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Como o estresse afeta seu cérebro, e isso pode ser problema para sempre

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Marcelle Souza

Colaboração para o UOL, em São Paulo

31/05/2018 04h00

Coração acelerado, aumento da transpiração, agitação e confusão mental são alguns dos sintomas imediatos durante um episódio de estresse. Todas essas alterações fisiológicas, no entanto, acontecem antes no cérebro. Isso porque, nesse momento, o corpo percebe uma situação de ameaça e precisa reagir de modo automático e quase imediato.

“O estresse por si só não é algo intrinsecamente ruim. É uma resposta natural de nosso organismo a uma situação ameaçadora e que nos desperta uma reação de ‘luta ou fuga’ - tão necessária na ancestralidade para nos defendermos de predadores e outras ameaças. O estresse se torna um problema quando é persistente”, diz a psicóloga Mara Vieira.

Durante um episódio de estresse, uma das estruturas acionadas pelo nosso cérebro é o hipotálamo, que ativa a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, e são eles que preparam o nosso organismo para se defender. Nesse momento, o cérebro também aumenta a produção de endorfina, substância que tem efeito analgésico e deixa o corpo menos sensível à dor.

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Imagem: Getty Images

“Uma vez que esses hormônios são liberados, eles começam a provocar reações fisiológicas, como o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e do ritmo da respiração. Do mesmo modo, elas causam uma reação orgânica no hipocampo, área do cérebro associada à memória, e, por isso, muitas vezes a atenção e a capacidade de raciocínio ficam prejudicadas”, diz Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente da ISMA-BR, organização internacional de pesquisa, prevenção e tratamento de estresse.

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Oxigênio para reduzir o estresse

Tudo isso acontece muito rápido: são apenas alguns segundos entre o momento em que você percebe que está em uma situação de risco e o início da liberação de hormônios pelo cérebro. “É uma reação automática do organismo, que involuntariamente começa a se preparar para lidar com uma ameaça, que pode ser real ou imaginária. Como tudo acontece muito rápido, a pessoa precisa estar condicionada, ter um recurso muito rápido para não deixar completar esse ciclo”, diz Rossi.

Em seu consultório, uma das técnicas que ela ensina para que os pacientes saibam lidar melhor com os episódios de estresse é a respiração, que deve ser profunda, lenta e feita pelas narinas.

“É preciso construir o seu próprio ‘termostato’ para lidar com essas situações no dia a dia. A respiração é um dos recursos mais importantes, porque através dela você consegue oxigenar melhor o cérebro. Isso tem um efeito emocional e pode ser feito em qualquer lugar”, diz.

A longo prazo

Se o estresse, por si, não é um fenômeno sempre negativo, o problema surge quando ele se torna corriqueiro e o corpo precisa viver em permanente estado de alerta. “O estresse duradouro está ligado a doenças autoimunes, como artrite reumatoide, além de aumentar o risco de depressão e outros transtornos mentais e até retardar a recuperação de uma cirurgia e a cicatrização de feridas”, afirma Mara Vieira.

Além disso, pesquisas já apontaram que o estresse crônico está associado a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, úlceras, osteoporose, impotência, aborto espontâneo e câncer. Problemas de memória e dificuldade de aprendizagem são consequências do estresse para o cérebro.