Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Galípolo soa como Campos Neto, e Lula o dispensa das caneladas

Uma entrevista conjunta de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto marcou nesta quinta-feira a troca de comando no Banco Central. Na contramão da retórica de Lula e do PT, Galípolo distanciou-se da tese segundo a qual o mercado financeiro é 100% feito de terroristas, sinalizou a manutenção da política de juros lunares e disse não enxergar na alta do dólar um ataque especulativo contra o real.

Solidificou-se a percepção de que o novo BC é muito parecido com o velho. A única diferença notável é que, por enquanto, Lula dispensou Galípolo das caneladas que costumava desferir em Campos Neto. No domingo passado, ao receber alta da internação no Hospital Sírio-Libanês, Lula afirmou que "a única coisa errada nesse país é a taxa de juros, que está acima de 12%".

Lula sustentou que a inflação está "totalmente controlada". Declarou que "a irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros e não do governo federal". Nesta quinta-feira, autorizado pelos médicos a retornar para Brasília, Lula presenteou Galípolo com o seu silêncio. Começa a perceber que terá que arrumar um alvo novo sobre o qual possa acomodar todas as culpas.

Ciente do que está por vir, Galípolo afirmou a certa altura: "A gente vai lidar com pressões políticas. Todo mundo tem o direito de opinar. Mas a decisão é feita na reunião do Copom pelos nove diretores" do BC. Sete dos nove diretores que dão as cartas no Conselho de Política Monetária foram escalados por Lula. E a taxa de juros de março, já contratada na atual gestão, será de 14,25%.

"O que vai acontecer dali para frente vamos ter de esperar", disse Galípolo, antes de sinalizar um viés de alta. "Está bem claro em qual direção a gente deu esse passo: caminhar para uma taxa de juros em patamar restritivo com alguma segurança." Segundo Galípolo, "a barra é alta para fazer qualquer mudança." Ficou entendido que o novo BC já não veste a camisa da Seleção Brasileira, símbolo nacional sequestrado pelo bolsonarismo. Mas também não parece disposto a experimentar a camisa vermelha do PT.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.