Mães esperam semanas por exames que confirmam microcefalia em PE
No sertão de Pernambuco, mães de bebês com suspeita de microcefalia vivem dias de apreensão enquanto aguardam os exames para confirmar a doença. Com filhos nascidos em meio a epidemia de casos de microcefalia, elas têm de aguardar mais de um mês para ter direito a um exame de imagem que confirmará a má-formação. Apenas dois locais fazem esses exames -- ambos no Recife.
Segundo protocolo do Ministério da Saúde, todas as crianças que nascem com perímetro cefálico de 33 centímetros ou menos são classificadas como suspeitas de microcefalia e são notificadas. A medição, porém, é apenas o primeiro passo e não confirma o problema -- para isso é preciso um exame de imagem. Para as mães que esperam na "fila", há um misto de esperança e medo.
O UOL visitou a cidade com maior número proporcional de casos suspeitos notificados do Nordeste, Afogados da Ingazeira (370 km do Recife). Com 35 mil habitantes, o município já notificou 13 casos, mas todos ainda esperam exames complementares na capital Recife.
A comunidade de Covoadas, na zona rural do município, registrou dois casos suspeitos em novembro. A notícia chocou os moradores das 65 famílias do local.
A agricultora Sandra Lúcia Simeão, 29, espera o segundo filho e recebeu com surpresa a informação de que seu pequeno Guilherme, nascido no Hospital Regional no dia quatro de novembro, é suspeito de ter microcefalia. "Foi um choque", disse, sem esconder a ansiedade em ir logo ao Recife. "Disseram que iam me ligar da secretaria para dizer o dia", informou.
Segundo a Secretaria de Saúde de Afogados da Ingazeira, os 13 bebês suspeitos de microcefalia serão levados para exame no Recife nos próximos dias 11 e 18. Além das tomografias, são feitos exames de sangue, urina e colhimento de líquido da coluna. Não há prazo certo para entrega dos resultados.
Guilherme nasceu com perímetro cefálico de 33 cm e, segundo a mãe, é um bebê "normal". "Eu fiz o pré-natal todinho, as três ultrassons e não deu nada. Ele é um menino sem qualquer diferença dos outros, ri, chora, quer pegar as coisas já. Se Deus quiser não vai ser nada, só um susto", afirmou.
Sandra garante ainda que, durante a gestação, não teve nenhum problema de saúde. "O que tive foi inchaço normal e tenho alergia à poeira, no mais, não tive febre, dor, nada", contou.
Na mesma comunidade, outra mãe enfrenta a mesma angústia. Andréa Brito da Silva, 27, teve a pequena Isabela há 13 dias, e se apega à fé para apostar em um descarte do problema. "Fiquei triste quando soube, mas depois vi que ela é uma criança esperta, igual a todas as outras. Tenho medo, mas se ela tem mesmo algum problema, só quem sabe é Deus", afirma a mãe de Isabela, que nasceu com 33 cm.
Enquanto esperam os exames, os bebês levam uma vida normal. Segundo a coordenadora pediátrica do Imip (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), a pediatra Mônica Coentro, em caso de diagnóstico de microcefalia pelos exames, a criança deve ser encaminhada para acompanhamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A médica explica que cada caso diagnosticado tem suas particularidades e, por ser uma questão nova na medicina, não há como saber como será o futuro dessas crianças. "Esses exames indicam se há a necessidade de continuação com o protocolo normal. A questão é grave porque não se sabe como será a sequência [do problema], quais os efeitos dela, quais as limitações de vida. Tem uma série de perguntas sem resposta", afirmou.
Pernambuco tem 211 casos confirmados
Com o maior número de casos suspeitos de microcefalia notificados até o momento, o governo de Pernambuco tenta criar uma fila para dar conta de todos os exames. Dos 646 casos notificados até o início desta semana, apenas 211 foram confirmados, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Ainda não há número oficial de casos descartados.
Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, por ora os exames de imagem estão sendo agendados apenas em dois locais: o Hospital Universitário Oswaldo Cruz e no Imip, no Recife. A secretaria não informou o número de crianças na fila de espera por exame e nem a quantidade de exames realizados por dia.
O órgão disse que está sendo finalizado um protocolo -- que deve ser lançado na próxima semana -- com a implantação do serviço em unidades regionais de referência. Com isso, o objetivo é que os bebês façam exames em várias cidades do Estado, sem a necessidade de viagens longas, como hoje acontece.
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