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Mães esperam semanas por exames que confirmam microcefalia em PE

A agricultora Sandra Lúcia Simeão, 29, está à espera dos exames complementares após a suspeita de microcefalia - Beto Macário/ UOL
A agricultora Sandra Lúcia Simeão, 29, está à espera dos exames complementares após a suspeita de microcefalia Imagem: Beto Macário/ UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Afogados da Ingazeira (PE)

03/12/2015 14h04

No sertão de Pernambuco, mães de bebês com suspeita de microcefalia vivem dias de apreensão enquanto aguardam os exames para confirmar a doença. Com filhos nascidos em meio a epidemia de casos de microcefalia, elas têm de aguardar mais de um mês para ter direito a um exame de imagem que confirmará a má-formação. Apenas dois locais fazem esses exames -- ambos no Recife.

Segundo protocolo do Ministério da Saúde, todas as crianças que nascem com perímetro cefálico de 33 centímetros ou menos são classificadas como suspeitas de microcefalia e são notificadas. A medição, porém, é apenas o primeiro passo e não confirma o problema -- para isso é preciso um exame de imagem. Para as mães que esperam na "fila", há um misto de esperança e medo.

O UOL visitou a cidade com maior número proporcional de casos suspeitos notificados do Nordeste, Afogados da Ingazeira (370 km do Recife). Com 35 mil habitantes, o município já notificou 13 casos, mas todos ainda esperam exames complementares na capital Recife.

A comunidade de Covoadas, na zona rural do município, registrou dois casos suspeitos em novembro. A notícia chocou os moradores das 65 famílias do local.
A agricultora Sandra Lúcia Simeão, 29, espera o segundo filho e recebeu com surpresa a informação de que seu pequeno Guilherme, nascido no Hospital Regional no dia quatro de novembro, é suspeito de ter microcefalia. "Foi um choque", disse, sem esconder a ansiedade em ir logo ao Recife. "Disseram que iam me ligar da secretaria para dizer o dia", informou.

Segundo a Secretaria de Saúde de Afogados da Ingazeira, os 13 bebês suspeitos de microcefalia serão levados para exame no Recife nos próximos dias 11 e 18. Além das tomografias, são feitos exames de sangue, urina e colhimento de líquido da coluna. Não há prazo certo para entrega dos resultados.

Guilherme nasceu com perímetro cefálico de 33 cm e, segundo a mãe, é um bebê "normal". "Eu fiz o pré-natal todinho, as três ultrassons e não deu nada. Ele é um menino sem qualquer diferença dos outros, ri, chora, quer pegar as coisas já. Se Deus quiser não vai ser nada, só um susto", afirmou.

Sandra garante ainda que, durante a gestação, não teve nenhum problema de saúde. "O que tive foi inchaço normal e tenho alergia à poeira, no mais, não tive febre, dor, nada", contou.

Na mesma comunidade, outra mãe enfrenta a mesma angústia. Andréa Brito da Silva, 27, teve a pequena Isabela há 13 dias, e se apega à fé para apostar em um descarte do problema. "Fiquei triste quando soube, mas depois vi que ela é uma criança esperta, igual a todas as outras. Tenho medo, mas se ela tem mesmo algum problema, só quem sabe é Deus", afirma a mãe de Isabela, que nasceu com 33 cm.

Enquanto esperam os exames, os bebês levam uma vida normal. Segundo a coordenadora pediátrica do Imip (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), a pediatra Mônica Coentro, em caso de diagnóstico de microcefalia pelos exames, a criança deve ser encaminhada para acompanhamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

A médica explica que cada caso diagnosticado tem suas particularidades e, por ser uma questão nova na medicina, não há como saber como será o futuro dessas crianças. "Esses exames indicam se há a necessidade de continuação com o protocolo normal. A questão é grave porque não se sabe como será a sequência [do problema], quais os efeitos dela, quais as limitações de vida. Tem uma série de perguntas sem resposta", afirmou.

Pernambuco tem 211 casos confirmados

Com o maior número de casos suspeitos de microcefalia notificados até o momento, o governo de Pernambuco tenta criar uma fila para dar conta de todos os exames. Dos 646 casos notificados até o início desta semana, apenas 211 foram confirmados, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Ainda não há número oficial de casos descartados.

Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, por ora os exames de imagem estão sendo agendados apenas em dois locais: o Hospital Universitário Oswaldo Cruz e no Imip, no Recife. A secretaria não informou o número de crianças na fila de espera por exame e nem a quantidade de exames realizados por dia.

O órgão disse que está sendo finalizado um protocolo -- que deve ser lançado na próxima semana -- com a implantação do serviço em unidades regionais de referência. Com isso, o objetivo é que os bebês façam exames em várias cidades do Estado, sem a necessidade de viagens longas, como hoje acontece.