Brasil distribui média de 3,4 coquetéis para prevenir vírus da Aids por dia
Entre janeiro de 2011 e o fim de junho deste ano, uma média de 3,4 “coquetéis do dia seguinte” foi distribuída por dia a pessoas que fizeram sexo sem proteção no país e podem ter sido expostas ao vírus causador da Aids, de acordo com o Ministério da Saúde. Em São Paulo, Estado onde mais se recorre à medida drástica, a média é de 1,6 coquetel por dia.
Embora promova sucessivas campanhas para ressaltar a importância do uso de preservativo como principal forma de prevenir o vírus da Aids, desde outubro de 2010 o ministério oferece uma alternativa para quem tenha feito sexo sem camisinha (ou caso ela tenha se rompido). É um conjunto de medicamentos que não garante que a pessoa não seja infectada, mas reduz o risco de contrair o HIV.
O conjunto de drogas só faz efeito se começar a ser consumido no máximo em 72 horas após a relação - mas o ideal é que os primeiros medicamentos sejam ingeridos duas horas depois.
O tratamento se prolonga por 28 dias. Três medicamentos podem compor a combinação, que varia conforme as características do paciente. Em muitos casos, apenas dois são usados. Fabricados pelo governo, os remédios não são vendidos em farmácias comuns, devendo ser retirados em unidades de saúde.
O coquetel é distribuído desde 1997 a profissionais de saúde que atendem eventuais portadores do HIV. Depois passou a ser recomendado a vítimas de violência sexual. O terceiro grupo a ser atendido foi de casais sorodiscordantes (quando só um parceiro é infectado) que querem ter filhos. O último grupo é de quem praticou “exposição sexual ocasional”, como classifica o ministério.
No período analisado, São Paulo distribuiu 917 kits (48,6% do total). O segundo Estado onde mais se recorre ao coquetel é o Rio Grande do Sul, com 163 kits (8,6% do total), com uma média de 0,29 ao dia.
Segurança
Apesar do temor de que o coquetel se tornasse o principal meio de prevenção ao HIV, levando os parceiros a abandonar a camisinha, não foi isso que o ministério constatou após iniciar a distribuição para quem praticou sexo casual. “Não registramos casos de gente que tenha buscado o coquetel duas, três vezes. Sempre ressaltamos que os medicamentos são excepcionais, não garantem que o paciente não contraia o vírus e não dispensa o uso da camisinha”, diz Dirceu Greco, diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais da pasta. “Se alguém procurar os medicamentos várias vezes, será uma oportunidade de conscientizá-lo sobre a importância de se proteger de outra forma, com camisinha.”
Para receber o coquetel, o paciente deve ir aos Serviços de Atendimento Especializado ou a unidades que atendem situações de urgência. Antes de recomendar o tratamento, o médico avalia o risco a que o paciente se submeteu. Se ele praticou sexo anal, tem risco maior de contrair o vírus. Sexo oral é menos arriscado que o vaginal.
O francês Vincent, que prefere não divulgar o sobrenome, tinha 23 anos quando, em novembro de 2010, fez sexo com uma mulher que conheceu em um ônibus, após uma festa. “Ia de Ipanema para casa, em Copacabana (zona sul do Rio), e convenci a mulher a transar. Levei-a para casa, estávamos os dois bêbados e a camisinha se rompeu. O médico recomendou o coquetel, mas não disse que nas farmácias eu não o acharia. Em um posto de saúde, um funcionário disse que só distribuía a brasileiros, não a estrangeiros. Como precisava começar a usar em 72 horas, entrei em pânico e cheguei a recorrer até ao consulado. Consegui o remédio em um hospital público de Realengo (zona oeste), 48 horas depois da relação sexual.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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