Governo amplia indicação do uso de antirretroviral
O Ministério da Saúde vai ampliar a recomendação do uso de antirretrovirais para pessoas com HIV no país. A prescrição do remédio começará a ser feita em estágios menos avançados da doença. A decisão, tomada na semana passada pelo Consenso Terapêutico, prevê a indicação dos medicamentos para pacientes que apresentem exames de CD4 com resultado igual ou inferior a 500. Atualmente, o coquetel é recomendado quando o exame atinge níveis inferiores a 350.
Além disso, a partir de agora, soropositivos que tenham como parceiro uma pessoa sem HIV poderão começar a tomar os remédios independentemente dos resultados da carga viral. Essa estratégia já vinha sendo adotada por alguns especialistas. Agora, porém, a recomendação está mais clara.
A mudança deverá ampliar em 35 mil o número de pessoas no país com uso de antirretrovirais, avalia o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Atualmente, 217 mil pessoas estão em tratamento. “A mudança foi tomada depois de estudos demonstrarem a queda do risco de transmissão da doença quando o paciente inicia precocemente o uso de antirretrovirais”, afirmou Padilha. De acordo com ele, o Brasil será o terceiro país com distribuição gratuita de remédios a adotar essa estratégia. Atualmente, Argentina e Bolívia seguem protocolo semelhante. Padilha não acredita que a estratégia provoque abusos na indicação do remédio. “Os médicos saberão o momento certo de indicar. Antirretrovirais trazem efeitos colaterais. Estou convicto de que não haverá uso indiscriminado.”
O anúncio da mudança é feito num momento em que o programa de Aids do país se vê sob fogo cerrado. Semana passada, um manifesto de médicos, professores e integrantes de movimentos sociais começou a circular no país, com severas críticas à estratégia brasileira. O grupo cobra ações mais ousadas e novas estratégias para prevenção, sobretudo entre populações mais vulneráveis, como jovens gays.
Além do manifesto, ONGs agendaram para esta terça e quarta-feira protestos contra o retrocesso do programa de Aids. “Compartilho esses desafios”, afirmou Padilha ao Grupo Estado. Ele afirma ter três problemas que considera essenciais: reduzir o diagnóstico tardio da doença - algo que limita o sucesso do tratamento - e a diminuição de novas infecções entre grupos mais vulneráveis. “O outro problema, que é a interrupção na oferta de remédios, conseguimos resolver. Mas é preciso manter a vigilância”, afirmou.
Padilha apontou três estratégias para melhorar as condições do programa. Entre elas, o lançamento do 3 em 1 (tenofovir, 3 TC e efavirenz) e do 2 em 1 ( 3TC e efavirenz), combinações de drogas em um único medicamento. “Isso facilita a vida do paciente e reduz os custos.” A expectativa é de que a economia chegue a R$ 500 milhões em quatro anos.
Outras medidas serão a ampliação de testes para diagnóstico da doença e maior ofensiva nas campanhas de conscientização. Ele afirmou que 8 milhões de testes rápidos foram adquiridos e os recursos para campanha, ampliados de R$ 12 milhões para R$ 22 milhões este ano.
A abordagem nas campanhas publicitárias foi uma das grandes críticas feitas pelas ONGs, que acusam o governo de ter retirado duas ações desenvolvidas para jovens gays, por pressão de grupos religiosos. Algo que o ministro não admite. “A campanha foi veiculada, mas em locais restritos.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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