Ludhmila Hajjar: 'Onda de picaretagem assola a medicina no Brasil'
Colaboração para o UOL, em São Paulo
19/06/2024 04h00
Conhecida por atender nomes que vão de Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff a Anitta, a médica Ludhmila Hajjar disse que a "onda de picaretagem" que atinge a medicina no Brasil está relacionada ao aumento da formação de médicos sem vocação para a área. Em entrevista ao "Alt Tabet", no Canal UOL, a cardiologista frisou que esse não é um fenômeno exclusivo do país, mas de todo o mundo.
Hajjar afirmou haver "múltiplos fatores que culminaram nessa onda de picaretagem que hoje assola a medicina e a ciência". "Esse não é um fenômeno só brasileiro, é mundial. Mas o Brasil está vivendo o cúmulo disso".
Para a médica, a maior facilidade em se adquirir um diploma de medicina tem impacto nesse cenário porque há muitos profissionais preocupados apenas com o dinheiro, não com o paciente. "Não tenho dúvidas [disso] e eles estão por aí. Fico indignada. São pessoas que não têm talento nenhum, que não têm a vocação básica [para exercer a medicina] que é gostar de gente. E aí o que nos selecionava? Você tinha que estudar muito para passar em um vestibular que era difícil, mas houve uma tragédia no Brasil chamada proliferação indevida de faculdades de medicina. Hoje a gente só perde para a Índia, somos o segundo país no mundo em números de faculdades de medicina, a maioria é privada e de baixa qualidade".
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Ludhmila destacou que muitas instituições não oferecem o básico para a formação do médico, sem professores adequados e hospital universitário. "[Forma] esse pseudomédico que não sabe nada e não faz prova de residência. É esse cara que vai estar no posto, na UPA, que vai atender um infarto, achar que é uma dor e passar um anti-inflamatório. É isso que nós estamos vivendo, o pior momento da formação médica no Brasil".
Ludhmila Hajjar, que foi sondada para ser ministra da saúde durante o governo Jair Bolsonaro (PL), admitiu não ter essa pretensão, mas ressaltou que já se imaginou no cargo. "Durante a pandemia de covid-19, com tudo que o Brasil estava vivendo, eu recebi um telefonema do presidente Bolsonaro, fui conversar, discutir, mas não havia confluência de ideias e eu não conseguiria trabalhar e fazer nada naquele governo. Naquele momento vivi aquela dúvida na minha cabeça. Hoje, nesse momento, eu não iria. Não digo que um dia não irei, mas se um dia eu for, vai ter que ser do jeito que eu acho que tem que ser. Eu vou lá para cuidar da saúde das pessoas, para atuar como atuo hoje, da maneira correta, como tem que ser, sem fazer política com a medicina".
A picaretagem médica piorou com a covid. As pessoas muito doentes, um país que virou a onda para o negacionismo e mostrou como a formação médica está terrível e superficial, porque os caras começaram a vender ozônio, utilizar terapias jamais comprovadas para doenças graves. Estamos vivendo um ciclo maldoso e a gente precisa acabar com isso.
Atendimento a Bolsonaro após o atentado em 2018
Hajjar explicou que participou da primeira cirurgia de Bolsonaro logo após a facada e que cuidou dele "nas horas mais críticas". "Cheguei em um momento em que o paciente já estava sendo operado. Participei do final da cirurgia, da chegada dele na UTI, cuidei dele nas horas mais críticas e, assim que ele estabilizou, houve necessidade de transferência para São Paulo. Eu cumpri a missão que me foi dada".
A médica também rechaçou as fake news divulgadas na época de que a facada seria uma invenção. "É uma tristeza fazer isso, porque nessas horas não há julgamentos: é um paciente que sofreu um atentado grave, que quase morreu e que até hoje sofre as complicações disso. É indiscutível que isso é uma maldade [as fake news], isso impera na nossa sociedade, não é só uma questão médica. São pessoas ruins que usam o sofrimento dos outros para fazer política, ideologia e isso realmente tem que ser combatido".
Planos para o maior hospital do país: 'Será o melhor do mundo'
Hajjar contou que esse hospital, que ainda está no papel, "vai mudar a história da saúde desse país". "É um hospital que vai revolucionar os cuidados dos pacientes públicos do país e do mundo. Afirmo que vai ser um hospital inteligente, onde vamos alinhar tudo que há de inovação e tecnologia para atender pacientes do SUS".
Ludhmila explicou que é uma parceria que envolve os governos federal e do estado de São Paulo, além do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), o banco dos Brics. "É uma parceria de múltiplas mãos, de iniciativa do Hospital das Clínicas, com o apoio do governo federal, investimento da construção do NDB e com o apoio do governo estadual".
Alt Tabet no UOL
Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Ludhmila Hajjar: