Após 60 dias, cartório registra filho de norte-americanos nascido no Brasil
Após dois meses, um cartório de Florianópolis emitiu, nesta sexta-feira (17), a certidão de nascimento do bebê que nasceu prematuro enquanto os pais, um casal dos Estados Unidos, estavam visitando o Brasil.
O que aconteceu
Funcionários do cartório foram até o apartamento da família para entregar a certidão de nascimento. "Eles vieram ao local onde estamos hospedados e entregaram o documento, nem pediram desculpas pelo transtorno", contou Christopher Phillips, 44, pai de Greyson, que tem pouco mais de dois meses.
Certidão foi emitida com apenas três documentos. "Os mesmos documentos que levamos nove semanas atrás. Certidão de nascimento, os nossos passaportes e um papel atestando os nomes dos nossos pais", explicou Christopher.
Família agora aguarda passaporte dos Estados Unidos para poder embarcar para casa, em Minnesota. Na quinta-feira (16), a Embaixada norte-americana informou que emitirá a documentação necessária. "Eles não deram um prazo, disseram que vão nos dar os documentos americanos", contou.
Christopher Phillips acredita que repercussão na imprensa nacional e internacional acelerou trâmite. "Hoje, mais ou menos 48 horas depois da primeira reportagem que saiu no Brasil sobre nossa situação, o cartório enfim emitiu a certidão de nascimento do Greyson", disse, em tom aliviado.
Casal acredita que conseguirá resolver todos os trâmites para deixar o Brasil em junho.
Entenda o caso
Christopher Phillips, e Cheri Phillips, 36, estavam visitando o Brasil quando a mulher deu à luz com menos de seis meses de gravidez. Os pais esbarram em burocracias para emitir a certidão de nascimento da criança. Sem o documento, eles não poderiam embarcar para casa.
Eles chegaram ao Brasil em fevereiro deste ano. Christopher é fotógrafo e produtor de vídeos, e tem uma filha brasileira de oito anos. Ele contou que sempre vem a Florianópolis visitar a criança três vezes no ano. "A minha filha mora com a mãe dela [brasileira] aqui no Brasil", afirmou o pai, que conversou por ligação com o UOL.
Ele diz que a viagem da esposa foi autorizada por uma equipe médica dos Estados Unidos. "O médico falou que estava tudo bem, ela não tinha nenhum problema na gravidez, estava tudo ótimo. Por isso, foi liberada para viajar, disseram até que seria bom para ela descansar porque os próximos meses seriam mais difíceis".
O parto estava previsto para 2 de junho. A passagem de volta aos Estados Unidos estava marcada para 10 de março. Três dias antes de embarcar para casa, Cheri começou a sentir dores na barriga. O casal pensou que seriam contrações normais, mas o desconforto só aumentou.
Cheri foi internada em 8 de março. "Ela acordou às 4h da manhã e disse 'estou sangrando, a gente tem que ir para um hospital'. Eu levei ela no primeiro hospital público que encontrei, no centro de Florianópolis". De lá, eles foram transferidos para uma unidade de saúde particular, com especialidade em maternidade.
Durante quatro dias, os médicos tentaram atrasar o parto. Apesar dos esforços, em 12 de março, Cheri precisou fazer uma cesárea de emergência, com apenas 28 semanas de gestação.
O pequeno Greyson nasceu com 1,2 kg e precisou ficar internado na UTI por 51 dias. Os médicos precisavam ressuscitá-lo. "Foi um período difícil porque a minha esposa dependia de mim para tudo, ela não falava uma palavra em português e não conseguia se comunicar no hospital. Falo português por causa da minha primeira filha, por isso, para mim era um pouco mais fácil".
De alívio ao pesadelo
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Quero receberApós a alta do bebê, o que seria o momento de alívio e felicidade se tornou um verdadeiro pesadelo. Desde o fim de abril, a família tenta retornar para casa, nos Estados Unidos, mas esbarra em burocracias e na falta de agilidade da Justiça brasileira. "Só vamos comemorar quando a gente conseguir chegar na nossa casa", diz o pai.
Dois cartórios de Florianópolis se negaram a emitir a certidão de nascimento da criança. O caso foi parar no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. "Há um mês, a gente contratou uma advogada para nos ajudar a conseguir a documentação. Entramos com um processo, mas o caso não anda, é desesperador, a gente só quer voltar para a nossa casa com o nosso filho", lamentou Chris.
A justificativa dos cartórios é de que os passaportes dos pais não têm a filiação deles. "Eles disseram que nosso passaporte deveria ter os nomes dos nossos pais, mas nos Estados Unidos não funciona assim, ninguém liga para isso. Eu pedi a um tio para enviar outros documentos, como certidão de nascimento, de casamento. Falei com uma tradutora oficial, mas mesmo assim, nosso pedido foi negado. Precisamos de um carimbo internacional, chamado selo de apostila, que valide nossa documentação".
Chris e Cheri têm se dividido entre os cuidados do bebê prematuro e a resolução do caso. Hoje, o filho está com 2,5 kg e ainda requer cuidados especiais com a sua saúde. "Ele é bem fofo, mas pequeno ainda".
Família dos pais criou uma vaquinha para ajudar nos custos. Além dos custos com a saúde do bebê, eles tiveram que comprar roupas, carrinho e parte do enxoval, além de pagar por um novo aluguel do apartamento em que vivem. O casal diz que as contas que não param de chegar nos EUA.
Os pais de Greyson pediram ajuda à Embaixada dos EUA no Brasil. Eles só tiveram retorno na última semana. Inicialmente, a solicitação era de que eles fossem a um consulado no Brasil. Porém, o mais perto é em Porto Alegre, mas devido às enchentes que atingem a região a viagem não é possível de ser feita. Os outros consulados também não são viáveis por causa da distância. "A gente não pode viajar para São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e as demais cidades. O Greyson é muito pequeno, ele nem cabe em um bebê conforto, tem problemas de saúde, não tem todas as vacinas e não seria seguro. Teria risco de infecção", lamentou.
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