Investir no autoconhecimento é abrir as portas para a evolução pessoal; veja como chegar lá
Os tempos modernos trouxeram alguns termos para a ordem do dia, como qualidade de vida, sustentabilidade e autoconhecimento. Esta última palavrinha reflete a intenção do homem de buscar, no seu interior, respostas e entendimentos para várias questões de si mesmo e da vida – e, dessa forma, evoluir.
O processo é mais do que válido, na opinião de médicos e terapeutas. “Quem conhece a si mesmo tende a valorizar mais a própria vida e fortalecer sua autoestima. Consequentemente, fica mais confiante e estável emocionalmente”, acredita Juliana Bento, psicóloga da Clínica de Especialidades Integrada, em São Paulo. O crescimento pessoal permite, ainda, que se tenha mais consciência em relação às vivências e, nesse aspecto, a pessoa se frustra menos e se torna pouco vulnerável e sujeita a manipulações.
Mas, atenção: é preciso buscar conhecer não apenas nossas qualidades, para que possamos valorizá-las e desenvolvê-las, como também nossos defeitos. Assim, será possível avaliar o que incomoda e precisa ser alterado ou transformado.
“É essencial encarar limitações, medos, inseguranças. Saber a respeito de si mesmo ajuda a superar dificuldades. E, mais que isso, favorece a tomada de decisões, sejam afetivas, profissionais ou até de questões simples como planejar uma viagem, decidir o que fazer no fim de semana, que livro ler”, salienta Cynthia Boscovich, psicóloga clínica e psicanalista.
O mundo de hoje, ela explica, requer que façamos escolhas o tempo todo e muito rapidamente. A própria globalização e a forma como as mudanças ocorrem leva a isso. “Quem não está preparado, sofre com ansiedade, angústia e até depressão.”
Coragem bem-vinda
É fato: se você se conhece, tem maior controle sobre suas ações e emoções. O resultado disso é mais equilíbrio e tranquilidade no cotidiano, o que traz benefícios em todos os sentidos – na vida pessoal e profissional, no convívio em sociedade. Mas investir no autoconhecimento exige disponibilidade para enfrentar tal processo, o que nem sempre é fácil.
“Às vezes, é penoso descobrir suas fraquezas, superar seus medos, desvendar seus defeitos. Aceitar o que é mais íntimo e, propositalmente, está ali esquecido, escondido”, reflete Marcella de Carvalho Almeida, com especialização em psicologia clínica e hospitalar, que atende profissionais de saúde do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital do Servidor Público, também em São Paulo.
Juliana Bento concorda. “O caminho para a busca interior tem seu início no estudo da experiência humana e na ânsia por conhecimento. Essa ‘pesquisa’, no entanto, deve ser feita sem preconceitos ou limitações. É preciso abrir os olhos para se enxergar, reconhecer o que gosta e não gosta, e o que pretende mudar ou desenvolver em si próprio.” Veja, agora, dicas para chegar lá.
O que fazer para se conhecer melhor
O autoconhecimento exige uma autoavaliação. Você precisa se voltar para si mesmo e perceber suas qualidades, seus defeitos, seus limites; o que o perturba, o que liga seu sinal de alerta, o que o deixa inseguro. Enfim, abrir as portas para fazer todas as perguntas possíveis e encarar todas as respostas |
Caso sinta necessidade, vale recorrer a uma psicoterapia individual ou em grupo. “O processo analítico auxilia muito, pois permite perceber muito a respeito de si mesmo – o que talvez fosse mais demorado ou até impossível em uma tentativa solitária. A psicoterapia possibilita discutir as diversas situações da vida e relacioná-las à história pregressa de cada um, assim como planejar o futuro”, diz Cynthia Boscovich |
Há diversos livros que facilitam abrir esse universo interno. Conversar com pessoas que, você acredita, estão no caminho certo, pode ser ótimo para obter dicas variadas, inclusive de que leituras priorizar |
É possível fazer alguns exercícios para se ‘explorar’ melhor. “Pontuar suas características positivas, procurando desenvolvê-las, e também as negativas, para modificá-las, pode ser um bom começo”, sugere Juliana Bento |
Integrar grupos de estudo focados no assunto também pode ser de grande valia. “Idem para iniciativas como meditação, ioga. Afinal, o autoconhecimento é fruto da introspecção”, considera Marcella de Carvalho Almeida |
Qualquer experiência vivida pode ser enriquecedora e promover a autoanálise. Mas, para isso, é preciso estar com as antenas ligadas e receptivas. “Não importa o que a pessoa esteja fazendo: lendo um livro, praticando uma atividade física, encarando uma aventura radical: em toda situação, é possível crescer. Nas viagens, na paternidade e na maternidade, nos relacionamentos amorosos, frente a doenças, dores, angústias. Em resumo, em tudo que tiver relação com a vida”, atesta Cynthia Boscovich |
Vale, ainda, se observar com verdade no dia a dia. Perceber sua atuação e seus sentimentos nas pequenas coisas, fuçando dentro de si mesmo e perscrutando cada detalhe de sua personalidade |
Não importa o que uma pessoa faça: ler um livro, praticar uma atividade física, encarar uma aventura radical; em toda situação é possível crescer
O que o autoconhecimento traz
Controle sobre as emoções. A pessoa entende o que está sentindo, por que teve aquela reação, o que tal comportamento lhe trará de resultados |
Segurança. “A partir do momento em que compreendo a mim mesmo, sinto-me mais seguro diante de qualquer situação”, diz Juliana Bento |
Independência. O indivíduo que reconhece suas habilidades e fraquezas sabe se defender melhor. E, em algumas situações, fica imune à opinião alheia e não se deixa manipular. “Como consequência, frustra-se menos e não depende da aprovação do outro para tomar decisões”, reforça Bento. Insegurança, perfeccionismo e competitividade, na opinião da psicóloga, estão relacionados à distância de si mesmo. “Quem tem dificuldade para identificar suas qualidades, vacila antes de escolher que caminho trilhar, não se acha capaz de realizar tarefas complexas e prioriza a aprovação das pessoas em tudo o que faz” |
Possibilidade de fazer boas escolhas. Quem se conhece profundamente e controla seus sentimentos e suas atitudes, tem competência para realizar grandes conquistas |
Autoestima. Da mesma forma que admite seus pontos negativos, quem investe no autoconhecimento também se conscientiza do que carrega de positivo |
Tolerância e consideração às diferenças. A autoanálise leva à compreensão da diversidade e pluralidade humana – e, dessa forma, o indivíduo se torna mais condescendente em relação a amigos, familiares, colegas de trabalho. “Certamente, a pessoa adquire uma visão mais abrangente e generosa do mundo”, diz Marcella de Carvalho Almeida |
Respeito aos próprios limites. Fica mais fácil saber até onde ir, acreditando em sua capacidade sem ultrapassar o que lhe é inaceitável em um relacionamento, por exemplo. “O sujeito se sente menos frágil e mais forte para lidar com suas particularidades”, diz Almeida |
Postura positiva e otimismo. Sem dúvida, a autoconfiança vem a reboque do autoconhecimento. E, se a pessoa está bem consigo mesma, demonstra isso para os outros e o mundo por meio de suas atitudes positivas, sua satisfação própria, seu bem-estar geral. “Há mais paz, serenidade e alegria”, diz Almeida |
Predisposição para mudar e evoluir. Quem está disposto a se encarar com verdade tem mais chance de não desculpar os próprios erros, e sim aprender com eles. A partir daí, busca as razões do tropeço, tenta decifrar os sentimentos que estavam por trás dele, deixa que a dor ensine |
Qualidade de vida. “Saber trabalhar defeitos e qualidades é uma vantagem, pois criamos uma barreira que nos afasta do que não nos faz bem. E, assim, conseguimos levar a vida com mais leveza e felicidade”, finaliza a psicóloga do Instituto do Coração |
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