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Achadas falhas em estudo que relacionou reposição hormonal ao câncer

16/01/2012 19h01

PARIS, 17 Jan 2012 (AFP) -Uma pesquisa revolucionária que estabeleceu vínculos entre o tratamento de reposição hormonal (TRH) para mulheres na menopausa e uma incidência maior de câncer de mama está repleto de falhas, segundo um novo estudo publicado nesta segunda-feira.

A pesquisa, denominada Estudo Um Milhão de Mulheres (Million Women Study ou MWS), ocupou as manchetes dos jornais quando foi publicada pela primeira vez em 2003.

Baseada em questionários respondidos por mais de um milhão de britânicas na pós-menopausa, o estudo destacou que a terapia de reposição hormonal (TRH) aumentava o risco de incidência de câncer de mama.

Suas estimativas causaram uma onda de ansiedade - e muita confusão - entre os reguladores, os médicos e as mulheres que usam a TRH.

O tratamento de reposição hormonal consiste no uso dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, às vezes combinados, para aliviar os sintomas da menopausa, tais como ondas de calor, perda do apetite sexual e secura vaginal.

Atualizações na pesquisa original refinaram os dados sobre o risco percebido. Segundo o site MWS, há um risco 30% maior de câncer em mulheres que fazem uso exclusivamente de estrogênio, duas vezes maior entre as que usam a terapia de estrogênio e progesterona, em comparação com mulheres que não fazem uso destes medicamentos.

O risco aumenta segundo o tempo em que a mulher faz uso do tratamento hormonal, mas cai para o nível normal no prazo de cinco anos após a interrupção do uso, destacou o MWS.

Mas uma avaliação publicada na edição desta segunda-feira do periódico Journal of Family Planning and Reproductive Health diz que o desenho do estudo MWS tem tantos problemas que uma conclusão segura não poderia derivar dele.

"A TRH pode ou não aumentar o risco de câncer de mama, mas a MWS não estabeleceu que o faça", determinou o artigo secamente.

Em meio à meia dúzia de tópicos, os autores afirmam que os cânceres detectados no prazo de alguns meses do início do estudo já estariam presentes quando as mulheres aderiram à pesquisa.

Mas esses casos não foram excluídos da contagem de incidências de câncer, destacou.

A revista também aponta para "uma detecção tendenciosa" através da escolha das participantes. As voluntárias integravam um programa de check-up das mamas quando foram convidadas a participar do estudo.

Por este motivo, elas já teriam conhecimento sobre nódulos mamários ou lesões suspeitas relacionadas com o câncer de mama. Como resultado, o MWS encontrou uma incidência 40% maior de câncer de mama entre as voluntárias - independentemente de terem feito uso ou não de terapia hormonal - em comparação com a população em geral.

O artigo também destacou que os cânceres de mama normalmente levam muitos anos para se desenvolver. Portanto, seria "biologicamente improvável" que tantos tenham aparecido no prazo de um ano ou dois em que as voluntárias participaram do estudo, como sustentou o MWS.

"O nome 'Estudo Um Milhão de Mulheres' sugere uma autoridade além da crítica ou refutação", dizem os autores, chefiados por Samuel Shapiro, professor de saúde pública da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

"Contudo, a validade de qualquer estudo depende da qualidade de seu desenho, execução, análise e interpretação. O tamanho por si só não garante que as descobertas são confiáveis", acrescentou.