Caça a repelentes: produto some de farmácias após explosão de dengue no DF
Jéssica Nascimento
Colaboração para o UOL, em Brasília
17/02/2024 04h00
Com a explosão de casos de dengue no Distrito Federal, o aumento na busca por repelente nas farmácias tem deixado o produto mais caro ou em falta nas prateleiras. A venda de repelentes subiu 60% em 2024, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a entidade que representa os lojistas.
O que aconteceu
Prateleiras vazias ou com poucas opções. O UOL visitou farmácias na região e conversou com clientes e proprietários. Ele
'Repelente em falta'. Na porta de uma farmácia em Sobradinho, a 25 km do centro de Brasília, clientes encontram o aviso de que o produto acabou. A dona do local disse que a procura pelo produto aumentou em 300% desde janeiro e que está difícil consegui-lo no mercado.
Já estamos há mais de uma semana sem repelentes. A todo momento, chegam clientes querendo, ainda mais porque Sobradinho é uma das regiões com o maior número de casos. Só hoje, foram 30 pessoas procurando repelente. Quando chega estoque, acaba em muito pouco tempo. Também tememos o aumento no preço
Iluska Tavares, 41, dona de farmácia em Sobradinho (DF)
Sobradinho registrou uma morte em 2024. A cidade soma 1.187 casos de dengue no ano.
Pouca variedade. Na rua das Farmácias, no Plano Piloto, clientes ainda encontram o produto, mas com pouca variedade de marcas. Ao UOL, a advogada Marianna Grunewald, 32, disse ter notado o aumento nos preços. Ela também comparou a corrida aos repelentes com o sumiço de máscaras faciais e álcool em gel das prateleiras durante a pandemia.
Vi gente comprando mais de quatro repelentes para fazer estoque. As pessoas precisam ter consciência e deixar os produtos para as outras pessoas. A dengue é uma doença que mata, e todos precisamos nos proteger. Comprei um, que será suficiente para mim e meu marido
Marianna Grunewald, 32, advogada
Farmacêutica também teve dengue
Dona de farmácia também pegou dengue. A farmacêutica e dona de uma farmácia em Vicente Pires, a 18 km do centro de Brasília, disse que seus fornecedores subiram o preço dos repelentes em 50%, e que precisou repassar o aumento aos clientes. Ela própria já teve dengue este mês.
Todo mundo está em risco. Fui diagnosticada com dengue no início de fevereiro e tive muitos sintomas. Não conseguia nem ficar em pé. Por isso, tentamos ao máximo não deixar faltar repelentes aqui e, até o momento, temos estoque. Nossas vendas aumentaram em 80%. Muitas famílias compram mais ou menos cinco produtos. Ninguém quer ficar sem.
Lívia Cardoso, 35, farmacêutica e dona de farmácia
Clientes fazem estoque. A gerente de outra drogaria na rua das Farmácias contou que as vendas aumentaram em 200% e que não há estoque suficiente para atender a demanda.
Já vi cliente levar de 10 a 15 produtos de uma vez. Muitas farmácias não estavam preparadas e se surpreenderam com o aumento na procura. Mas estamos por aqui, conseguindo lidar bem. Não faltam repelentes, mas algumas marcas estão difíceis de encontrar.
Juliana Marques, 25, gerente de drogaria
A publicitária Izabelly Feigo, 33, relatou ter visitado oito farmácias tentando encontrar um repelente para levar em uma viagem.
Só fui encontrar repelente no Pará. Todos estamos muito assustados com o aumento no número de casos e, além dos cuidados em casa, a gente precisa se proteger
Izabelly Feigo, 33, publicitária
Setor prevê preços mais altos em março
Drogarias não estavam preparadas para a alta demanda. Erivan Araújo, presidente do SincoFarma-DF (Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal), afirma que muitos estabelecimentos se prepararam para a venda de repelentes durante o verão, mas os estoques começaram a esgotar mais cedo que o esperado.
Já falta produto em algumas drogarias, e aquelas que ainda têm estoque devem repô-lo apenas a partir de março. Essas farmácias já vão adquirir os repelentes com um preço em torno de 16% a 18% mais alto. Torcemos para que as coisas melhorem, para a que a gente não tenha uma ruptura completa do produto nas prateleiras
Erivan Araújo, presidente do SincoFarma-DF
Casos de dengue explodem no DF
A aflição no DF aumenta a cada boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde.
O último mostra que, até quarta-feira (14), foram 20,4 mil casos prováveis em uma semana, totalizando 67.897 desde o início do ano. Desse total, 66.361 são moradores do Distrito Federal e 1.536 de outras Unidades da Federação, mas que foram atendidos na rede pública do DF. Até 10 de fevereiro, foram confirmadas 23 mortes por dengue. Outros 66 casos estão em investigação.