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Advogados abandonam defesa de suspeito pelos atentados de Paris

Do 11/09 a Bruxelas, por que terroristas agem com seus irmãos?

New York Times

Em Paris

12/10/2016 02h23

Os advogados de Salah Abdeslam -- suspeito-chave dos atentados de Paris em 13 de novembro de 2015 -- abandonaram sua defesa.

"Decidimos renunciar à defesa" de Abdeslam. "Temos a convicção de que ele não se manifestará e alegará seu direito de permanecer calado", disse o advogado francês Frank Berton ao lado do seu colega belga Sven Mary em uma entrevista ao canal francês BFM TV divulgada nesta quarta-feira (12).

"Afirmamos desde o início, avisamos, que se nosso cliente permanecesse calado abandonaríamos sua defesa", acrescentou Berton.

"Quando você tem a sensação de estar ali só para fazer visitas na prisão, neste momento é necessário tomar uma decisão", disse Mary.

Os dois advogados avisaram da decisão para Abdeslam que entendeu que "os caminhos deviam se separar" e que escreveu ao juiz de instrução anunciando que não quer outros advogados.

Berton e Mary disseram que tinham aceitado a defesa do suspeito desde que ele aceitasse a falar, mas nas últimas semanas houve uma mudança de comportamento do suposto terrorista, e ele parou de cooperar, optando por ficar em silêncio.

Tanto Berton como Mary consideraram que as duras condições carcerárias que Abdeslam está submetido, isolado em uma cela com câmera de segurança permanente durante 24h, estão na origem de sua mudança de atitude.

"No começo ele confiava em mim. Mas há sete meses assisto ao espetáculo de um rapaz de 27 anos que se afunda psicologicamente (...) É o sistema carcerário organizado sobre ele que está fazendo isso", afirmou Berton.

Mary foi mais longe e disse que, desde sua prisão, os discursos das autoridades francesas, incluindo a Promotoria, o fez pensar que seu destino estava selado, o que o levou a não querer cooperar com a justiça.

Acusado de assassinatos em atos terroristas e principal suspeito dos atentados que deixaram 130 mortos em Paris, Salah Abdeslam está detido em regime de isolamento desde 27 de abril passado, em uma prisão ao sul de Paris.

Atentados em Paris em novembro de 2015

AFP

Salah Abdeslam recorreu ao Conselho de Estado francês para tentar suspender este regime de prisão inédito na França, mas o órgão rejeitou o recurso no final de julho, diante do "caráter excepcional dos fatos terroristas", que exigem "todas as precauções".

O único integrante vivo dos comandos do 13 de novembro também se nega a responder às perguntas do juiz antiterrorista encarregado de investigar os atentados de Paris e Saint-Denis, na periferia norte da capital francesa.

O papel de Abdeslam na noite de 13 de novembro não está completamente elucidado. Após dirigir o carro dos três suicidas que se explodiram em Saint-Denis, onde era disputada uma partida de futebol entre França e Alemanha no Stade de France, aparentemente perambulou por Paris durante toda a noite.

No dia seguinte, viajou com dois amigos que vieram da Bélgica para buscá-lo.