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Papa afirma que imigrantes não devem ser tratados como mercadoria

Alessandro Garofalo/Reuters
Imagem: Alessandro Garofalo/Reuters

21/06/2015 17h00

Turim, Itália, 21 Jun 2015 (AFP) - O papa Francisco pediu neste domingo que os países não tratem os imigrantes como se fossem mercadorias e denunciou as conexões mafiosas e a corrupção, durante sua primeira visita a Turim, na região de Piamonte, norte da Itália.

"O espetáculo dos últimos dias, destes seres humanos tratados como mercadorias, nos faz chorar", disse o pontífice em um discurso a representantes do mundo do trabalho na 'Piazzetta Reale'.

No momento em que a União Europeia (UE) se encontra dividida a respeito de como receber os migrantes, o papa criticou mais uma vez as manifestações de rejeição aos imigrantes, em particular no norte industrial italiano.

"Se a imigração aumenta a concorrência (econômica), não se pode culpar (os migrantes) por isto, porque são vítimas da injustiça, da economia da rejeição e das guerras. Os seres humanos não devem ser tratados como mercadoria", declarou.

No momento de maior simbolismo religioso da visita, Francisco ficou diante do Santo Sudário, um lençol que teria envolto o corpo de Jesus Cristo.

O objeto está exposto ao público na catedral de São João Batista de Turim até 24 de junho.

Desde 19 de abril, 1,2 milhão de pessoas compareceram ao local para observar o Santo Sudário, que Francisco, assim como os antecessores, chamou de 'ícone', representação que permite aos fiéis aproximar-se do mistério da Paixão de Cristo.

"O sudário atrai para o rosto e o corpo martirizado de Jesus e, ao mesmo tempo, nos leva a reparar no rosto de toda pessoa sofredora e injustamente perseguida", declarou.

O pontífice criticou, ainda, alguns dos males da Itália.

"Não à corrupção, que hoje é tão frequente que parece ter se transformado em um comportamento normal, não às conexões mafiosas, às fraudes, aos subornos".

"Não a uma economia do desperdício", completou, antes de afirmar que atualmente se descarta rapidamente quem não produz, seguindo o modelo de "usar e largar".

"Sejam ousados, andem para a frente, sejam criativos", afirmou.

Em Turim, "os excluídos que vivem na pobreza absoluta representam quase 10% da população. Se exclui as crianças - uma taxa de natalidade zero -, os idosos e agora os jovens: mais de 40% destes não têm emprego", denunciou o pontífice.

"As crianças e os idosos são a promessa e a riqueza de um povo", disse, antes de pedir aos italianos que demonstrem "coragem", apesar da crise.

Na homilia na praça Vittorio, o papa emocionou os moradores ao mencionar símbolos fortes da cultura regional, sobre os quais sua avó Rosa falava em Buenos Aires quando ele era criança.

Durante o Angelus, o papa foi muito aplaudido quando se declarou "neto" de Piamonte, diante de 60.000 fiéis na praça Vittorio, no centro da cidade.

Também se referiu à "Consola", virgem muito popular em Turim, "maciça e sem artifícios" e citou um poema do escritor local Nino Costa, que descreve os emigrantes piamonteses que partiram para a Argentina, obstinados, com "pulso firme", "falam pouco, mas sabem o que dizem" e "caminham em 'adagio' (lentamente), mas chegam longe".

Jorge Bergoglio nasceu em Buenos Aires em 1936. Alguns anos antes, sua família paterna deixou Portacomaro, uma localidade de Piamonte, próxima de Asti, para morar na Argentina.

Com um almoço privado com detentos, moradores de rua e uma família cigana, Francisco também celebrou o bicentenário de São João Bosco, grande figura do catolicismo italiano e de Piamonte, "apóstolo dos jovens", que se dedicou à educação das crianças desfavorecidas e fundou a congregação dos salesianos.

O Papa encerrou o dia com um encontro com milhares de jovens na praça Vittorio Veneto de Turim. Em resposta às perguntas de alguns deles, o pontífice os convidou a ser "castos" e ir contra a corrente "neste mundo hedonista".

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