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Fábricas em Bangladesh fechadas após tragédia com mais de 800 mortos

08/05/2013 12h55

DACCA, 08 Mai 2013 (AFP) - Bangladesh anunciou nesta quarta-feira o fechamento de fábricas do setor têxtil por razões de segurança, duas semanas após o desabamento de um prédio que abrigava confecções que causou a morte de mais de 800 pessoas, segundo último balanço.

"Dezesseis fábricas foram fechadas em Daca e duas outras em Chittagong", a segunda maior cidade do país, anunciou à imprensa o ministro da Indústria Têxtil, Abdul Latif Siddique, que indicou que outras usinas serão fechadas como parte do plano de reforço das medidas de segurança.

Essas são as primeiras interdições pelas autoridades desde a tragédia de 24 de abril, a mais mortal da história industrial do país. O edifício de nove andares Rana Plaza desabou perto de Daca após trabalhadores alertarem na véspera a aparição de rachaduras nas paredes.

"Constatamos que aqueles que afirmavam manter os mais altos padrões de segurança nas fábricas de Bangladesh não cumpriram integralmente com as regras de construção", acrescentou o ministro.

Temendo que as marcas ocidentais abandonem os fornecedores de Bangladesh, o governo anunciou na segunda-feira a criação de uma nova comissão de inquérito para inspecionar cerca de 4.500 fábricas têxteis em busca de quaisquer defeitos de construção.

O ministro da Indústria Têxtil foi nomeado chefe da comissão.

Mais de 3.000 trabalhadores estavam em seus postos quando o Rana Plaza, localizado cerca de 30 km de Daca, ruiu como um castelo de cartas.

Bangladesh já havia anunciado o reforço das medidas de segurança após um incêndio em uma fábrica de roupas perto de Daca em novembro, que causou 111 mortes. Mas as inspeções foram consideradas insuficientes para se traduzirem em melhoras significativas nas condições de segurança deploráveis neste setor industrial.

Segundo uma autoridade responsável pelas investigações, as vibrações provocadas principalmente por quatro enormes geradores de eletricidade instalados nos andares superiores do edifício provocaram o desastre.

A polícia de Bangladesh prendeu 12 pessoas, incluindo o proprietário do edifício e quatro pessoas responsáveis pelas fábricas, por terem forçados os trabalhadores a permanecer no local apesar das rachaduras constatadas no imóvel um dia antes da tragédia.

"O balanço agora é de 803 mortos, dos quais 790 correspondem a vítimas encontradas nas ruínas e 13 feridos que faleceram nos hospitais", disse à AFP o tenente Mir Rabbi, porta-voz militar.

Segundo um general que supervisiona as operações no local da catástrofe, o balanço final pode ser ainda mais grave.

O general Siddiqul Alam Sikder disse à AFP que os guindastes e escavadeiras estavam retirando os escombros correspondentes ao terceiro andar do Rana Plaza e que o forte odor que emana sugere que ainda há corpos soterrados.

"Acreditamos que vamos encontrar outros corpos, porque nós ainda não atingimos os andares inferiores. Nós terminamos o trabalho em 70%", acrescentou.

No entanto, ele afirmou que o número de vítimas no térreo, primeiro e segundo andares não deve ser elevado, porque esses andares alojavam lojas e bancos que abririam às 9h00.

Cerca de 150 corpos foram encontrados nas escadas do prédio. Alguns trabalhadores tentaram fugir de onde estavam. Mas o Rana Plaza desabou em cinco minutos, tornando inútil qualquer tentativa de fuga.

Segundo membros das equipes de resgate, alguns corpos retirados dos escombros não tinham todos os membros, enquanto outros já estavam em avançado estágio de decomposição, tornando difícil a identificação.

Este drama revelou as condições subumanas dos trabalhadores do setor têxtil, o pilar da economia de Bangladesh, onde os trabalhadores, por vezes, recebem menos de 30 dólares por mês.

Bangladesh é o segundo maior exportador de produtos têxteis do mundo, depois da China. Esta indústria é responsável por mais de 40% da força de trabalho no país e 80% das suas exportações.