IBGE: 1/3 do gasto das famílias com saúde em 2021 foi para comprar remédio
As famílias brasileiras gastaram R$ 168,3 bilhões em medicamentos em 2021, ano de pandemia, o que representa 33,7% de todas despesas que elas tiveram com saúde no ano. Os dados do IBGE foram divulgados hoje (5).
O que aconteceu
Gasto com remédio subiu em relação ao ano anterior. Os brasileiros gastaram R$ 143,1 bilhões com a categoria em 2020, o que correspondia a 31,8% das despesas com saúde.
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Eva Cerqueira, 59, ganha pouco mais de um salário mínimo (R$ 1.412, em 2024). Ela faz tratamento para hipertensão, problema na tireoide e diabetes e toma remédios que custam mais de R$ 300 por mês.
"Idade aumenta, e vão aumentando também os remédios", diz a empegada doméstica, que está perto de se aposentar. Ela conta que gasta cerca de R$ 100 por mês com os medicamentos, porque é beneficiada pelo programa Farmácia Popular, do governo federal.
São oito remédios por dia. Se eu tivesse que tirar tudo do meu bolso, me prejudicaria muito, comprometeria boa parte da minha renda. Se eu não fosse ajudada pelo governo, pagaria mais de R$ 300 facilmente. Amanhã mesmo estou indo ao posto buscar mais remédio.
Eva Cerqueira, empregada doméstica
O subsídio para o programa Farmácia Popular caiu em 2021, para R$ 2,4 bilhões. No ano anterior, foram R$ 2,5 bilhões.
Os gastos com saúde têm uma tendência de alta, tanto pelo envelhecimento da população como pela incorporação de novas tecnologias em saúde e devido ao aumento de medicamentos e planos de saúde.
Tassia Holguin, técnica do IBGE e analista da pesquisa
Os remédios e os planos de saúde sofrem reajustes anualmente. Em 2021, por exemplo, o aumento autorizado foi de 10,08%. Neste ano, foi menor, 4,5%.
Saúde privada também puxa gastos
No total, as famílias gastaram R$ 499,2 bilhões com saúde em 2021. Além dos remédios, o número foi puxado por despesas com saúde privada, como plano de saúde e médico particular. Instituições sem fins de lucro a serviço das famílias, como redes filantrópicas, gastaram R$ 10,06 bilhões com saúde privada.
É com a saúde privada que o brasileiro mais gasta no setor. De acordo com o IBGE, foram R$ 318 milhões em 2021 para pagamento de planos e médicos, 62,4% das despesas das famílias com saúde. Em 2020, foram R$ 285,6 milhões (63,5%).Outras despesas representam cerca de 2,6% dos gastos com saúde. São aparelhos e instrumentos para uso médico e odontológico (R$ 851 milhões), outros materiais para uso médico, odontológico e óptico, inclusive prótese (R$ 11,5 bilhões), e preparações farmacêuticas (R$ 412 milhões).
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A fatia dos gastos com saúde em relação às despesas totais das famílias caiu em 2021, mas subiu em 11 anos. Em 2010, início da série histórica do IBGE, a proporção era de 7,3%. Em 2020, primeiro ano de pandemia, atingiu 9,4%, número que caiu para 9,2% no ano seguinte. Para efeito de comparação, o salário mínimo era de R$ 1.100 em 2021.
Gasto per capita de R$ 2.388 no ano
As famílias gastaram R$ 2.387,50 por pessoa com saúde em 2021. Despesas do governo com saúde corresponderam a R$ 1.703,6 per capita, totalizando R$ 363,4 bilhões.
Despesa dos brasileiros com saúde atingiu 5,7% do PIB (Produto Interno Bruto).
Considerando o total gasto por famílias e governo, foram R$ 872,7 bilhões, ou 9,7% do PIB. Em 2020, os gastos com saúde totalizaram R$ 769 bilhões, o equivalente a 10,1% do PIB.
Brasileiro está consumindo mais produtos e serviços de saúde. As famílias brasileiras registraram um aumento de 7,1% no consumo anual com saúde em 2021. Isso quer dizer que mais compras na farmácia, mais cirurgias e mais idas ao médico.
Influência da pandemia
Contudo, durante o primeiro ano de pandemia, esse volume de consumo caiu 1,7%. A redução seria consequência do isolamento social provocado pela covid-19, já que as pessoas reduziram as idas a consultórios, farmácias etc.
Enquanto os gastos com saúde privada aumentaram por causa da pandemia, outras categorias caíram. Por exemplo, gastos com aparelhos, instrumentos e outros materiais para uso médico, odontológico e óptico, como próteses, óculos e lentes.
Número de intervenções médicas e cirúrgicas diminuiu durante a pandemia.
Os gastos do governo com saúde pública também aumentaram no período. Em 2019, o Estado teve despesas de R$ 226,4 bilhões com o setor. No primeiro ano da covid-19, os gastos subiram para R$ 255,4 bilhões. Em 2021, houve outro salto, para R$ 290,1 bilhões.
Durante a pandemia, o setor da saúde contribuiu menos para a economia. O setor contribuiu 3,9% a menos para a economia em 2020, enquanto as demais atividades recuaram 3,1%. Em 2021, o valor adicionado das atividades relacionadas à saúde cresceu 7,4% —as demais subiram 4,3%.