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Dengue: por que vacinação ainda é baixa mesmo em meio à explosão de casos

Público-alvo das vacinas em 2024 é formado por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress/9.fev.2024

Do UOL, em São Paulo

19/03/2024 04h00Atualizada em 19/03/2024 07h21

O Brasil vive uma explosão no número de casos de dengue, com mais de 1,8 milhão de registros prováveis e 11 estados que já decretaram situação de emergência por causa da alta incidência da doença entre os habitantes. Mesmo assim, a adesão à vacina patina no país.

O que aconteceu

Pouco mais de um mês depois do início da vacinação, apenas 30,8% das doses distribuídas foram aplicadas até quinta-feira (14). Segundo o Ministério da Saúde, de 9 de fevereiro até semana passada, 381.029 doses foram aplicadas de um total de 1.235.236 já distribuídas.

Falta de percepção do risco, fake news e comunicação pouco efetiva estão entre os fatores citados por especialistas ouvidos pelo UOL que ajudam a explicar a baixa vacinação. "Tem uma questão de percepção de risco que a criança talvez não seja tão acometida pela doença. Também tem um problema de questão logística, é uma faixa etária muito estreita, com doses chegando picadas", avalia Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

"Vacinas sofreram ataque covarde e fraudulento com fake news e pseudociência." A afirmação é de Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Isso acabou, infelizmente, respingando em todas [as vacinas]."

O Ministério da Saúde diz ter comprado todo estoque disponível de vacinas contra a dengue em 2024 e 2025. A pasta informou coordenar um esforço para ampliar o acesso ao imunizante, solicitou prioridade para essa ação e diz que atuará em conjunto com o Instituto Butantan e a Fiocruz para expandir a produção de vacinas para o Brasil.

Público-alvo das vacinas em 2024 é formado por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. O grupo concentra o maior número de hospitalizações por dengue, depois de pessoas idosas. Inicialmente, a Saúde havia recomendado que a vacinação começasse em pessoas de 10 a 11 anos, mas ampliou a faixa etária diante da baixa procura.

Há dificuldade de levar crianças e adolescentes para as unidades de saúde. "A literatura médica mostra que para todos os tipos de vacina é muito difícil levar essa faixa etária para a sala de vacinação, tanto por conta da agenda dele como da família", explica Isabella Ballalai, segunda-secretária e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Os médicos avaliam que vacinar nas escolas seria importante para aumentar a cobertura. O governo federal, no entanto, passou a recomendar que a imunização ocorra nas unidades de saúde após registros de reações alérgicas. A nova recomendação é a de que sejam feitas observações por 15 a 30 minutos após a aplicação. Apesar desses registros, a vacina é considerada segura.

O Brasil bateu ontem o recorde de contaminações pela doença em um ano. Foram registrados 1.889.206 casos prováveis de dengue em 2024. No mesmo período do ano passado, eram 400.197.

A vacinação segue caminhando bem, em alguns lugares um pouco mais rápido, em outros lugares um pouco mais lento. Agora, eu diria que a gente tem uma limitação porque nós estávamos nos programando para incorporar na estratégia de vacinação na escola e, com os casos [de reações alérgicas] que nós identificamos logo nos primeiros momentos do nosso sistema de farmacovigilância, a gente está orientando para que essa vacinação seja feita nas unidades de saúde.
Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente

Nem todos os estados receberam imunizantes

Das 27 unidades federativas do Brasil, apenas 16 estados e o Distrito Federal receberam vacinas. O Ministério da Saúde usou como critério para a distribuição regiões formadas por municípios de grande porte, ou seja, com mais de 100 mil habitantes, com alta transmissão da dengue registrada em 2023 e 2024 e com maior predominância do sorotipo DENV-2 (a dengue tem quatro sorotipos).

Das 17 unidades contempladas, nove já declararam situação de emergência. São elas: Acre, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Amapá e Rio Grande do Sul completam a lista de estados com decretos de emergência publicados, mas não receberam doses.

Apenas 521 municípios foram selecionados para o recebimento das duas primeiras remessas de imunizantes. Segundo a Saúde, 3.108.280 pessoas fazem parte do público-alvo de 10 a 14 anos. A cidade de São Paulo não recebeu nenhuma dose, segundo a prefeitura — a capital entrou em estado de emergência ontem.

É preciso fazer a informação chegar adequadamente. Como é uma vacina que não está disponível para todos, apenas de algumas cidades, às vezes isso fica dúbio.
Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria

Prioridades para a vacinação

Foi preciso definir prioridades para a vacinação porque o laboratório tem uma produção limitada de doses. A única vacina aprovada no país é a Qdenga, da empresa japonesa Takeda Pharma. O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas.

Dados da vacina disponíveis limitam-se à população com até 60 anos. No Brasil, ela foi aprovada pela Anvisa, em março de 2023, para prevenção da dengue causada pelos quatro sorotipos do vírus, para indivíduos de 4 a 60 anos, independentemente da exposição anterior à dengue.

No caso da dengue, a vacina não é resposta imediata para a epidemia. A principal justificativa é o intervalo de três meses entre as duas doses. Por ter um tempo mais longo, a imunização não é vista como a solução para a situação de emergência. "A vacina terá um impacto restrito", disse a ministra Nísia Trindade, em fevereiro. "Não podemos vender ilusão."

Estamos vivendo a maior epidemia de dengue da história do Brasil. Precisa haver sensibilização, vacinar é um ato de amor, não tem outra forma de resumir.
Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia

Como se proteger

  • Fique atento aos sintomas:
  • Febre alta;
  • Dor no corpo e nas articulações;
  • Dor atrás dos olhos;
  • Mal-estar;
  • Dor de cabeça; e
  • Manchas vermelhas no corpo.

Em caso de sintomas, procure uma UBS (Unidade Básica de Saúde). Não faço uso de medicamentos sem conhecimento médico.

A dengue é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Por isso, a melhor forma de evitar a transmissão é combater a proliferação do inseto. Para isso, o importante é eliminar possíveis locais de armazenamento de água como manter a caixa d'água fechada e encher até a borda os pratos das plantas com areia.

É importante também usar repelente. Colocar no lixo todo objeto não utilizado que possa acumular água também é uma recomendação dos especialistas. Além disso, é preciso manter as calhas limpas e não deixe água acumulada sobre a laje.

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