Agência dos EUA recomenda a redução do consumo de açúcar
Especialistas em saúde falam há anos para os americanos reduzirem o consumo de açúcar, mas agora é oficial: a FDA (Food and Drug Administration, agência americana reguladora de alimentos e fármacos) está recomendando pela primeira vez um limite diário de açúcar.
A meta é que os americanos limitem o açúcar adicionado a não mais de 10% das calorias diárias, segundo as diretrizes propostas. Para alguém com mais de 3 anos, isso significa não ingerir mais que 12,5 colheres de chá, ou 50 gramas, de açúcar por dia.
Isso é praticamente a mesma quantia de açúcar encontrada em uma lata de Coca-Cola, mas para a maioria das pessoas, abrir mão de refrigerantes não bastará para atender a recomendação. Adoçantes calóricos como açúcar, mel e xarope de milho são encontrados em lugares óbvios como refrigerantes, biscoitos e doces –mas também estão presentes em alimentos de apelo saudável, como iogurtes light, granola e pães integrais, assim como no ketchup, nos molhos para massas, frutas enlatadas e sopas prontas, molhos para saladas e outros.
“Há muito açúcar escondido em nossos alimentos e não apenas naqueles que são doces”, disse o dr. Frank Hu, um membro do Conselho Consultivo de Diretrizes Dietéticas e um professor de nutrição e epidemiologia de Harvard.
Atualmente, os rótulos dos alimentos informam apenas a quantidade total de açúcar em um produto. A FDA disse que deseja mudar os rótulos para ajudar os consumidores a distinguirem entre a quantidade de açúcar presente naturalmente e a quantidade de açúcar adicionada. “Quando você vê um iogurte com imagem de ameixas e morangos no rótulo –atualmente pode haver uma quantidade minúscula de fruta real adicionada ali e uma quantidade enorme de açúcar adicionado, ou muita fruta e leite, e pouco açúcar adicionado, de forma que o consumidor não consegue distinguir entre os dois”, disse Susan Mayne, diretora do Centro para Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada da FDA.
Os críticos da indústria alimentícia relutam diante das novas exigências de rotulação, dizendo que os novos rótulos apenas confundirão os consumidores. Um estudo publicado em junho na revista “The Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics” apontou que as pessoas superestimam a quantidade de açúcar nos produtos que listam “açúcar adicionado” e se mostram menos propensas a comprá-los.
“Em termos metabólicos, nossos corpos não diferenciam entre açúcares naturais ou adicionados”, disse Kris Sollid, um nutricionista que é um dos autores do estudo e diretor de comunicação de nutrientes do Conselho Internacional de Informação Alimentar, que recebe fundos de empresas de alimentos e bebidas, incluindo a Coca-Cola e a PepsiCo.
Se as pessoas estão cuidando de seu peso, ele disse, “é mais importante olhar para o total de calorias”.
Os nutricionistas concordam que saber o total de calorias é importante, mas notam que os açúcares adicionados representam calorias vazias, carentes de nutrientes. Apesar do leite e frutas conterem açúcares naturais, eles são alimentos ricos em nutrientes que fornecem cálcio, proteínas, vitaminas ou fibras alimentares.
A Organização Mundial da Saúde endossa um limite de 10% de açúcares, excluindo os presentes em frutas frescas, vegetais e leite, e pede às pessoas que busquem ainda menos, limitando os açúcares a 5% da ingestão calórica para obtenção de melhores benefícios à saúde.
A Associação Americana do Coração também recomenda limites mais rígidos ao açúcar, dizendo que as mulheres deveriam consumir apenas cerca de 100 calorias por dia em açúcares adicionados –cerca de seis colheres de chá– e os homens não mais que 150 calorias, ou nove colheres de chá. A FDA está recomendando que crianças entre 1 e 3 anos não consumam mais que 25 gramas de açúcar por dia.
Quase metade do açúcar adicionado consumido nos Estados Unidos vem de bebidas açucaradas, grande parte delas refrigerantes, mas também chá e café açucarados, sucos de frutas e bebidas esportivas, segundo análises do Levantamento Nacional de Exame de Saúde e Nutrição.
O limite de 10% foi obtido por meio de diferentes modelos de padrões de dieta saudável –americana, mediterrânea e vegetariana– e determinando quantas calorias restariam para o açúcar após uma pessoa ingerir os nutrientes necessários, disse a dra. Susan Krebs-Smith, chefe da divisão de levantamento de fatores de risco do Instituto Nacional do Câncer.
“Quando tudo é levado em consideração, resta uma margem muito pequena para calorias adicionais, ou o que algumas pessoas chamam de ‘calorias vazias’”, disse Krebs-Smith.
Ela comparou as novas recomendações de açúcar a viver de acordo com sua renda. “Se fôssemos orientar o público sobre como gastar seu dinheiro”, ela disse, “não teríamos dificuldade em dizer às pessoas a concentrarem seus gastos em itens essenciais, como alimentos, moradia e vestuário”.
O açúcar corresponde a cerca de 13,5% da ingestão de calorias pelos americanos, de modo que especialistas em saúde pública acham que a meta de 10% pode ser atingida. Mas esse número é uma média: jovens, negros e pobres tendem a consumir quantidades maiores de açúcar e precisariam promover cortes mais profundos para atingir a meta.
Crianças e adolescentes em geral obtêm 16% de suas calorias a partir do açúcar, um número que cai para 14% das calorias em adultos com idades entre 20 e 39 anos, com quedas maiores à medida que as pessoas envelhecem, segundo dados dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças.
Vários testes clínicos aleatórios recentes mostram que apenas fazer as crianças reduzirem as bebidas açucaradas pode reduzir o ganho de peso e o acúmulo de gordura. Muitos especialistas estão convencidos de que o cérebro não registra calorias líquidas da mesma forma que registra as calorias na comida. “Mesmo após consumir 200 ou 300 calorias em refrigerantes”, disse Hu, “você não se sente satisfeito”.
Mas mesmo os defensores entusiastas das novas regras temem que o limite ao açúcar pode ter um efeito adverso. O açúcar costuma ser usado para tornar derivados de leite com gordura reduzida e grãos ricos em fibras mais palatáveis, então o que aconteceria se as pessoas eliminassem o açúcar de sua dieta?
Nos anos 70, médicos e nutricionistas começaram a defender dietas de baixa gordura para a saúde do coração, levando a uma proliferação de produtos com baixa gordura ou sem gordura, mas que eram ricos em açúcar. Quando a moda se tornou dietas de baixo carboidrato, a indústria alimentícia respondeu com massas com baixo carboidrato ou biscoitos com pouco carboidrato, mas que continham mais gordura e calorias.
“Nós chamamos isso de consequências imprevistas”, disse Alice H. Lichtenstein, uma professora de ciência da nutrição da Universidade Tufts, que serve no comitê de diretrizes dietéticas. “Toda vez que nos concentramos em apenas um componente da dieta, obtemos essas situações malucas.”
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