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Pesquisadora de vacina lamenta impacto da suspensão e vê motivação política

Sue Ann Costa Clemens liderou testes da vacina de Oxford - Arquivo pessoal
Sue Ann Costa Clemens liderou testes da vacina de Oxford Imagem: Arquivo pessoal

Colaboração para o UOL

17/03/2021 07h52

Sue Ann Costa Clemens, pesquisadora que coordenou os estudos da vacina de Oxford no Brasil, lamenta que a aplicação do imunizante tenha sido suspensa em alguns países da Europa. Ela entende que é importante investigar possíveis eventos adversos. Mas também enxerga possível motivação política e acredita que o impacto disso será muito grande.

"Na Europa morrem 3 mil pessoas por dia (por covid-19). Aqui, no Brasil, são 2 mil. Houve outras vacinas em que aconteceu um debate sobre efeitos adversos e que não parou desse jeito. O impacto disso é muito grande. A gente está pior hoje em relação à doença, apesar da vacina. É muita responsabilidade parar uma vacinação. Eles querem se precaver, mas não pensam no impacto de saúde pública", afirmou Sue em entrevista ao jornal O Globo.

Diversos países europeus, incluindo membros da União Europeia - Alemanha, França e Itália - suspenderam o uso do imunizante nos últimos dias. Eles querem investigar casos isolados de hemorragia, formação de coágulos sanguíneos e baixa contagem de plaquetas em pessoas que receberam a vacina. Mas a OMS (Organização Mundial da Saúde), a EMA (Agência Europeia de Medicamentos), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) recomendam o uso e dizem que os benefícios do produto são maiores do que eventuais riscos.

Questionada sobre os motivos que causaram a suspensão, Sue mostrou confiança na vacina de Oxford e disse que "muitos comitês internacionais não têm experiência com vacinação". Além disso, levantou a hipótese de uma represália.

"É uma opinião pessoal, mas acho que é uma questão política. O Reino Unido já vacinou mais de 11 milhões de pessoas em três meses. O resto da Europa deveria ter recebido mais doses e não recebeu. Vários produtores estão com atrasos importantes, é uma situação a nível mundial de falta de vacina mesmo. Então pode ser uma cobrança para que sejam entregues as doses, um tipo de reação à não entrega", declarou Sue.

A pesquisadora apresentou dados que explicam a confiança dela na vacina. Ela explicou que, entre vacinados, a incidência de trombose e embolia é menor do que entre a sociedade geral. E destacou que a vacina da Pfizer apresenta resultado parecido sobre o mesmo problema.

"Varia de país para país, mas a incidência no Reino Unido desse tipo de problema é de um caso para mil pessoas. Não é raro. Foram registrados 12 casos de tromboembolismo em 8,4 milhões de vacinados com a AstraZeneca. Entre quem tomou vacina da Pfizer, foram 15 casos. Ambos os números são infinitamente menores do que na população geral. Os casos de trombose profunda foram 15 enquanto o esperado na população seria 704. Foram 22 casos de embolia, quando o esperado seria 860", argumentou a pesquisadora.

Sua contou ainda que, na fase 3 de testes, o grupo placebo, formado por pessoas que recebem uma substância sem vacina, teve mais eventos tromboembólicos do que o grupo de vacinados.