Topo

Bolsonaro chega a SP para nova cirurgia na segunda; entenda o procedimento

Imagem: EVARISTO SA / AFP

Lucas Borges Teixeira e Luciana Amaral

Colaboração para o UOL, em São Paulo, e do UOL, em Brasília

27/01/2019 11h36

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) chegou na manhã deste domingo (27) a São Paulo para a nova cirurgia a qual se submeterá nesta segunda-feira, no hospital Albert Einstein, localizado no bairro do Morumbi, na zona sul. O presidente se internará na unidade e começará a se preparar para a operação de reconstrução do "trânsito intestinal".

Bolsonaro saiu da Base Aérea de Brasília no início da manhã e pousou no aeroporto de Congonhas, na capital paulista, por volta das 10h. Ele estava acompanhado de comitiva formada pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo ministro general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), pelo ajudante de ordens, Major Cid, pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Santana Rêgo Barros, e por um dos filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além de agentes de segurança.

A intenção é que ele retome o fluxo normal dos alimentos no intestino, após ter sido perfurado em um ataque a faca em Juiz de Fora, em Minas Gerais, durante a campanha eleitoral em 6 de setembro do ano passado.

A expectativa é que a cirurgia seja iniciada por volta das 6h desta segunda. Após a operação, o presidente deve poder deixar de usar a bolsa coletora de colostomia, que o acompanha desde setembro. Segundo cirurgiões ouvidos pelo UOL, trata-se de um procedimento simples e seguro, que é realizado em cerca de três a quatro horas.

"Em tese, ele sairia direto para o quarto. Pode ser que, sendo presidente, possa ser montada uma UTI [Unidade de Terapia Intensiva, para a recuperação] própria, mas não é o mais comum", diz André Seabra, cirurgião experiente no procedimento e professor da Universidade Tiradentes.

O vice-presidente, general Antônio Hamilton Mourão (PRTB), assumirá a Presidência por 48 horas assim que Bolsonaro estiver sob efeito da anestesia geral. Após esse período, Bolsonaro deverá poder começar a despachar de seu quarto com a ajuda de assessores. Os auxiliares ficarão hospedados em hotel próximo ao hospital.

O vice ocupou o cargo de presidente em exercício pela primeira vez nesta semana ao longo da viagem de Bolsonaro para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

O passo a passo da operação

De acordo com o especialista e a própria equipe médica que realizará a operação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, "o pior já passou". A reconstrução do trânsito intestinal é considerada uma operação "tranquila", mas que requer cuidado no pós-operatório.

O procedimento funciona assim:

  1. O cirurgião pega o intestino exteriorizado, ligado à bolsa, e solta da parte cicatrizada da pele
  2. Corta alguns centímetros, que geralmente estão mais duros
  3. Na cavidade do ventre, "emenda" as partes do intestino que estavam interrompidas. Essa religação é chamada de anastomose.

"Ele [o cirurgião] vai basicamente reinterligar o intestino, de modo que a comida volte a circular por todo o sistema digestivo [até descer ao ânus]", explica Seabra.

Segundo o cirurgião que acompanha Bolsonaro, Antonio Luiz Macedo, este é um procedimento muito mais simples do que os dois primeiros já realizados em Bolsonaro.

Seabra diz que os riscos da cirurgia são baixos, dada a tecnologia médica atual e a experiência da equipe responsável.

Pós-operatório e riscos

Se, por um lado, a cirurgia em si não inspira preocupação, o pós-operatório requer cuidados.

"O maior risco seria a anastomose não pegar. Fazer uma fístula [abertura da emenda] e vazar conteúdo fecal, por algum motivo que seja", afirma Seabra.

"Por mais que o cirurgião vá tomar todas as precauções --e certamente vai ser tudo muito bem feito--, pode dar errado. Esta é uma cirurgia contaminada, melindrosa, por causa da colonização bacteriana. Não depende apenas da equipe médica ou da estrutura do hospital."

Em setembro, Bolsonaro foi operado após levar uma facada em MG Imagem: Reprodução

Neste caso, Bolsonaro retornaria à sala de cirurgia e poderia voltar a usar a bolsa coletora.

"Mas é muito improvável. Por mais que haja mais chances de risco no pós-operatório do que durante o procedimento, as chances [de problemas] ainda são muito, muito pequenas", afirma o cirurgião.

Seabra lembra ainda que operações como esta ocorrem diariamente em hospitais públicos brasileiros. "Infelizmente, na realidade preocupante do nosso país, uma facada é algo constante. Cirurgiões do SUS [Sistema Único de Saúde] estão acostumados a aplicar colostomia e, depois, a reconstrução: é o padrão", afirma o médico.

"Não à toa, foi o procedimento adotado para Karol Wojtyla [o papa João Paulo 2º] quando ele sofreu o atentado, em 1981, e teve o intestino perfurado."

Por que usar a bolsa coletora de colostomia?

Bolsonaro sofreu três perfurações no intestino delgado e uma no intestino grosso. Ele foi submetido à primeira cirurgia em 6 de setembro, mesmo dia do ataque, na qual o intestino delgado foi suturado e a bolsa de colostomia foi aplicada.

"Ele lesionou muito o intestino grosso, que é basicamente preenchido por fezes e bactérias. Quando isso [o rompimento] acontece, elas caem na área abdominal. O problema é que o nível de contaminação por bactérias, que ali dentro é normal, é anormal na cavidade abdominal", explica Seabra.

"Este contato causa infecções e, nessa condição, simplesmente lavar e fazer uma sutura é muito perigoso." Por isso é importante tomar medidas para evitar que isso ocorra. "A bolsa coletora existe para que não suje a região abdominal", explica.

De acordo com o médico, que realiza este tipo de cirurgia com frequência, se isso não for feito, há risco de infecção, distensão (quando a alça é distendida por conteúdo sólido, líquido ou gasoso) e isquemia (falta de sangue, sem vascularização adequada). 

Dessa forma, a ligação entre o intestino e o ânus de Bolsonaro foi interrompida. Por isso é necessária a bolsa coletora, para que as fezes sejam armazenadas. "Ele não vai ao banheiro evacuar, vai tudo para a bolsa, que é esvaziada de uma a duas vezes por dia e trocada por volta de uma semana, porque fica suja", diz Seabra.

Demorou para retirar a bolsa?

De acordo com Seabra, o tempo estimado para a retirada da bolsa e a reconstrução do trânsito intestinal é de, em média, pelo menos dois meses. "É preciso que o prazo inflamatório cesse. Para isso, são pelo menos 30 dias, com variações de acordo com a atividade do paciente. Depois, são mais 30 dias para que o intestino e todo o sistema se reorganize", explica.

No caso de Bolsonaro, terão sido cerca de quatro meses e meio. O cirurgião explica que, dado o movimentado cotidiano de transição de governo, é normal que esse tempo tenha se estendido.

Este foi um dos motivos apresentado pela equipe médica que tratou do futuro presidente, em São Paulo. Inicialmente, a cirurgia de reconstituição estava prevista para dezembro. No entanto, um exame feito no dia 23 de novembro sinalizou que ele ainda sofria com inflamação do peritônio e processo de aderência entre as alças intestinais. 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Bolsonaro chega a SP para nova cirurgia na segunda; entenda o procedimento - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Últimas notícias