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Casos confirmados de dengue no estado de São Paulo crescem 122% em um ano

Até agosto deste ano foram registrados 8.979 pacientes com dengue no Estado de São Paulo, segundo dados da secretaria de Saúde - Getty Images
Até agosto deste ano foram registrados 8.979 pacientes com dengue no Estado de São Paulo, segundo dados da secretaria de Saúde Imagem: Getty Images

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

25/09/2018 04h01

São Paulo vive um aumento drástico nos casos confirmados de dengue. Até agosto deste ano, foram 8.979 pacientes com a doença confirmada no estado -- a grande maioria, gente que contraiu a enfermidade nas cidades onde moram; apenas 619 casos (7%) foram importados de outra cidade.

Levantamento realizado pelo UOL com base em cruzamentos da secretaria estadual de Saúde mostra o número representa um crescimento de 122% na comparação com o mesmo período no ano passado. Em 2017, houve 4.044 casos até agosto, sendo 385 importados e 3.659 autóctones. 

As cidades mais atingidas estão no interior. Santo Antônio de Posse, distrito do município de Campinas, registrou 864 casos confirmados de dengue. Em Araraquara, a 270 quilômetros capital, foram constatados 709 pacientes confirmados.

Na capital, apesar do maior número de notificações da doença (7.790), 448 casos foram confirmados por exames de laboratório.

Em conversa com o UOL, a médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Rosana Richtmann, explicou que a dengue tem particularidades que fazem com que os números de infectados oscilem durante os anos.

Em 2015 e 2016, por exemplo, houve uma explosão nos casos em São Paulo, enquanto 2017 foi considerado atípico por conta do baixo nível de casos confirmados. Isso ocorre por conta da imunidade que as pessoas adquirem em contato com o vírus.

casos dengue - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL
“Como muitas pessoas se infectaram entre 2015 e 2016, a tendência é de que as pessoas criem anticorpos por conta da epidemia, e foi o que aconteceu no ano passado”, disse Richtmann. “Estamos preocupados com este ano, a época de chuvas está só começando. Nada foi feito, não está sendo falado nada sobre o problema e poucas ações estão sendo feitas”.

Para o médico Marcos Boulos, da Coordenadoria de Controle de Doenças da secretaria de Saúde, no entanto, os números não são alarmantes, e a preocupação com o mosquito aedes deve ser mais intensa nos próximos meses. "A presença do mosquito é pequena, mas vai aumentar no próximo mês com mais chuvas, e, consequentemente, mais focos do aedes", disse ao UOL.

A dengue é uma das doenças mais presentes nos municípios brasileiros, diz o IBGE. Segundo estudo divulgado na semana, foram 1.501 cidades afetadas pela doença, 26,9% do total dos 5.570 municípios existentes no país. 

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “tem mantido a intensificação das ações de mobilização e combate ao mosquito Aedes aegypti, mesmo após o anúncio de encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, em 30 de junho de 2017 (Portaria GM/MS 1682)”.

Vacina e subnotificação

Em dezembro de 2015 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a primeira e única vacina contra a dengue disponível no país. Chamada de “Dengvaxia”, a vacina foi elaborada pela farmacêutica francesa Sanofi Pasteur e gerou discussões intensas entre os médicos. Utilizada com poucas restrições no Paraná no ano passado, único Estado onde foi aplicada, a vacina teve alterações em suas indicações em agosto passado.

Tanto a Sanofi Pasteur quanto a Organização Mundial da Saúde já haviam alertado, no ano passado, que a vacina era desaconselhada a quem nunca teve a doença. Aplicada nessas pessoas, a vacina aumenta o risco de desenvolver uma vertente grave da dengue. A Anvisa alterou a bula da vacina somente no mês passado, incluindo a restrição do uso para “soropositivos” – pacientes que já tiveram algum tipo de dengue.

“Essa vacina é muito complicada por uma série de fatores. Primeiro é a característica da doença, a vacina tem de ter proteção contra os quatro tipos diferentes de vírus. Segundo que, não só na minha opinião, mas na da Organização Mundial da Saúde, ela ainda precisa mostrar mais segurança do que temos hoje. Ela pode ajudar em casos graves de dengue, mas é totalmente contraindicada a quem nunca teve o vírus”, explica Richtmann.

Segundo a infectologista, a vacina também tem sérios problemas do ponto de vista da logística da saúde pública, posto que teria de ser feito um controle rígido de só vacinar quem foi exposto ao vírus.

Para Boulos, a utilização do medicamento contra dengue depende de um estudo específico em cada Estado e município. "Para a vacina ter eficácia é necessário que pelo menos 80% das pessoas daquele local tenham sido diagnosticadas com dengue." disse o médico. 

Outra questão levantada por Richtmann é a subnotificação dos casos de dengue, já que a maioria das pessoas não sabe que está com a doença. “Nós temos um número de que 70% dos casos não são notificados, por que as pessoas não têm ideia que estão com o vírus. Então os números oficiais são muito menores do que os números reais”, diz a médica.

Quatro vírus, uma doença

A dengue é uma doença única, mas existem quatro tipos de vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) que podem causá-la. Quem contrai um dos vírus fica imune somente a este específico, ou seja, uma pessoa pode contrair quatro vezes a dengue, mas dificilmente terá duas vezes o mesmo tipo de vírus.

Segundo Richtmann, o quadro clínico não tem relação com a especificidade do vírus. Dessa forma, todos os tipos de vírus da dengue podem causar os mesmos sintomas, desde os pequenos reflexos, como cansaço e febre, até as hemorragias da vertente mais grave da doença.