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Zika pode aumentar casos de autismo e esquizofrenia, diz epidemiologista

Katie Orlinsky/The New York Times
Imagem: Katie Orlinsky/The New York Times

Cristiane Capuchinho

Do UOL, no Rio

12/11/2016 06h00

Após estudar por mais de quinze anos o autismo na Noruega, Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunidade da Universidade de Columbia, nos EUA, percebeu que casos de infecções em grávidas, com episódios de febre, aumentavam o risco de os filhos desenvolverem autismo, epilepsia, esquizofrenia e TDAH (déficit de atenção).

A partir desses dados e diante de uma epidemia do vírus da zika, que se espalha pela América Latina e já chegou aos Estados Unidos, o professor faz um alerta: “Nós realmente nos preocupamos que daqui a 15 anos se veja um aumento nos casos de distúrbios mentais”.

O vírus da zika é transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, mas também já se confirmou a transmissão sexual. Normalmente, a infecção causa febre, manchas vermelhas na pele e dores leves nas articulações.

Em grávidas, o vírus se mostrou muito mais perigoso. Quando transmitido para o feto, a zika ataca as células do sistema nervoso da criança e causa graves lesões neurológicas, como calcificações no tecido, microcefalia, alterações oculares e mesmo artrogripose (contraturas articulares).

O vírus realmente causa grandes danos às células neurais durante o desenvolvimento, isso já sabemos, mas há outras maneiras de a zika afetar o cérebro” Ian Lipkin

Desde 1999, Lipkin acompanhou informações de milhares de crianças norueguesas para entender o risco do desenvolvimento do autismo.

“O que vimos em outros estudos é que infecções nas gestantes, por vírus, bactérias e toxinas, levou a um aumento no número de crianças que desenvolveram doenças mentais anos mais tarde, como o autismo, a esquizofrenia e a epilepsia”, explica o norte-americano. “Não sabemos se a zika deixa a criança suscetível a outros problemas que serão desenvolvidos ao longo da vida. Daí a importância de acompanhar todas essas crianças que estão nascendo durante a epidemia.”

Em um estudo recente, pesquisadores do Instituto Fernandes Figueira mostram que 42% das crianças expostas ao vírus durante sua gestação registraram problemas neurológicos após seis meses de vida, mesmo tendo nascido com exames normais para o cérebro.

Mas um ano após o Ministério da Saúde decretar emergência sanitária pelo rápido aumento do número de crianças nascidas com microcefalia relacionado ao vírus da zika em Pernambuco, ainda são muitas as dúvidas que rondam o vírus.

A transmissão da zika pelo contato sexual, e a presença do vírus ativo por até seis meses no sêmen poderiam explicar, por exemplo, a razão da infecção aparecer muitas vezes em casais, o que não é tão comum com a dengue. No entanto, os cientistas ainda não têm evidências para apontar qual seria o modo de transmissão mais importante.

Os bêbes com lesões neurológicas precisam de atendimento de fisioterapia intensivo - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo  - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Os bêbes com lesões neurológicas precisam de atendimento de fisioterapia intensivo
Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Problemas dos bebês ainda são desconhecidos

Outro ponto importante sem respostas é até onde vão os danos causados pelo vírus da zika nas crianças afetadas.

Em uma roda de orientação para pais de filhos com microcefalia por suspeita de zika no Centro Internacional SARAH de Neurorrehabilitação e Neurociências, o pediatra Rafael Barra começa anunciando que falará sobre o que se sabe “porque ainda tem muitas dúvidas. É uma coisa nova”.

Ao redor dele, mães e pais de cinco bebês entre dois e dez meses ouvem atentamente às explicações sobre o desenvolvimento do cérebro e outras possíveis consequências do vírus: convulsões, irritabilidade, dificuldade para engolir e até mesmo problemas renais. 

Entre as dúvidas, há desde a preocupação com as vacinas que podem ser aplicadas, a alimentação e à projeção de desenvolvimento da criança. “Todos temos limites, eles também têm. O que vocês têm que entender é que eles têm lesões no cérebro que também vão alterar esses limites, mas temos que estimulá-los”, acalma o pediatra.

“Estamos desde o ano passado aprendendo sobre a zika e tudo o que está em torno dela. É importante que vocês saibam que nem todas as perguntas têm respostas e ainda precisamos aprender muito com o bebê de vocês”, tenta explicar o médico. O desenvolvimento das crianças com e sem microcefalia é que vai dizer quais as sequelas da infecção nas grávidas.

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