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Conhecimento e tecnologia levam a novo conceito de cura do câncer

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Débora Nogueira

Do UOL, em Chicago (EUA)

04/06/2015 06h00

"Nunca se entendeu tão bem a biologia molecular!", empolgou-se o hematologista Dani Laks durante uma conversa no último congresso norte-americano de oncologia, promovido pela ASCO (American Society of Clinical Oncology), em Chicago, nos Estados Unidos. O médico, especialista em mieloma múltiplo sentia-se ansioso pelos resultados que sairiam naquela tarde de sábado. Uma nova droga prometia injetar anticorpos em pessoas que já haviam se submetido a mais de cinco outros tipos de tratamento como quimioterapia e radioterapia e não estavam mais respondendo ao tratamento. A droga prometia entregar bons prognósticos.

"Quanto mais estudamos os assuntos, mais eles ficam complexos. Os pacientes passaram 30, 40 anos, recebendo os mesmos tipos de tratamento de cânceres de sangue, mas agora posso dizer com segurança que os tratamentos estão mais específicos", afirmou. Segundo ele, as pesquisas se concentram na biologia celular e as terapias oferecem menos efeitos colaterais.

Congresso de Oncologia em Chicago - Débora Nogueira/UOL - Débora Nogueira/UOL
Congresso norte-americano de oncologia, promovido pela ASCO (American Society of Clinical Oncology), em Chicago, nos Estados Unidos
Imagem: Débora Nogueira/UOL
"O câncer é uma doença que muda com o tratamento, e quanto mais você expuser o câncer a novas drogas, maior é a chance da doença ser eliminada e você ganhar tempo", afirmou. O médico, que atua no Rio Grande do Sul, acredita que as novas drogas podem ajudar na espera de novos medicamentos e assim por diante. "São anos e anos de estudo, e isso é um caminho sem volta até a cura", concluiu otimista o hematologista Dani Laks.

A cura do câncer talvez seja uma das expressões menos pronunciadas banalmente em um congresso de oncologia. Em cinco dias, mais de 30 mil especialistas, médicos, estudantes e farmacêuticos reuniram-se para assistir aos resultados científicos mais importantes do último ano na área de oncologia. Foram apresentados mais de cinco mil trabalhos científicos. É como se cada um fosse um tijolo a mais em uma pilha de conhecimento já consolidado, em busca de uma solução para uma doença tão heterogênea.

"O novo conceito de cura do câncer é a cura funcional. Ela já é uma realidade: existem tratamentos que mantêm o estado de 'não-doença' ativo, a pessoa vive normalmente mesmo que a cura não tenha sido encontrada", afirma o oncologista do Centron (Centro de Tratamento Oncológico) Daniel Tabak.

Segundo Tabak, as pessoas precisam perder o estigma de falar sobre câncer. "Sempre se visualizou o câncer como uma doença fatal, mas talvez ela seja muito mais incurável que intratável. À medida que o tempo passar vamos observar novos tratamentos em que o individuo vai conviver com essa doença de uma forma muito melhor do que antes", afirma Tabak.

Os avanços fazem eco entre todos os especialistas. "Nunca soubemos tanto sobre oncologia como agora. Sabemos mais sobre a genética do câncer, as especificidades que fazem as células se transformarem em tumores, como o sistema imunológico atua e como ele pode ser ativado para lutar melhor contra o câncer", exemplifica o chefe global de oncologia na empresa farmacêutica Janssen, do grupo Johnson & Johnson, Peter Lebowitz.

"A combinação de conhecimento científico e tecnologia é a melhor que já tivemos historicamente. A diferença nos resultados de pesquisas desse ano para o congresso do ano passado é enorme. As pesquisas estão chegando a resultados rapidamente", completou Lebowitz.

Mas Lebowitz não faz coro com os outros médicos em relação a tornar o câncer uma doença apenas controlável. "Muitos querem transformar o câncer em uma doença crônica e, honestamente, não tenho interesse nisso. Nós queremos curar o câncer e preveni-lo. Acreditamos que estamos no caminho certo para isso". Lebowitz exemplificou citando cânceres que já foram curados como algumas leucemias, linfomas e câncer de testículos.

"Os bons resultados vão vir um por vez, e espero que eu esteja vivo para vê-los", concluiu o executivo.


*A jornalista viajou a convite da farmacêutica Janssen