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Covid-19: Inaugurado por Pazuello, hospital ativa 6 de 32 UTIs prometidas

Hospital de referência no combate ao novo coronavírus em Macapá, no Amapá - Marcio Pinheiro/Agência Amapá
Hospital de referência no combate ao novo coronavírus em Macapá, no Amapá Imagem: Marcio Pinheiro/Agência Amapá

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Ponta Grossa

13/06/2020 15h54

Inaugurado em 5 de junho pelo ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, o quinto hospital de campanha para tratar pacientes com covid-19 no Amapá conseguiu ativar somente 24 dos 109 leitos prometidos desde o evento de abertura.

Fiscalizações apontam a falta de remédios, equipamentos e profissionais como causas para o problema. Segundo o Ministério Público (MP) do Amapá, até ontem, 35 pessoas com o novo coronavírus esperavam por um leito. O estado tem 15.683 casos confirmados e 312 óbitos.

O hospital de campanha, que é chamado de Centro Covid-HU, tem hoje seis dos 32 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ativos, informou ao UOL o diretor Aljerry Dias. Dos leitos clínicos prometidos, dez funcionam. Já na ala pediátrica, estão ativos oito. Os números também são confirmados pelo Ministério Público e pela Comissão da Saúde da Assembleia Legislativa.

O Centro Covid está montado no Hospital Universitário (HU). O prédio estava em obras e teve parte de sua estrutura cedida pela Universidade Federal do Amapá (Unifap). O governo estadual se responsabilizou em ativar os leitos, o que incluiu a contratação de profissionais, equipamentos e remédios.

De acordo com o Ministério Público, apesar do anúncio de 109 leitos, há pacientes com covid-19 aguardando a transferência para unidades especializadas no atendimento da doença. Até ontem, existiam 18 pessoas internadas no Hospital de Emergência, em Macapá, e 17 no Hospital Estadual, em Santana, totalizando 35 casos. Essas unidades não têm estrutura e os pacientes com o novo coronavírus se misturam com os de outras doenças.

"O Estado afirma ter capacidade de instalação de leitos no Hospital Universitário, logo, não há qualquer justificativa para que pacientes de covid-19 continuem internados em hospitais, visto que eles também funcionam como porta de entrada para outras enfermidades. Essas pessoas não podem continuar correndo risco de contaminação por falta de efetividade no fluxo de atendimento e no sistema de regulação de leitos", declarou a promotora de Justiça, Fábia Nilci.

Segundo a prefeitura de Macapá, além de terem pacientes na rede estadual aguardando por vagas em hospitais de campanha, até ontem duas pessoas com covid-19 esperavam pela transferência em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

As unidades conseguem atender apenas casos de prevenção e tratar os primeiros sintomas, mas não têm capacidade para internar nenhum paciente com covid-19 porque, de acordo com a prefeitura, é um atendimento de média e alta complexidade, o que seria responsabilidade do governo estadual.

Ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, caminha ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) - Ascom/Davi Alcolumbre - Ascom/Davi Alcolumbre
Ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, caminha ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP)
Imagem: Ascom/Davi Alcolumbre

O caso fez a Justiça obrigar o governo do Amapá a transferir os pacientes das UBSs de Macapá para os hospitais estaduais. A decisão é de terça-feira (9). Questionada pelo UOL, a prefeitura informou todos foram transferidos e, até a manhã de hoje, não existiam mais pacientes nas unidades.

"Recebemos denúncia de poucos leitos em funcionamento [no hospital] e [em situação] diferente do [que havia sido] anunciado. São essas coisas que chegam, como falta de medicamentos e insumos", afirmou o membro do Conselho Estadual de Saúde, Kliger Campos. A entidade também acompanha o caso.

Comissão pode convocar secretário

O número de leitos anunciados ante ao que existe funcionando foi alvo de inspeção da Comissão da Saúde. Com as informações em mãos, os deputados podem votar uma convocação do secretário de Saúde, Juan Mendes, para esclarecer o que os parlamentares chamam de "falta de transparência" nos dados.

No Painel Coronavírus Amapá, mantido pelo estado, por exemplo, consta que hoje existia apenas um leito de UTI disponível em todo o estado. Porém, o dado não informa se é na rede pública ou privada. O número também é difere do informado pelo governo em um texto em seu site oficial. Nele, constavam 11 leitos de UTIs vagos.

O Ministério Público afirma que, além do Centro Covid-HU, outras duas unidades destinadas ao tratamento de pacientes com o novo coronavírus em Macapá enfrentam problemas. Nesses dois locais, 14 dos 84 leitos estão inativos pelos mesmos problemas do Centro Covid-HU.

"Você pode inaugurar um leito, mas desde que haja transparência nos números, e não anunciar 30 leitos e passar uma 'pseudonormalidade', o que não acontece. Falta transparência neste momento. Estamos fazendo essa cobrança e é possível que caso não ocorra a normalização dessa situação, podemos enviar um convite para o secretário de Saúde. Primeiro é um convite e caso se negue - o que acredito que não acontecerá - poderemos votar uma convocação", adiantou o deputado Antônio Furlan (Cidadania), membro da comissão de Saúde

Abertura depende de medicações, diz diretor

De acordo com o diretor do Centro Covid-HU, Aljerry Dias, a previsão é aumentar o número de leitos ao longo da próxima semana, mas ainda sem a capacidade prometida. Ele confirmou que a quantidade está abaixo da anunciada pela falta de medicamentos e profissionais.

"[A abertura] depende de maior aquisição de medicações e do treinamento da equipe profissional para atuar. Temos hoje seis leitos de UTI ativos e o nosso planejamento é até sexta-feira [19] ativar outros 12. Dos de enfermarias, queremos chegar em até 25", ratificou ao UOL.

A reportagem questionou o governo do Amapá sobre os itens elencados pelos órgãos de fiscalização, mas não obteve resposta. Em entrevista ontem ao site oficial do estado, o secretário de Saúde, Juan Mendes, afirmou que para abrir um leito é preciso "planejar" e "preparar o local". Ele não citou falta de medicamentos.

Apesar de o MP listar 35 pacientes à espera de um leito, Mendes disse que o hospital de campanha ainda não tem demanda.

"Para você planejar um leito demanda tempo, precisa preparar o local, equipes, medicamentos, equipamentos e insumos disponíveis. Nós conseguimos isso para os 109 leitos do HU. Caso tenhamos a ocupação total dos nossos centros de covid, aí sim temos a possibilidade de mandar esses pacientes para o HU. Quando houver essa demanda nós conseguiremos ampliar de leitos contingenciados para ativos", explicou.