Topo

Pãozinho tradicional do Paraguai entra na luta contra câncer de mama

Andrés Cristaldo Benítez/EFE
Imagem: Andrés Cristaldo Benítez/EFE

Mayra Rivarola

Em Assunção

26/10/2015 11h12

As "chiperas", populares vendedoras de chipa, o tradicional pãozinho de queijo paraguaio, oferecem esta semana em suas barraquinhas de Assunção uma nova modalidade, uma torta em forma de seio para estimular a detecção precoce do câncer de mama, que no Paraguai mata seis mulheres por semana.

A nova opção de chipa, que continua a ter como base a manteiga e o queijo, leva o sobrenome de "tití" (seio em guarani), e é o centro de uma campanha para incentivar o autoexame entre as mulheres paraguaias.

Quando uma mulher compra uma "chipa tití", as "chiperas" da rua Palma, uma das imagens mais típicas de Assunção, entregam junto um folheto que explica de maneira gráfica o método de autoexame dos seios, um dos elementos para a detecção de anomalias que poderiam indicar a presença de um câncer.

O original campanha é promovida pela Associação de Mulheres de Apoio Contra o Câncer de mama (AMACMA).

Hugo Ruiz, um dos criadores da agência Prana, que idealizou a campanha, disse à Agência Efe que escolheram como protagonista da campanha a chipa, um dos símbolos gastronômicos e culturais do país sul-americano, com o objetivo de transformar em hábito uma prática que pode salvar vidas.

A escolha também foi motivada pelas coincidências entre a elaboração da massa de chipa, feita manualmente, e o autoexame dos seios.

"O processo de sovar a chipa é bastante semelhante ao apalpamento que é preciso fazer, a partir daí desenvolvemos a ideia", disse.

O processo de autoexame pode ser visto em um vídeo explicado pela voluntária da AMACMA, Blanca Tonellotto, em que se vale do jopará, a coloquial mistura do guarani e do espanhol falada no Paraguai.

A desinformação sobre a doença, bastante curável quando o diagnóstico é precoce, e sobre os métodos de autoexame dos seios, são algumas das causas das elevadas taxas de mortalidade pela doença no Paraguai.

A isso é preciso acrescentar os tabus que rodeiam essa exploração dos seios, explicou Luz Gibbons, da AMACMA, que há 14 anos se submeteu a uma mastectomia e até hoje luta contra a doença.

"Vimos, ao compartilhar nossas experiências, que havia uma enorme falta de informação, ninguém sabia que tinha que se tocar e analisar, não queremos que o que aconteceu com a gente aconteça com outras pessoas", afirmou Gibbons, que faz parte desta associação desde seu surgimento, em 2008.

Em 2010, elas decidiram começar a fazer campanhas públicas e ensinar as mulheres um método de apalpação para a detecção precoce do câncer, explicou a fonte.

"Quando detectado precocemente há uma alta porcentagem de cura, mas sempre é preciso estar alerta porque em qualquer momento a doença pode voltar", explicou Gibbons.

Apesar dos altos índices de mortalidade, o governo paraguaio não fornece recursos às campanhas de informação, destacaram os membros da associação.

Associações como AMACMA dependem de iniciativas privadas para massificar as campanhas como a da "chipa tití", que foi recebida com entusiasmo pela população paraguaia.

"Assim como é uma tradição comer chipa, que também se torne uma tradição se apalpar e conhecer os próprios seios para detectar a tempo a doença", acrescentou Gibbons.

A campanha faz parte das comemorações do Outubro Rosa e do Dia Internacional de Luta Contra o Câncer de Mama, comemorado no dia 19 de outubro.