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Pais compartilham receio e críticas contra a vacina do HPV no Facebook

Cartaz da campanha nacional de vacinação contra o HPV, que começou a ser veiculada no dia 8 - Divulgação
Cartaz da campanha nacional de vacinação contra o HPV, que começou a ser veiculada no dia 8 Imagem: Divulgação

Cármen Guaresemin e Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

16/03/2014 06h00Atualizada em 22/04/2015 17h47

A campanha do Ministério da Saúde de vacinação do HPV no país começou nesta segunda-feira (10), em postos de saúde e escolas, para meninas de 11 a 13 anos. Até 2016 serão incluídas também as de 9 e 10 anos. Sexualmente transmissível, o HPV pode provocar verrugas genitais ou lesões e é a principal causa do câncer do colo de útero - o terceiro tipo de tumor maligno mais frequente entre as brasileiras (atrás apenas do câncer de mama e de cólon e reto. A razão de imunizar uma população tão jovem é que a eficácia é maior quando o contato com o vírus ainda não aconteceu, ou seja, antes do início da vida sexual. Embora médicos e governo defendam a imunização, há quem não a recomende.

Para que as garotas sejam vacinadas nas escolas, é preciso que os pais assinem um termo de autorização. E, apesar de ainda ser muito cedo para ter uma ideia da adesão, relatos em redes sociais mostram que muitas famílias têm optado por não vacinar as garotas. Os argumentos envolvem questões pessoais e religiosas, uma vez que a imunização traz à tona o tema do sexo e, na opinião de alguns, pode fazer as jovens negligenciarem o uso de camisinha pela ideia de proteção que a campanha passa.

Mas também há pais preocupados com possíveis efeitos colaterais da vacina - pessoas que questionam até que ponto vale a pena correr algum risco, ainda que ínfimo, se, em boa parte dos casos, o próprio corpo combate o HPV sozinho, e, mesmo quando as lesões ocorrem, exames de rotina e tratamento adequado dão conta do problema. 

Já existe até um perfil criado no Facebook com o nome Sou Contra a Vacina do HPV”. Os posts reúnem, além de opiniões e relatos de pais (e inclusive de profissionais de saúde), estudos publicados em periódicos científicos de renome sobre alguns casos - raros, é bom ressaltar - de doenças graves possivelmente deflagradas pela vacina. 

A maranhense Isma de Sousa, que vive atualmente na Suécia, diz que criou a página porque viu muitas amigas brasileiras escrevendo sobre a chegada da vacina de forma positiva nas redes sociais. “Ao fazer a procura de algum grupo que levantasse os efeitos negativos não achei nenhum, assim decidi criar um. Há muitos anos minha enfermeira obstetra me desaconselhou a tomar a vacina. Agora, com o assunto voltando, procurei estudos com vantagens e desvantagens e cheguei à conclusão de que não é uma vacina justa para quem toma”, diz a administradora do perfil, que é formada em ciências da enfermagem e engenharia elétrica.

Isma diz que ficou imaginando que as amigas precisavam "acordar" para os possíveis efeitos colaterais, além de saber dos limites da vacina, que protege apenas contra quatro tipos de HPV. “Senti o desejo de fazer com que cada pessoa fosse um pouco mais crítica e cuidadosa."

A dona de casa Aline Silva, de Belo Horizonte, mãe de duas meninas e uma das participantes do grupo, diz que vem pesquisando sobre a vacina há bastante tempo. “Li alguns artigos dizendo que ela não é 100% eficaz na prevenção do câncer de colo do útero e, além disso, os efeitos colaterais em algumas mulheres e meninas são devastadores, podendo até causar a morte” diz ela, citando um caso ocorrido na Inglaterra. Trata-se de uma menina de 14 anos, de Coventry, que morreu duas horas após a aplicação. Alguns dias depois, os médicos descobriram que a causa da morte havia sido um grave tumor - até então desconhecido - que afetava seu coração e pulmões. Segundo as autoridades, ela teria morrido mesmo se não tomasse a vacina.

Aline conta que pessoas da escola onde a filha mais velha estuda, ao saberem que ela não iria autorizar a vacinação, a procuraram. “Eu perguntei se haviam visto matérias na web sobre os efeitos e elas falaram que não. Ou seja, nem o pessoal da área da educação sabe ao certo os efeitos. Umas pessoas até me chamaram de ignorante, mas se acontecer algo com minha filha, eu serei responsável”, relata.

Para a mineira, que se diz cristã, também pesa o temor de estimular as filhas a iniciar a vida sexual antes da hora. "Eu as ensino que o sexo só deve acontecer após o casamento. Então, se eu permitir que sejam vacinadas pensando numa vida sexualmente ativa antes do casamento, eu estaria indo totalmente contra aquilo que creio e vivo”. Questionada sobre a possibilidade de os futuros maridos das filhas terem o vírus, ela responde com o argumento de que ela própria pode vir a ter a doença. “O futuro a Deus pertence. Não acredito na bondade deste governo, distribuindo uma vacina tão cara. Nada é de graça nesta vida”.

Filha alérgica

A também dona de casa Elisângela da Silva Vicente, 35 anos, moradora de Natal, conta que ficou sabendo da vacinação pela irmã. Porém, como sua filha de 13 anos é muito alérgica a medicamentos em geral, ela resolveu pesquisar. Não gostou do que leu e resolveu não autorizar a vacinação. “Minha cunhada me avisou que a vacina estava acabando no posto no qual ela trabalha, que era para eu ir logo. Quando avisei meu marido que não ia, ele ficou muito chateado comigo e disse que, se dependesse só dele, vacinaria”, afirma.

Elisângela conta que leu, por exemplo, sobre casos de meninas que entraram em coma ou ficaram inválidas alguns dias após a vacinação, e também que o Japão suspendeu a promoção da vacina após relatos de síndromes dolorosas, o que ainda está sendo investigado. “Só permitiria a vacinação se tivesse certeza total de que nada ocorreria. No posto não há condições de socorrerem alguém. Vou conversar com minha médica ginecologista e esperar um tempo. Se não surgir nenhum caso negativo, posso até voltar atrás. Várias amiguinhas dela também não vão tomar”, diz. Ela também afirma que a própria filha tem medo da vacina, por ser alérgica. “Se fosse algo obrigatório e que só recebesse elogios, tudo bem, mas minha filha é única, é meu tesouro”, encerra.

Mães como Elisângela e Isma entendem que, em termos de saúde pública, um caso de efeito colateral grave diante de centenas de aplicações da vacina tem pouca importância em termos de saúde pública. Mas quando essa minoria inclui uma filha, que poderia ter evitado o câncer de colo de útero com exames regulares de Papanicolau e o tratamento adequado de eventuais lesões, termos como "estatísticamente irrelevante" deixam de fazer sentido.