Bebê que aguarda decisão da justiça para transplante nos EUA sofre infecção
Eduardo Schiavoni
Do UOL, em Americana (SP)
24/02/2015 19h03
O menino Davi Miguel, que completa um ano em 12 de março próximo, fez nesta segunda-feira (23) uma transfusão de sangue de emergência para combater uma anemia no Hospital Regional de Franca, interior de São Paulo. O bebê, que também vem sendo tratado de uma infecção tripla, sofre da doença de inclusão das microvilosidades intestinais -- ou diarreia intratável -- e somente um transplante realizado nos Estados Unidos pode resolver o problema. A moléstia impede que qualquer alimento ingerido seja processado pelo organismo.
A família aguarda uma decisão judicial na qual solicita que a União banque os custos do transplante e do transporte do menino para os EUA. Segundo o Hospital Regional de Franca, onde Davi Miguel está internado desde o quinto dia de vida, o quadro dele é estável e o bebê, embora tenha condições de respirar, recebe a ajuda de um balão de oxigênio para poupar energia.
Sem conseguir absorver os nutrientes, o menino apresenta peso bem abaixo do indicado para sua idade e só se alimenta através de uma sonda. Aliado ao longo tempo de internação, o quadro torna-se favorável para a instalação de outros problemas, como a anemia e as infecções. Hoje, o menino pesa pouco mais de seis quilos -- menos da metade do que seria normal para sua idade.
"Ele melhorou um pouco, mas estamos muito preocupados”, afirma a mãe Dinéia Silva Gama, 41. “Ele está tomando três tipos de antibióticos, mas temos fé que vai conseguir passar por mais essa provação".
Análise
A médica Gisela Paludeto Cruz, chefe do setor de UTI da maternidade do Hospital Regional de Franca, afirma que a demora na realização do transplante diminui as chances de vida de Davi Miguel.
Segundo a profissional, a média de sobrevida para crianças que nascem com essa doença é de seis meses. "Ou pelos problemas de nutrição ou por falhas no sistema imunológico, crianças que ultrapassam os seis meses são minoria", afirma a médica.
Justiça
O transplante é feito pelo Jackson Memorial Hospital, em Miami, mesma instituição onde a bebê Sofia Gonçalves aguarda para ser operada. A família já ingressou na Justiça Federal pedindo que o governo brasileiro custeie o tratamento. No começo do ano, a Justiça de Franca determinou à União o pagamento dos custos, mas uma decisão liminar do Tribunal Regional Federal desobrigou a União de arcar com as despesas.. Agora, a família espera o julgamento definitivo.
De acordo com o pai Jesimar Aparecido Gama, 45, a situação é ainda mais angustiante por conta da espera pela decisão da Justiça Federal. "Meu filho pode morrer a qualquer momento e já fizemos tudo o que era possível. Sinto uma impotência sem tamanho", afirma.
Na decisão em segunda instância, o desembargador Fábio Prieto, presidente do TRF (Tribunal Regional Federal) de São Paulo argumentou que o baixo peso do bebê impede a remoção imediata para a realização do transplante. O ideal é que o procedimento seja feito em crianças com mais de sete quilos.