Última Miss Universo brasileira, Martha Vasconcellos conta como desafiou o pai para levar a coroa
A baiana Martha Vasconcellos se encaixava perfeitamente no perfil de boa-moça no final dos anos 60. Jovem recatada, não se envolvia em confusão e mal tomou conhecimento das ousadias que faziam a cabeça de muitos garotos da época. Mas ela também teve o seu momento de revolta.
A ex-professora de alfabetização, que não se preocupava muito com a beleza nem praticava qualquer tipo de atividade física, arrumou uma briga feia em casa ao desafiar o pai e se increver como candidata ao título de Miss Bahia, em junho de 1968, atendendo aos insistentes pedidos de uma prima de sua mãe.
"Ele achava muita exposição, era muito machista. Eu nunca me interessei por concursos de beleza, só aceitei para poder contrariá-lo," diz Martha.
Seu Ivo de Sá Vasconcellos, advogado renomado em Salvador, não podia ouvir falar na filha desfilando as formas por aí, era uma "sem-vergonhice". Conquistar o título de Miss Bahia foi fácil. Difícil mesmo foi conseguir convencer o pai a autorizar a viagem ao Rio de Janeiro, para a disputa do Miss Brasil.
"Até o governador do Estado entrou na briga para dobrar o meu pai. Ele era cabeça-dura, nunca se conformou em ter uma filha miss. A minha maior vitória era a irritação dele," ela ri.
A mãe de Martha não quis assumir o posto de "mãe de miss" e ficar adulando a filha por todos os lados, e ela só conseguiu embarcar acompanhada da secretária da esposa do governador. Sem a pressão da família, Martha ficou à vontade para desfilar charme e beleza e conquistar um Maracanazinho lotado.
"Fui Miss Brasil numa época em que o título representava muito, era cercado de glamour, mas todo o processo era meio amador. Hoje existe uma grande estrutura por trás do concurso, é tudo mais organizado e profissional. Além disso, as misses hoje são muito mais belas. Apesar de nunca ter feito cirurgia, sou a favor de silicone, botox, lipoaspiração e tudo o mais."
Rumo a Miami
Se ser pai da mulher mais linda da Bahia já dava dor de cabeça para Seu Ivo, ficou tudo mais complicado quando ela se tornou rainha da beleza nacional.
"Ele dava escândalo! (risos) Vivia batendo a porta na cara de repórteres que queriam me entrevistar. Eu achava aquilo o máximo!"
Martha Vasconcellos guardou a faixa e a coroa de Miss Brasil na bagagem, mas por pouco não ficou de fora da disputa pelo título de Miss Universo. Tudo porque Seu Ivo deu trabalho para aceitar assinar o passaporte que autorizaria a filha a viajar para Miami, onde o concurso seria realizado. Acabou cedendo, mesmo que contrariado.
Para Martha, aquilo tudo não passava de diversão, uma aventura do tipo que ela nunca havia experimentado. Mas ela não tinha ideia na época de onde esse pequeno gesto de rebeldia a iria levar. No dia 13 de julho de 1968, exatamente um mês após receber o título de Miss Bahia, a ex-professora se tornou a segunda - e até hoje, última - Miss Universo brasileira.
"Eu fiquei muito feliz e emocionada, nunca tinha imaginado uma coisa dessas. Mas eu achava que tinha terminado ali, estava pronta para voltar pra casa. Eu era muito ingênua, não sabia que aquilo era um trabalho".
As detentoras do título de Miss Universo devem morar por um ano em Nova York e dar conta de uma carga de trabalho de oito horas diárias, incluindo fotos, entrevistas, participações em eventos e viagens ao redor do mundo.
Dinheiro
Martha ganhou muito dinheiro. Tanto que não cabia mais na caixinha onde guardava as economias em casa. "Eu era tão inocente que nunca tinha tido uma caderneta de poupança, nem sabia como me virar com isso."
Sonho de vida de modelo? Não para ela. "Eu chorava todos os dias. Morria de saudades da minha família. Sempre que tinha uma folguinha, viajava de volta para o Brasil."
O coração apertava também pela ausência do noivo, seu namorado desde os 12 anos. Assim que o reinado terminou, voltou correndo para o Brasil, e casou-se apenas seis dias depois.
"Eu me arrependo muito de não ter aproveitado mais aquela época. O casamento me trouxe dois filhos maravilhosos, mas depois de passar um terço da minha vida sob a autoridade do meu pai, fazendo o que ele queria, errei ao ficar submissa ao marido durante outro um terço. Agora uso esse um terço final para fazer o que bem entendo!"
Martha formou-se em Psicologia na Bahia e foi uma integrante ativa da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Em 2000, migrou para os Estados Unidos, onde obteve mestrado em Saúde Mental e Aconselhamento pelo Cambridge College.
Hoje, a ex-Miss Universo continua bela e elegante, mas exibe garras afiadas em defesa de vítimas de violência doméstica no Estado de Massachusetts, muitas delas imigrantes brasileiras. Só este ano, ela já recebeu dois prêmios pelo trabalho que desempenha numa organização não governamental de apoio às comunidades de língua portuguesa.
"Ter sido Miss Universo será sempre um orgulho pra mim, uma massagem no meu ego. Mas o reconhecimento pelo trabalho de combate à violência doméstica tem um valor especial. É uma atividade em que, de fato, eu consigo fazer o bem para outras pessoas."
É também uma conquista de que nem mesmo o Seu Ivo poderia se queixar.
"Ele achava muita exposição, era muito machista. Eu nunca me interessei por concursos de beleza, só aceitei para poder contrariá-lo," diz Martha.
Seu Ivo de Sá Vasconcellos, advogado renomado em Salvador, não podia ouvir falar na filha desfilando as formas por aí, era uma "sem-vergonhice". Conquistar o título de Miss Bahia foi fácil. Difícil mesmo foi conseguir convencer o pai a autorizar a viagem ao Rio de Janeiro, para a disputa do Miss Brasil.
"Até o governador do Estado entrou na briga para dobrar o meu pai. Ele era cabeça-dura, nunca se conformou em ter uma filha miss. A minha maior vitória era a irritação dele," ela ri.
A mãe de Martha não quis assumir o posto de "mãe de miss" e ficar adulando a filha por todos os lados, e ela só conseguiu embarcar acompanhada da secretária da esposa do governador. Sem a pressão da família, Martha ficou à vontade para desfilar charme e beleza e conquistar um Maracanazinho lotado.
"Fui Miss Brasil numa época em que o título representava muito, era cercado de glamour, mas todo o processo era meio amador. Hoje existe uma grande estrutura por trás do concurso, é tudo mais organizado e profissional. Além disso, as misses hoje são muito mais belas. Apesar de nunca ter feito cirurgia, sou a favor de silicone, botox, lipoaspiração e tudo o mais."
Rumo a Miami
Se ser pai da mulher mais linda da Bahia já dava dor de cabeça para Seu Ivo, ficou tudo mais complicado quando ela se tornou rainha da beleza nacional.
"Ele dava escândalo! (risos) Vivia batendo a porta na cara de repórteres que queriam me entrevistar. Eu achava aquilo o máximo!"
Martha Vasconcellos guardou a faixa e a coroa de Miss Brasil na bagagem, mas por pouco não ficou de fora da disputa pelo título de Miss Universo. Tudo porque Seu Ivo deu trabalho para aceitar assinar o passaporte que autorizaria a filha a viajar para Miami, onde o concurso seria realizado. Acabou cedendo, mesmo que contrariado.
Para Martha, aquilo tudo não passava de diversão, uma aventura do tipo que ela nunca havia experimentado. Mas ela não tinha ideia na época de onde esse pequeno gesto de rebeldia a iria levar. No dia 13 de julho de 1968, exatamente um mês após receber o título de Miss Bahia, a ex-professora se tornou a segunda - e até hoje, última - Miss Universo brasileira.
"Eu fiquei muito feliz e emocionada, nunca tinha imaginado uma coisa dessas. Mas eu achava que tinha terminado ali, estava pronta para voltar pra casa. Eu era muito ingênua, não sabia que aquilo era um trabalho".
As detentoras do título de Miss Universo devem morar por um ano em Nova York e dar conta de uma carga de trabalho de oito horas diárias, incluindo fotos, entrevistas, participações em eventos e viagens ao redor do mundo.
Dinheiro
Martha ganhou muito dinheiro. Tanto que não cabia mais na caixinha onde guardava as economias em casa. "Eu era tão inocente que nunca tinha tido uma caderneta de poupança, nem sabia como me virar com isso."
Sonho de vida de modelo? Não para ela. "Eu chorava todos os dias. Morria de saudades da minha família. Sempre que tinha uma folguinha, viajava de volta para o Brasil."
O coração apertava também pela ausência do noivo, seu namorado desde os 12 anos. Assim que o reinado terminou, voltou correndo para o Brasil, e casou-se apenas seis dias depois.
"Eu me arrependo muito de não ter aproveitado mais aquela época. O casamento me trouxe dois filhos maravilhosos, mas depois de passar um terço da minha vida sob a autoridade do meu pai, fazendo o que ele queria, errei ao ficar submissa ao marido durante outro um terço. Agora uso esse um terço final para fazer o que bem entendo!"
Martha formou-se em Psicologia na Bahia e foi uma integrante ativa da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Em 2000, migrou para os Estados Unidos, onde obteve mestrado em Saúde Mental e Aconselhamento pelo Cambridge College.
Hoje, a ex-Miss Universo continua bela e elegante, mas exibe garras afiadas em defesa de vítimas de violência doméstica no Estado de Massachusetts, muitas delas imigrantes brasileiras. Só este ano, ela já recebeu dois prêmios pelo trabalho que desempenha numa organização não governamental de apoio às comunidades de língua portuguesa.
"Ter sido Miss Universo será sempre um orgulho pra mim, uma massagem no meu ego. Mas o reconhecimento pelo trabalho de combate à violência doméstica tem um valor especial. É uma atividade em que, de fato, eu consigo fazer o bem para outras pessoas."
É também uma conquista de que nem mesmo o Seu Ivo poderia se queixar.