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Em São Paulo, fila para exames cai, mas espera por consultas e cirurgias cresce

Marcello Casal Jr./Arquivo/Agência Brasil
Imagem: Marcello Casal Jr./Arquivo/Agência Brasil

Bianca Gomes e Fabiana Cambricoli

São Paulo

26/12/2017 08h44

Com fortes dores na coluna e inchaço no corpo, a recepcionista Lilian de Andrade Trombim, 39, esperou 11 meses para ter agendada na rede municipal de saúde a tomografia na coluna que ajudaria a definir o seu diagnóstico. Foi finalmente atendida em fevereiro deste ano pelo programa Corujão da Saúde, iniciativa do prefeito João Doria (PSDB) em parceria com hospitais privados para zerar a fila de espera por exames na capital. A tomografia foi feita, mas Lilian ainda não sabe o que tem nem iniciou seu tratamento pois, até hoje, segue na lista de espera pela consulta com um reumatologista, médico que analisaria o resultado.

"Fiz o exame no Hospital Oswaldo Cruz, fui bem tratada, mas a consulta está demorando tanto que acho que terei de fazer o exame de novo porque esse nem vai valer mais", diz.

Quase um ano após assumir a Prefeitura de São Paulo, Doria reduziu pela metade o número de pessoas que aguardam um exame no SUS (Sistema Único de Saúde) da capital, mas não teve o mesmo desempenho no enfrentamento das filas por consultas de especialidades e cirurgias, que cresceram em comparação com as do último mês da gestão anterior.

Hoje, cerca de 845 mil pessoas ainda aguardam algum atendimento na fila da rede municipal. O número total é 25% menor do que o 1,13 milhão de procedimentos que estavam na lista em dezembro de 2016, mas a queda não é uniforme.

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Com o Corujão, iniciado em janeiro, o número de exames na fila caiu de 607 mil em dezembro de 2016 para 234 mil em novembro deste ano, último dado disponível. Já a lista de espera por consultas de especialidades cresceu, passando de 439 mil para 497 mil. Os pedidos de cirurgias na fila, que a partir de julho foram incluídos no Corujão (fase em curso), também aumentaram, de 91 mil para 113 mil.

A situação faz com que relatos como o de Lilian - de pessoas que saíram da fila dos exames, mas seguem na espera pela avaliação médica - sejam comuns. Mesmo com o exame feito desde fevereiro, a instrumentadora cirúrgica Márcia Schiavino, de 59 anos, não conseguiu ainda vaga com um pneumologista. "Me encaixaram no Corujão e achei que logo teria a consulta, mas não teve jeito. No posto, me falaram para aguardar." A solução para não ficar sem tratamento foi pagar uma consulta em uma clínica popular.

Para Walter Cintra Ferreira, coordenador do Curso de Especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), mutirões ajudam a aliviar o sistema, mas não são suficientes. "Ainda não conseguimos estruturar o SUS para dar conta de toda a demanda de consultas e outros procedimentos. A política de saúde não pode ser baseada em mutirões porque eles desafogam um nó crítico, mas logo aparecem outros."

A aposta da gestão municipal agora é de reduzir as filas de cirurgias com a nova etapa do Corujão (mais informações nesta pág.). Ao menos para o aposentado David Pacios Gonçalves, de 78 anos, o programa já teve um bom resultado. Ele esperava há mais de um ano por uma cirurgia de hérnia na virilha e foi atendido em setembro. "Meu pai sempre foi muito ativo e, com a hérnia, estava limitado. Agora voltou a fazer as atividades de forma independente", conta a analista de importação Silmara de Queiroz, 43.

Falta de médicos e listas paralelas

Em seu primeiro ano, Doria também enfrentou a falta de médicos. Em 2017, o número de profissionais caiu de 12.953 para 12.529. A promessa de campanha de contratar de imediato 800 médicos não foi cumprida. O motivo seria a falta de verba prevista para a medida. 

Questionado sobre o aumento das filas para exames e cirurgias, o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Wilson Pollara, afirmou que o problema se deve, principalmente, à descoberta de filas paralelas organizadas dentro de cada unidade e não reunidas em sistema único. "Havia um número de pessoas que aguardavam atendimento e que desconhecíamos. Agora estamos centralizando."

Disse ainda ser normal, mesmo com programas como o Corujão, haver filas na rede porque novos pedidos de exames, consultas e cirurgias entram no sistema todos os dias. "Eles podem estar na fila, mas isso não quer dizer que vão demorar meses para ser atendidos."

Sobre Lilian Trombim, a pasta disse ter agendado consulta com o reumatologista para 17 de janeiro e determinou a apuração dos motivos para a demora. Sobre Márcia Schiavino, afirmou que não havia pedido pendente na regulação, e que entrou em contato com ela para esclarecer eventuais falhas no atendimento/agendamento e para agendar a consulta para 24 de janeiro.

Sobre a promessa de 800 novos médicos, Pollara disse que as admissões não foram feitas por falta de verba. "Não teve orçamento, mas já fizemos a previsão orçamentária para 2018 e vamos contratar 600 até março." Também é estudado um programa de incentivo para médicos na periferia. "Estamos tentando criar um bônus, vantagens adicionais para que médicos possam trabalhar na periferia com a motivação de terem ganho adicional", disse o prefeito João Doria (PSDB).

Gestão anterior

Questionada sobre as declarações de Pollara, a gestão Fernando Haddad (PT) afirmou, por nota, que as "filas internas" dos hospitais para cirurgia ocorrem porque o paciente sai da fila geral para ser monitorado pelo hospital que o acolheu. Sobre a verba para contratar médicos, disse que fez dois concursos e deixou prontos "os trâmites necessários para convocar os aprovados".(*As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo"