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Resort de luxo no Báltico guarda vestígio arquitetônico nazista

31/08/2016 18h47

Prora, Alemanha, 31 Ago 2016 (AFP) - Em uma ilha alemã do Báltico, um dos vestígios arquitetônicos dos nazistas agora é um complexo turístico de luxo, onde outrora Adolf Hitler queria doutrinar as massas.

Localizado em uma praia paradisíaca da ilha de Rügen, o complexo de Prora renasceu neste verão com a chegada dos primeiros ocupantes dos novos apartamentos de luxo, que não são acessíveis para todos os bolsos.

O complexo original pretendia abrigar 20.000 veranistas no âmbito do programa de propaganda "Força através da alegria" do partido nazista, do qual também saiu a ideia da criação de um "carro do povo", que resultou no famoso Fusca da Volkswagen.

O local ofereceria recreação, ginástica e adoutrinamento ideológico para a classe trabalhadora ariana.

A construção de Prora começou em 1936, mas foi interrompida em 1939, com o começo da Segunda Guerra Mundial, deixando um esqueleto de concreto de 4,5 km de comprimento, com oito blocos idênticos de seis andares de frente para o mar.

Mais tarde, o local serviu como quartel militar para o exército da República Democrática Alemã comunista.

Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, as ruínas ficaram abandonadas. Apenas dois museus ocupam uma parte do espaço, e em 2011 um albergue foi instalado em outra.

"Este é um lugar que simboliza ao mesmo tempo a época nazista e a era comunista, e onde você pode obter um quadro mais completo de como ambos os sistemas funcionavam", diz Susanna Misgajski, diretora de um dos museus de Prora.

"Prisioneiros de guerra, trabalhadores forçados, refugiados, todo eles passaram por Prora em algum momento", acrescenta.

Responsabilidade com a históriaOs agentes imobiliários afirmam que levam em conta o passado. "A história aqui está onipresente", e "isso interessa aos clientes", afirma Werner Jung, representante de vendas da Irisgerd Real Estate, que transforma um dos blocos em 270 apartamentos.

É necessário, porém, manter um equilíbrio. "Por um lado, há um interesse em mantê-lo como um memorial e, por outro, há os interesses dos investidores que colocaram um monte de dinheiro nisso e querem rentabilidade", afirma Jung.

"Encontramos um meio termo", construindo, por exemplo, varandas discretas nos apartamentos, afirma Jung.

Os construtores têm uma responsabilidade para com a história, afirma Katja Lucke, historiadora do outro museu.

"As pessoas veem este edifício gigantesco e ficam fascinadas. Não se pode convertê-lo em algo banal, é preciso contextualizar", acrescenta.

Dos oito blocos, um pertence ao governo regional, que quer vendê-lo, dois a um investidor de Liechtenstein e outro foi destruído. Quatro foram cedidos a diferentes construtores, que pretendem transformá-los até 2022.

Em um dos blocos, o complexo batizado Prora Solitaire abriu este verão com uma fachada de cor creme e varandas envidraçadas. Possui um spa no local, restaurantes e até uma padaria da moda que também funciona como cafeteria.

Os apartamentos da Irisgerd, ainda em construção, já foram quase todos vendidos, graças aos juros baixos e às vantagens fiscais, entre outras coisas. Um espaço de 100 metros quadrados custa 350.000 euros, e um loft com vista para o mar, 650.000 euros.

"Memoriais suficientes""Passaram tantos anos, já era hora de fazer algo bonito com o Prora", opina Karsten Rarrasch, vizinho do complexo. "Já temos memoriais suficientes na Alemanha".

Os dois museus pretendem se fusionar em uma estrutura permanente, para garantir que a história do Prora não seja esquecida.

Mais o plano vai depender, em parte, do resultado da eleição de 4 de setembro no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, distrito de origem da chanceler alemã, Angela Merkel, para saber se eles poderão contar com o apoio do governo.

O partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AFD), com uma plataforma anti-imigração, conta com 20% das intenções de voto.

"É claro que não é um partido nazista, mas a AFD tem se fortalecido porque o problema dos refugiados assustou as pessoas", disse Misgajski, observando que no inverno passado o albergue da juventude de Prora foi usado para abrigar parte dos mais de um milhão de requerentes de asilo que chegaram à Alemanha em 2015.