cruzou as fronteiras. Na Universidade Johns Hopkins, nos EUA, referência mundial em saúde pública, a pesquisadora Noa Krawczyk, israelense radicada nos Estados Unidos, saiu em defesa da Fiocruz neste relato para o UOL. Em um estudo sobre opiáceos no Brasil que realizou, ela utilizou dados e metodologia do estudo em questão - e diz que são confiáveis.
Os trechos sobre fundo negro são relatos de Noa. Em fundo branco, como este, são explicações da Redação.