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Caso do ABC não é de febre amarela urbana, diz coordenador de secretaria

Lígia Formenti

Em Brasília

06/02/2018 18h10

O coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, Marcos Boulos, descartou nesta terça-feira (6) a possibilidade de o caso de febre amarela confirmado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ser urbano. "Não há nenhum risco", afirmou.

Boulos argumentou que a forma urbana da doença, transmitida pela picada do Aedes aegypti infectado, geralmente ocorre com grandes explosões de casos.

"Na febre amarela urbana, não há infecções isoladas. Um paciente aqui, outro ali. Os casos vêm em grande quantidade. Isso já teria chamado a atenção", afirmou o coordenador, que também é professor de infectologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)

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Ele faz um paralelo com a dengue, também transmitida por Aedes aegypti. "Quando os surtos de dengue acontecem, eles vêm sempre em grande número de casos."

O caso de febre amarela de São Bernardo foi confirmado nesta segunda-feira (5). Trata-se de um homem de 35 anos que não saiu de São Bernardo e, justamente por isso, o caso é considerado autóctone - a infecção aconteceu na própria cidade. Outras duas ocorrências estão em investigação.

A confirmação despertou a suspeita de a forma urbana da doença ter retornado ao País, já que nenhum macaco infectado pela doença foi encontrado morto na região --que está incluída na campanha de vacinação contra a febre amarela com a distribuição de doses fracionadas à comunidade local. 

Em nota, o Ministério da Saúde informou que o caso de São Bernardo do Campo está sendo investigado. Além da análise do histórico do paciente, serão capturados mosquitos para identificar a forma de transmissão na região. "Deve ser observado que o paciente mora na região urbana, e possivelmente trabalha na área rural. Qualquer afirmação antes da conclusão do trabalho é precipitada."

Desde 1942, como destaca o Ministério da Saúde, todos os casos de febre amarela registrados no Brasil são silvestres, ou seja, a doença tem sido transmitida por vetores que existem em ambientes de mata (mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes). 

Checagem

Para afastar essa hipótese, além de citar o número restrito de casos, Boulos argumenta que são realizadas com frequência pesquisas em amostras de insetos capturados nas redondezas de casas onde vivem pacientes com suspeita de febre amarela.

Uma vez identificado e feita uma investigação clínica do caso, equipes da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) entram em campo. Capturam insetos, maceram tanto Aedes quanto Haemagogus (que transmite a forma silvestre da doença) em busca do vírus da febre amarela.

"Esse é um trabalho que é feito sem parar", disse. Em nenhuma análise, afirmou, foi encontrado Aedes aegypti infectado pelo vírus da febre amarela.

O Ministério da Saúde afirma que a "probabilidade da transmissão urbana no Brasil é baixíssima" e cita uma série de fatores que justificam a afirmação: "todas as investigações dos casos conduzidas até o momento indicam exposição a áreas de matas; em todos os locais onde ocorreram casos humanos, também ocorreram casos em macacos; todas as ações de vigilância entomológica, com capturas de vetores urbanos e silvestres, não encontraram presença do vírus em mosquitos do gênero Aedes; já há um programa nacionalmente estabelecido de controle do Aedes aegypti em função de outras arboviroses (dengue, zika, chikungunya), que consegue manter níveis de infestação abaixo daquilo que os estudos consideram necessário para sustentar uma transmissão urbana de febre amarela."