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Novo Mais Médicos enfrentará teste para evitar evasão, diz professor da USP

Bolsonaro lança o substituto do programa Mais Médicos ao lado do ministro da Saúde, Mandetta (à esq.) - Reprodução
Bolsonaro lança o substituto do programa Mais Médicos ao lado do ministro da Saúde, Mandetta (à esq.) Imagem: Reprodução

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

02/08/2019 04h00

A estabilidade do plano de carreira e os altos salários oferecidos pelo substituto do programa Mais Médicos, o Médicos pelo Brasil, podem assegurar a fixação dos profissionais de saúde em regiões de difícil acesso e vulnerabilidade social. A opinião é do professor da Faculdade de Medicina da USP Mario Scheffer, que também é autor do mais completo estudo demográfico da categoria. Para ele, o novo programa, anunciado ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, evita algumas "distorções".

O programa, que planeja abrir 18 mil vagas, promete aos médicos um plano de carreira em que eles podem receber até R$ 21 mil no primeiro ano de atuação com a promessa de ganhos de até R$ 31 mil ao longo do tempo. Os valores são muito superiores ao que era pago aos profissionais do Mais Médicos, que tinham bolsa de R$ 11.800 e ajuda de custo.

"Como agora há muitos novos médicos formados nas escolas privadas abertas nos últimos anos, talvez eles tenham interesse em ocupar as vagas nos municípios em troca dessas vantagens", afirmou Scheffer ao UOL.

Serão quatro níveis salariais reajustados a cada três anos de participação no programa. Além disso, os médicos receberão gratificação de 11% a 30% por desempenho. "O primeiro nível pode chegar até R$ 21 mil e, gradativamente, chegar a R$ 31 mil", afirma o Ministério da Saúde.

Para o professor, Bolsonaro manteve "o principal componente, que é o financiamento federal de médicos para atenção primária em municípios desassistidos".

Os critérios de elegibilidade de municípios parecem mais adequados. Eles podem evitar distorções como o [programa] anterior, que alocava médicos na capital paulista, cidade com mais de 60 mil médicos
Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP

Das 18 mil vagas a serem abertas, 13 mil ficam em locais "de difícil provimento" --cerca de 7.000 vagas serão destinadas a regiões de "maior vazio assistencial". A princípio, serão 4.823 municípios atendidos no primeiro ano. O número de localidades irá mudar a cada ano, de acordo com a demanda.

Para escolher os municípios participantes, o ministério utilizará a classificação dos espaços rurais e urbanos utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nas cidades intermediárias e urbanas, os médicos serão distribuídos de acordo com o número de pessoas cadastradas em programas sociais, como o Bolsa Família.

Scheffer diz, no entanto, que, para garantir a fixação desses médicos, será preciso "testar" se as "três novidades" serão de fatos atrativas, como espera o governo: "Bolsa-formação de valor maior que a atual; possibilidade de se tornar especialista sem cursar residência médica e a possibilidade de entrar na carreira (contrato por CLT) após dois anos".

O médico não se surpreendeu com a ausência de vagas para médicos cubanos. Eles serão substituídos conforme forem acabando seus contratos. "Não [me surpreendo], porque uma das marcas do atual programa é justamente a ausência de cubanos."

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