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Pé direito no outono: saiba como recuperar o corpo dos possíveis "estragos" do verão

Exposição exagerada ao sol pode trazer problemas ao corpo - Getty Images
Exposição exagerada ao sol pode trazer problemas ao corpo Imagem: Getty Images

Maria Rita Fava

Do UOL, em São Paulo

29/03/2013 07h00

Com o fim do verão, é comum dar aquela relaxada em relação à alimentação e a exercícios físicos superpraticados durante a estação quente, época mais propícia à exposição do corpo. A presença do sol e até o horário de verão, quando escurece mais tarde, influenciam de forma positiva o comportamento das pessoas, que dão prioridade à alimentação mais balanceada e à prática de atividades físicas.

Por outro lado, há quem tenha cometido excessos, como ficar torrando sob o sol, exercitar-se mais do que deveria, abusar dos doces... Calma, há como recuperar os estragos e entrar na nova estação zerado. Alguns especialistas indicam como:

Alimentação

É muito importante saber que, mesmo com a leve queda de temperatura que acompanha a chegada do outono, o organismo precisa continuar sendo igualmente hidratado, e a dica é não interromper as atividades físicas de maneira brusca. Segundo o endocrinologista e nutrólogo João Cesar Castro Soares, da Escola Paulista de Medicina, a dieta típica do verão, com saladas e frutas frescas, é válida o ano todo.


"Agora que a tendência é esfriar, eu indico introduzir as sopas, principalmente à noite, e as frutas secas no cardápio." O especialista também alerta para o cuidado com a imunidade, sugerindo a ingestão de alimentos ricos em vitaminas do complexo C, para prevenir gripes e viroses típicas da meia estação. "O suco de laranja é um grande aliado neste momento. O potássio também pode ser reforçado com a ingestão de banana, por exemplo, para evitar as cãibras."

Os raios solares nesta fase do ano são menos nocivos à pele, desde que a exposição seja feita com cautela (preferencialmente até as 10h e após as 16h) e com o uso de protetor. "Com a tendência aos dias mais nublados, o corpo acaba carecendo mais de vitamina D, cuja produção é desencadeada pela exposição ao sol."

A falta dela no organismo prejudica a fixação do cálcio, fator que pode levar ao desenvolvimento da osteoporose. O ideal para um adulto saudável é consumir aproximadamente cinco microgramas de vitamina D todos os dias, que pode ser feita pela ingestão de leite, queijos, atum, sardinha, gema de ovo, cogumelos e bife de fígado.

O médico alerta também para a quantidade de sal e gorduras nos alimentos típicos da Páscoa. O bacalhau é um alimento rico em sódio (sal) e está entre os mais consumidos hoje, feriado de Sexta-Feira Santa. "Cuide bem para tirar o máximo de sal deste peixe, para evitar inchaços e a sede excessiva após o almoço", explica.

Pele

De acordo com a dermatologista Solange Pistori Teixeira, da Unifesp, nesta época do ano as queixas mais comuns em seu consultório são relacionadas às manchas na pele, que podem ter aparecido por diversos fatores. Entre as mais recorrentes, está a "mancha de limão" (fitofotodermatites), que, segundo a médica, podem ocorrer em diversos níveis de gravidade. "É muito comum a pessoa chegar e dizer que nem ao menos tocou em um limão nos últimos meses, mas, só de ficar perto de alguém que espremeu a fruta, rica em uma substância reativa que induz às lesões cutâneas, as pequenas gotas já podem causar manchas", explica. Quando na fase aguda, com o surgimento de bolhas, o uso de pomadas com corticoide é o tratamento indicado.

Em casos mais amenos, quando a mancha está rosada ou até amarronzada, são usados clareadores e hidratantes que, entre um e dois meses, ajudam no desaparecimento da lesão. "O importante depois do verão é fazer um check-up dermatológico completo", adverte Solange. São muitos os tipos de pintas que aparecem na pele e que podem evoluir para um melanoma, o agressivo câncer de pele. "Qualquer alteração em pintas já existentes, como o avermelhamento e crescimento delas, ou o surgimento de novas pequenas manchas, deve ser investigado."

Em relação aos melasmas, uma doença crônica e recorrente, cujas principais causas são a exposição ao sol e fatores genéticos, muitas pessoas praticamente entram em desespero após o período de férias de verão. "Elas alegam que usaram e ainda usam filtro solar, mas mesmo assim esse tipo de mancha pode aparecer. Há dois tipos de radiação solar mais estudadas, a A e a B. A maioria dos filtros encontrados têm fatores FPS que são eficazes apenas com os raios UVB", explica a médica.

"O segredo é usar produtos protetores de amplo espectro e boa qualidade, com a indicação de que ao menos 1/3 do FPS proteja a pele também dos raios UVA, o mais nocivo e que penetra mais fundo nas camadas da pele", ensina Solange. Existem tratamentos eficazes para o melasma, como peelings, ácidos, clareadores e até o uso do laser. "É importante proteger essas manchas não apenas do sol, mas das luzes visíveis. Uma maneira fácil de fazer isso é usar filtro solar com base, que 'camufla' o melasma impedindo a penetração dessas luzes."

Já para quem notou o surgimento de sardas, existe, além do tratamento com ácidos clareadores, o uso da luz intensa pulsada, que é mais "inteligente" do que o peeling. "O peeling descama a pele por igual, enquanto a luz pulsada age exatamente nas sardas, conseguindo uniformizar a coloração", afirma a especialista.

Após meses de sol intenso, a pele ressecada fica mais sujeita a alergias, irritações e acúmulo de sujeiras. A dica é não usar sabonete em excesso, dando preferência aos produtos com efeito hidratante. Quanto aos cremes, prefira um hidratante duas vezes ao dia, de preferência após o banho, para a melhor absorção das propriedades pela pele recém-lavada.

Se você pegou pesado no bronzeador artificial, o efeito terracota (laranja) pode ser melhorado com compressas de água sobre os locais afetados, além de cremes e pomadas à base de corticoides prescritos por um médico. "É um tipo de coloração fácil de sair, já que o bronzeamento artificial penetra apenas em uma camada da derme. Em uma semana de tratamento, com o uso de esfoliantes e muito creme hidratante, já é possível ver a diferença", explica Solange.

Se surgirem bolhas na pele, a médica sugere tratamento com corticóides e, depois de rompidas, evitar a retirada total da pele "morta", que funciona como um curativo biológico para a carne viva exposta.

Os lábios também merecem atenção. Após o verão, para a recuperação da pele labial, a médica indica protetor solar diário do tipo bastão e, em casos de descamação, o uso da pomada Bepantol à noite. "Para os lábios valem esses mesmos cuidados, se esfriar repentinamente. Eles são sensíveis e ressecam facilmente", reforça.

Fora as pintas, a pele irritada do sol e as bolhas, durante o verão, as micoses podem aparecer (e durar) em regiões como a virilha, por conta do uso de roupa de praia molhada e do suor. "Na pele, uma das mais famosas é o 'pano branco', que são manchinhas causadas por fungos, tratadas com medicação local e até mesmo oral, sempre com orientação de seu médico", diz Solange.

E, como depois de tanto sol na cabeça, água com cloro e salgada, não há cabelo que resista, vale investir na hidratação. "Além de hidratações profundas feitas em salões de beleza profissionais, há ainda os tratamentos restauradores e minha indicação é o uso de shampoo com filtro solar durante todo o ano", finaliza a dermatologista.

Corpo

Para o professor doutor José Alberto Aguilar Cortez, do Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), o lado bom do verão é a adesão a um comportamento mais ativo com saldos positivos para a saúde e a qualidade de vida. No entanto, os excessos podem provocar lesões que exigem tempo de recuperação e comprometimento das metas estabelecidas.

"Para não interromper o programa de exercícios e não agravar os problemas que apareceram com a prática sem orientação, o ideal é procurar um especialista em prescrição de exercícios físicos para individualizar procedimentos e evitar a perda de tudo o que foi conquistado durante o verão", sugere. Conforme o problema e o sintoma, vale buscar alguém especializado em medicina do esporte para um diagnóstico que, certamente, facilitará o trabalho do professor de educação física na individualização do treinamento.

"No outro extremo encontramos as pessoas que aproveitaram a estação mais quente do ano para viajar e curtir momentos de ócio nas praias. Consequências como aumento do peso corporal e problemas posturais viajam com a bagagem na volta para a rotina de trabalho", ressalta o professor.

Para quem caiu nesta cilada, a conduta é a mesma: passar por avaliação diagnóstica e depois, com o relatório do médico em mãos, buscar orientação especializada para iniciar, ou reiniciar, a prática de exercícios ou esportes. "Se as medidas ideais não podem ser cogitadas num primeiro momento, aconselhamos a adoção de hábitos que não agravem os problemas que surgiram com os excessos ou com o sedentarismo exagerado."