'Wetback': como foi maior deportação em massa dos EUA que Trump quer copiar

Donald Trump, candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido Republicanos, segue na linha dura contra imigrantes. Em um comício de setembro de 2023, ele chegou a prometer: "Vamos realizar a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos".

O candidato demonstra interesse em seguir um modelo parecido com a Operação Wetback, que completa, em 2024, 70 anos. A operação culminou na expulsão de 1,3 milhão de imigrantes indocumentados, em sua maioria mexicanos, segundo reportagem da BBC News Mundo.

Um dos grandes motivos por trás da operação consistia em impedir que fazendas do sudoeste do país contratassem imigrantes sem documentos. Na época, o presidente Dwight Eisenhower afirmava que os Estados Unidos sofriam uma invasão. "Temos milhões e milhões de pessoas entrando no nosso país. De fato, vamos ter que ter um nível de deportação que nunca vimos neste país há muito tempo", disse.

O nome da operação está vinculado a um insulto usado para se referir aos migrantes que estavam molhados ao chegar aos Estados Unidos pelo Rio Bravo.

Mais de um milhão de pessoas

Em maio de 1954, a operação foi anunciada pela primeira vez e prometia varrer a região sudoeste dos Estados Unidos para encontrar, deter e deportar imigrantes mexicanos indocumentados.

Na primeira semana, os agentes detiveram mais de 12.300 mexicanos e, no fim do mês, já eram 22 mil. Eles contavam com patrulhas, veículos, caminhonetes e, muitas vezes, aeronaves de vigilância. Os agentes usavam táticas militares e batiam em casas, fazendas, restaurantes e locais públicos frequentados por mexicanos.

As pessoas que eram deportadas chegaram a ficar alojadas ao ar livre em um parque transformado de forma improvisada em acampamento. Uma vez em território mexicano, eram entregues às autoridades do país.

Em outubro de 1954, o chefe da Patrulha Fronteiriça Joseph Swing declarou que a operação havia sido bem-sucedida e havia enviado ao México mais de um milhão de imigrantes.

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Os autodeportados

Uma parte significativa dos que foram enviados de volta para o México eram, na verdade, autodeportados. Isso foi resultado também da contribuição da mídia, de forma proposital ou não. Os jornais com frequências cobriam as batidas e detenções da Patrulha Fronteiriça, o que transmitia a impressão de que a operação tinha uma escala maior do que a real.

Em entrevista à agência Associated Press, a professora da Universidade da Universidade da Califórnia Kelly Lytle Hernández afirma que a operação era uma campanha destinada a aterrorizar as comunidades para que se autodeportassem.

"Isso está economizando dinheiro do governo porque significa que não precisamos arcar com os custos de reuni-los e transportá-los até a fronteira", diz um boletim do Serviço de Naturalização e Imigração, o INS, publicado em junho de 1954 e citado no livro "Máquina de Deportação".

Nesse livro, o autor Adam Goodman diz que mais de um milhão de pessoas saíram de forma voluntária dos Estados Unidos no ano fiscal de 1954.

Mão de obra para fazendas do Texas

Apesar das justificativa de que os trabalhadores não documentados mexicanos representavam uma ameaça, essa era não a questão fundamental que deu origem à Operação Wetback, segundo a BBC.

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Especialistas indicam que a operação está ligada ao Programa Bracero, que surgiu na Segunda Guerra Mundial para suprir mão de obra com trabalhadores do México. A iniciativa trazia diversas condições laborais para o empregador.

Apenas homens podiam ir para o país e por tempo limitado. A ideia era que, como as famílias permaneceriam no México, eles teriam maior interesse em retornar.

Mas houve lugares, como o Texas, onde os fazendeiros não queriam arcar com os compromissos do programa e, por isso, passaram a empregar imigrantes não documentados. A operação serviu para obrigar esses fazendeiros a cumprir com o Programa Bracero, mas prejudicou principalmente os imigrantes.

Além de realizarem Operação Wetback, agentes da Patrulha Fronteiriça foram enviados para se reunir com empregadores e oferecer versões menos custosas do Programa Bracero. Nesse quesito, o esforço obteve sucesso, já que o número de contratados no Texas pelo programa aumentou.

O programa também ajuda a explicar a autodeportação, já que os imigrantes retirados poderiam voltar ao país contratados com maior facilidade se não tivessem sido fichados pela imigração como expulsos.

De acordo com especialistas ouvidos pela BBC, a queda no número de deportações no anos seguintes à Operação Wetback está mais relacionada ao Programa Bracero do que à operação em si.

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