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Saúde de bebês que tomaram vacina da covid por engano piora, dizem mães

Ana Cláudia com a família. Liz, de 2 meses, recebeu vacina da covid por engano Imagem: Arquivo Pessoal

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

08/12/2021 13h04

Piorou o estado de saúde dos dois bebês que na semana passada receberam por engano uma dose da vacina da Pfizer contra a covid-19 recomendada para maiores de 12 anos em um posto de saúde em Sorocaba (interior de São Paulo). Enquanto Miguel, de 4 meses, esteve sob suspeita de infecção por bactéria, Liz, de dois meses, passou por três convulsões, contaram as mães dos bebês ao UOL.

Segundo a Prefeitura de Sorocaba, as doses recebidas pelos bebês foram de 30 microgramas, três vezes maior que o recomendado para crianças de 5 a 11 anos — no Brasil, o imunizante para esta faixa etária ainda não foi aprovado. A vacina da Pfizer contra covid-19 ainda não é recomendada para bebês — há um estudo, ainda em andamento, sobre a possibilidade.

No dia 1º de dezembro, as mães de Liz e Miguel levaram seus bebês à UBS (Unidade Básica de Saúde) Nova Sorocaba para receberem a vacina pentavalente —contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b—, recomendada aos 2, 4 e 6 meses de idade.

Uma funcionária do posto, no entanto, confundiu os frascos e aplicou uma dose da vacina contra a covid-19. "A técnica de enfermagem que fez a aplicação foi afastada da sala de procedimentos injetáveis até a apuração e verificação das medidas que serão tomadas", informou a Prefeitura de Sorocaba.

Procurada para comentar o agravamento do estado de saúde dos dois bebês, a prefeitura respondeu apenas que "os bebês estão bem e estáveis". "Eles seguem sob observação e monitoramento em leito de Enfermaria."

Quadro de saúde se agrava

Depois de identificado o engano, Liz e Miguel foram internados no Gpaci (Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil) na última quinta-feira (2), onde deveriam ficar internados até o dia de hoje. Mas a piora no estado de saúde dos bebês prorrogou esse prazo.

Mãe da Liz, a microempresária Ana Cláudia Mugnos Riello, 32, conta que a filha passou por três convulsões, o que nunca havia acontecido.

"Logo no primeiro dia de internação, a Liz ficou roxinha e os olhos começaram a tremer", conta Ana. "A médica disse que eu é que estava emocionada, nervosa."

No dia seguinte, o episódio se repetiu. "A bola do olho treme e ela fica roxa. Pedi ajuda e ninguém deu atenção. No outro dia, aconteceu de novo."

Daí eu sai com ela pelo corredor, veio uma técnica de enfermagem e me disse: 'Ai que estranho nunca vi isso', como se eu estivesse mentindo".
Ana Cláudia Mugnos Riello, mãe da Liz

"Eu insisti com a pediatra, que pediu uma avaliação neurológica. A neurologista fez os exames e confirmou que era uma convulsão", diz Ana. "Ela falou que vão investigar para saber se tem relação com a vacina."

Desde então, Liz recebe 24 gotas do Fenobarbital, um remédio para convulsão. São 12 gotas de manhã e 12 à noite. "Agora ela está bem. Está mais animada e passa mais tempo acordada", conta.

A equipe médica pediu uma ressonância magnética, um hemograma e um eletroencefalograma, "mas não agendaram a ressonância porque não tem no hospital e precisa aguardar vaga no SUS [Sistema Único de Saúde]", diz a mãe. "Até quando eu vou esperar?"

Após as convulsões, Liz permanecerá internada por tempo ainda indeterminado.

"Meu filho teve tremedeira"

Já a mãe do Miguel, a dona de casa Kethillyn Fernanda Monteiro da Silva, 19, achou que o filho também estivesse passando por convulsão quando, ao acordar, encontrou o filho tremendo dos pés à cabeça.

Kethillyn com o marido e o filho, Miguel Imagem: Arquivo Pessoal

"Chamei a enfermeira, que chamou outra, que chamou a pediatra", conta. A médica descartou a possibilidade de convulsão. "Ela me disse que podia ser uma bactéria e que o corpo do Miguel estava reagindo contra ela, o que em breve causaria uma febre muito alta."

"A médica me disse que vão investigar se existe relação com a vacina", diz Kethillyn. "Agora ele está tomando soro, dipirona para a febre e antibiótico."

Tomei um choque porque eu estava esperando sair hoje do hospital. Ele vai ficar internado pelo menos mais sete dias."
Kethillyn Fernanda Monteiro da Silva, mãe do Miguel

Por volta das 12h de hoje, os exames indicaram que o bebê não está com bactéria.

Eu estou abalada. Todos os dias vem uma psicóloga conversar com a gente. Se não fosse ela, eu estaria em surto."
Ana Cláudia Mugnos Riello, mãe da Liz

O UOL pediu ao hospital uma entrevista com a equipe médica responsável pelo tratamento, mas não obteve resposta até esta publicação.

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