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Médicos viram réus por homicídio ao ignorarem sintomas de covid em idoso

Hospital de Laranjeiras do Sul possuía cinco leitos de UTI para covid-19 - Divulgação/Agência Paraná
Hospital de Laranjeiras do Sul possuía cinco leitos de UTI para covid-19 Imagem: Divulgação/Agência Paraná

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

18/02/2021 19h03

A Justiça do Paraná tornou réus por homicídio culposo dois médicos suspeitos de negligência no atendimento a um idoso de 66 anos com suspeita de covid-19, em Cantagalo. A decisão do judiciário foi publicada ontem. Os profissionais são suspeitos de ignorarem os sintomas da doença causada pelo novo coronavírus, o que teria provocado a morte do paciente, em junho de 2020.

Segundo denúncia do MP (Ministério Público) do Paraná, a vítima identificada como João Batista Lima Coutinho procurou atendimento em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) de Cantagalo por três vezes entre 24 e 25 de junho de 2020, com sintomas de covid-19 que já permaneciam há dez dias: dores de cabeça e estômago, nas costas, além de febre, tosse e falta de ar.

Mesmo com os indícios, o MP diz na denúncia que o médico Elzio Teixeira Machado, de 69 anos, agiu "de forma negligente, por omissão, deixando de observar o dever objetivo de cuidado" ao não seguir os protocolos de diagnóstico para suspeitas de covid-19.

O médico teria receitado apenas soro para tratamento, sem autorização da transferência imediata para atendimento no Instituto São José, unidade especializada que fica em Laranjeiras do Sul, a 36 quilômetros de Cantagalo.

"[O médico] desconsiderou a necessidade de imediato encaminhamento imediato ao Instituto São José, descartou a hipótese diagnostica de covid-19 sem a realização de exame, ministrando soro sem acompanhamento do paciente, mesmo com o episódio de tosse, dores no corpo, dificuldade respiratória, febre e histórico de visita na unidade", narra a ação penal do MP, obtida pelo UOL.

Somente com a piora no quadro de saúde que o idoso foi levado em 25 de junho ao Instituto São José. Lá, de acordo com o MP, o segundo médico réu, identificado como Piero Victor Deki Serur, de 27 anos, também teria agido com suposta negligência.

O médico descartou a hipótese de covid-19, mesmo com a saturação do idoso em 85%. Ainda assim, a ação penal destaca que a insuficiência respiratória verificada não fez o profissional recomendar o uso de ventilação mecânica. A unidade contava com oito aparelhos e cinco leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) disponíveis no momento do atendimento. O idoso faleceu em um dia depois.

"Ao não verificar a gravidade do seu quadro de saúde ou seus exames, ressalta-se mais uma vez que o denunciado [Piero Serur] manteve o mesmo erro cometido por Elzio ao refutar qualquer hipótese de diagnóstico e tratamento de covid-19, mantendo o tratamento para pneumonia, contribuindo para a morte da vítima", afirma a denúncia.

Médico ignorou covid-19 porque não havia casos na cidade

Em consulta ao processo na Justiça, o UOL verificou que ambos os médicos ainda não constituíram advogados de defesa. A reportagem ligou nos consultórios, mas os telefones apenas chamaram.

Ao ser questionado pelo MP, o médico Pieri Serur respondeu através de ofício que "não se aventou, inicialmente, a possibilidade para caso suspeito de covid-19, pois à época, a infecção ainda não tinha casos em Laranjeiras do Sul e nem havia distribuição comunitária".

Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde do Paraná ainda não respondeu se o médico continua atendendo casos de covid-19.

O médico Elizio não teve a sua justificativa incluída na peça apresentada pelo MP à Justiça. O UOL entrou em contato com a prefeitura de Cantagalo, órgão no qual o profissional é vinculado, também para saber se continua no atendimento, mas ainda não obteve retorno.

Elizio foi o primeiro a ser vacinado contra a covid-19 em Cantagalo, conforme consta no site da prefeitura.