Ministro de Israel diz que governo Lula persegue israelenses e amplia crise
Um ministro israelense divulgou, neste domingo (5), uma carta condenando a decisão da Justiça brasileira de abrir investigação contra um soldado israelense devido a sua atuação na guerra em Gaza.
O texto, intitulado "a perseguição de israelenses no Brasil pelo governo Lula", diz que a decisão da Justiça brasileira foi tomada "com o apoio do presidente Lula" e que é "uma vergonha para o governo brasileiro".
O soldado estava de férias na Bahia. Ele deixou o Brasil após o pedido de investigação. A decisão judicial, de 30 de dezembro de 2024, atendeu a um pedido de uma organização internacional.
Amichai Chikli, ministro de Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo de Israel, direcionou a carta ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), descrito como um "amigo de Israel".
"Devemos levantar nossas vozes contra tal conduta. Estou convencido de que a grande maioria dos cidadãos brasileiros decentes e patriotas rejeita as ações abomináveis uma nota de rodapé histórica indigna da história gloriosa do povo brasileiro", diz a carta.
Segundo o ministro, "apoiar aqueles que protegem os inocentes e combatem o terrorismo é uma postura moral que não pode ser contestada".
O fato de o judiciário brasileiro, com o apoio do presidente Lula, abraçar calorosamente os apoiadores do terrorismo e os negadores do Holocausto -- no momento em que nos aproximamos do 80º aniversário da libertação de Auschwitz -- é uma vergonha para o governo brasileiro.
Amichai Chikli, ministro de Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo de Israel, em carta divulgada por Eduardo Bolsonaro
Crise diplomática
A decisão da Justiça brasileira aprofunda a crise diplomática entre o Brasil e o governo de de Benjamin Netanyahu.
Netanyahu declarou Lula como persona non grata em 2024 e o Brasil retirou seu embaixador de Tel Aviv. Na ONU, o Itamaraty chegou a usar a palavra "genocídio" nos debates sobre Gaza, termo também usado por entidades como Anistia Internacional e a Human Rights Watch.
Na carta, o representante de Israel acusa a entidade que iniciou o caso contra o soldado como um grupo antissemita que, segundo ele, apoia o Hamas.
Pedido de investigação da PF
A Justiça Federal do Distrito Federal pediu que a PF investigue o soldado Yuval Vagdani, de 21 anos, atendendo a um pedido de advogados brasileiros contratados pela Fundação Hind Rajab (HRF), uma organização internacional, sediada na Bélgica, que defende os direitos palestinos.
Após a decisão, o soldado israelense deixou o Brasil — não se sabe em que data. Em nota à imprensa, a chancelaria de Israel disse que entrou em contato com o soldado Yuval Vagdani e com sua família ao longo do processo na Justiça brasileira. E que, de fato, "acompanhou" a retirada do soldado do Brasil.
Segundo a organização HRF, o soldado Vagdani é suspeito de participar da demolição de um quarteirão residencial em Gaza, no final de 2024, utilizando explosivos fora de situações de combate. As residências serviam de abrigo para palestinos deslocados internamente após o início da agressão "genocida" em 7 de outubro de 2023.
Na ação na Justiça brasileira, a organização diz ainda que Vagdani postou em redes sociais imagens da destruição em Gaza com a frase: "que possamos continuar destruindo e esmagando este lugar imundo sem pausa, até os seus alicerces".
Para a embaixada de Israel no Brasil, a HRF "está explorando de forma cínica os sistemas legais para fomentar uma narrativa anti-Israel tanto globalmente quanto no Brasil, apesar de saber plenamente que as alegações carecem de qualquer fundamento legal".
A embaixada de Israel afirmou também que o país "está exercendo seu direito à autodefesa após o massacre brutal cometido pelo Hamas em 7 de outubro. Todas as operações militares em Gaza são conduzidas em total conformidade com o direito internacional".
Questionado sobre o caso, o Itamaraty pediu que a coluna procurasse o Ministério da Justiça por "tratar-se de investigação judicial". O Ministério da Justiça foi procurado, mas ainda não respondeu.
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