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Orientação sexual não importa, diz Mandetta ao lançar campanha contra Aids

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Imagem: Divulgação

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

22/02/2019 12h08Atualizada em 22/02/2019 12h29

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, lançou hoje em Salvador a primeira campanha de Carnaval do governo Jair Bolsonaro. As peças publicitárias, cuja meta é reduzir o índice de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids, chamaram a atenção por não fazerem referência ao público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).

"Não importa a orientação sexual, mas o comportamento de risco que pode fazer do nosso maior Carnaval uma memória triste", afirmou o ministro ao apresentar a campanha ao lado do prefeito de Salvador, ACM Neto.

Essa foi a única menção à orientação sexual durante o evento. "A campanha é bonita, leve, e respeitar a família é respeitá-la como um todo. A mensagem é horizontal, para chegar ao Brasil profundo, do Acre a São Paulo", afirmou Mandetta.

Questionado pela reportagem sobre a ausência de referência ao público LGBT, o Ministério da Saúde encaminhou nota oficial em que "esclarece que a campanha tem como foco o público masculino, na faixa etária dos 15 a 34 anos, independente da orientação sexual".

Cabe ressaltar que a escolha da campanha foi feita de acordo com o público-alvo identificado pela área técnica, baseado nos últimos dados epidemiológicos, de 2017, que demonstram que 73% dos casos novos de infecção pelo HIV foram em homens (30.659). Deste total, 75% (23.042) em homens de 15 a 39 anos 

Ministério da Saúde, em nota

Segundo a Unaids Brasil, o risco de infecção pelo HIV é:

  • 27 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens;
  • 23 vezes maior entre pessoas que usam drogas injetáveis;
  • 13 vezes maior entre profissionais do sexo;
  • 13 vezes maior entre mulheres trans.

O mote da campanha será "Pare, pense e use camisinha". A previsão é que uma música e o vídeo oficial sejam divulgados na próxima quinta-feira (28). O garoto propaganda será o cantor Gabriel Diniz, do hit "Jenifer".

Durante a festa, um "homem-camisinha" distribuirá preservativos entre os blocos carnavalescos. A pasta disponibilizará 129 milhões de camisinhas, contra 106 milhões entregues gratuitamente no Carnaval de 2018.

Dessas, 12 milhões terão a nova embalagem, escolhida em um concurso com estudantes. O governo também vai distribuir 16 milhões de testes rápidos. É mais dos que os 13,8 milhões entregues no ano passado.

Jovens infectados não se tratam

Estudo divulgado pelo ministério informa que há no Brasil 866 mil pessoas com HIV, 694 mil já diagnosticadas, enquanto 172 mil ainda não sabem que estão doentes. Um em cada 5 infectados são homens entre 15 e 24 anos.

"Entre homens, a aids cresce mais entre jovens de até 29 anos e cai na população de 30 a 54 anos", informa a campanha. Os jovens também estão usando menos camisinha e recorrem pouco ao médico depois de diagnosticados: 44% dos infectados entre 18 e 24 anos não realizam tratamento.

Contágio dobrou na última década

Entre o público geral, o índice de contágio do vírus HIV dobrou entre jovens de 15 a 19 anos na última década. Passou de 2,8 casos por 100 mil habitantes para 5,8, informa o ministério. Entre jovens de 20 e 24 anos, essa relação chegou a 21,8 casos por 100 mil habitantes.

Em 2016, 827 mil pessoas viviam com o HIV no Brasil, enquanto 112 mil brasileiros tinham o vírus, mas não sabiam. No mesmo ano, também foram notificados 87.593 casos de sífilis e aumento do número de pessoas com hepatite C: 4 doentes para cada 100 mil habitantes em 2003, contra 6,5 casos em 2016.

Médica infectologista da Aliança Instituto de Oncologia, Joana D'arc Gonçalves lembra que "as políticas públicas de saúde sempre foram pautadas pela manutenção e preservação dos direitos sociais e inclusão social, nunca foi exclusiva". "Deixar de falar na população LGBT em campanhas fará com que eles deixem de existir ou promoverá maior discriminação?", questiona.

É uma questão de respeito às diferenças. Respeitá-los é promover vida em sociedade. Os LGBTs sempre foram incluídos até para manutenção e apoio às chamadas 'populações Chaves', que merecem um cuidado diferenciado

Joana D'arc Gonçalves, médica infectologista da Aliança Instituto de Oncologia