Conselho de Medicina investigará morte de mulher que fez lipoaspiração
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) abriu nesta sexta-feira (21) sindicância para apurar a morte de uma mulher ocorrida após cirurgia de redução dos seios, preenchimento de glúteos e extração de glândulas mamárias na Santa Casa de Cunha, no Vale do Paraíba. O hospital garante que o local tinha condições de realizar o procedimento. A Secretaria de Saúde de Cunha, no entanto, diz que a operação foi feita clandestinamente.
Regiane Aparecida Ozório Mariano, 35, era recepcionista da Santa Casa e resolveu fazer a cirurgia no próprio hospital. Ela foi operada no último sábado (15), mas teve complicações logo após a cirurgia, passando a respirar com dificuldade. O médico pediu uma ambulância pelo plano de saúde de Regiane. O resgate, porém, chegou quase 20 horas depois de acionado.
A recepcionista foi levada a um hospital de Guaratinguetá, a 45 km de Cunha, com embolia pulmonar aguda. Ela teve uma parada cardiorrespiratório e morreu.
Para os familiares de Regiane, a Santa Casa de Cunha não poderia autorizar a operação porque o hospital não teria como prestar socorro em caso de emergência, o que acabou acontecendo. "Se a Santa Casa não tinha condição de fazer o trabalho direito, não podia ter feito", afirma Reginaldo Ozório, irmão de Regiane.
A provedora do hospital diz que outras quatro lipoaspirações já haviam sido feitas no local, todas com sucesso. "Aqui tem centro cirúrgico, com todos os equipamentos. O médico avalia. Aqui dá pra fazer? Dá pra fazer", afirma Elenice Ferrari, diretora do hospital.
No caso de Regiane, afirma a provedora, o atraso do resgate teria piorado o quadro de saúde dela. Questionada sobre o fato de não ter acionado uma ambulância do município, a responsável pelo hospital disse que a cidade não tem veículo apropriado para esse tipo de emergência. "As ambulâncias daqui não atendem casos assim, elas não têm equipamento para levar uma paciente nas condições em que a Regiane estava", afirma.
A secretária de saúde da cidade, Ana Lúcia Monteiro, diz não aprovar os procedimentos adotados pelo hospital. Segundo ela, a cidade não é obrigada, por lei, a ter resgate para casos de alta complexidade, mas afirma que a Santa Casa poderia ter acionado o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). "Se tivessem acionado, ele teria transportado a paciente muito mais rapidamente", diz.
Ainda de acordo com a secretária, apesar de a Santa Casa ser independente, a direção do hospital tem que informar a prefeitura sobre as cirurgias ali realizadas, mas as lipoaspirações feitas no hospital não estariam sendo comunicadas. "Era na clandestinidade", afirma Ana Lúcia.
O boletim de ocorrência foi registrado pelo noivo de Regiane Mariano nesta sexta-feira (21). Ele afirmou à polícia que depositou R$ 6 mil para pagar ao médico pelo procedimento. No registro, ele não faz acusações contra o médico, a Santa Casa e nem o plano de saúde, apenas relata os fatos.
Já o irmão de Regiane afirma que o médico dispensou a primeira ambulância que chegou à cidade por não confiar no serviço. O segundo resgate foi acionado e só teria chegado a Cunha cerca de 6 horas depois.
O plano de saúde dá outra versão. Em nota, informou que o primeiro resgate não conseguiu chegar devido a problemas no percurso, e o segundo atrasou também por causa de imprevistos, sem, no entanto, especificar quais. O plano de saúde informou também que não se responsabiliza pela morte de Regiane e "refuta a ideia de que o processo de remoção tenha sido a causa da morte".
O Cremesp informou que investigações de casos como esse costumam demorar de seis meses a até dois anos.
Silêncio
Regiane ficou 44 horas no hospital Frei Galvão, em Guaratinguetá, mas a direção só informa o horário de entrada, do óbito e a causa da morte, sem explicar procedimentos.
O médico não foi localizado pela reportagem. No hospital Frei Galvão e na Santa Casa, a informação é de que ele não se encontrava.
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