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Japonesas solitárias pagam fortunas pela companhia de cavalheiros

21/02/2017 16h18

Tóquio, 21 Fev 2017 (AFP) - Em meio à fumaça que toma conta do ambiente de uma casa noturna em Tóquio, Aki Nitta segura uma taça de champanhe cercada por três cavalheiros que se dedicam a mimar as mulheres por um preço astronômico.

Há japonesas dispostas a gastar uma fortuna com esses acompanhantes masculinos em troca de uma noitada de flertes, palavras carinhosas - e, com frequência, sexo.

"Quero sentir meu coração bater", declara à AFP Nitta, uma mulher de negócios de 27 anos de Nagoya, em um "clube de acompanhantes" popular revestido de espelhos no distrito da luz vermelha de Kabukicho.

"Os homens japoneses não são muitos galantes e não mostram seus sentimentos, mas aqui te tratam como uma princesa. Quero ser mimada, pouco me importa o que isso me custe", diz.

Nitta gasta quase 10.000 euros por mês com seu objeto de desejo - um jovem de aspecto andrógino, com o cabelo descolorido e um sorriso infantil.

Algumas clientes chegam a gastar mais de 100.000 euros em uma única noite para ter seus egos acariciados por galãs de voz suave que podem ganhar até cinco vezes esse valor em um bom mês.

Muitas dessas mulheres - com idades que variam entre 20 e 60 anos - cobrem seus acompanhantes favoritos de presentes caros, como relógios de diamantes, carros de luxo e até apartamentos.

"Quando eu tinha 20 anos, uma cliente me comprou um Porsche", disse o ex-acompanhante Sho Takami, de 43 anos, que hoje possui uma rede de clubes e compara seu antigo ofício ao de um psiquiatra - com benefícios.

"Você tem que estar disponível 24 horas por dia", conta o empresário ao chegar ao trabalho em um Rolls Royce com motorista.

Chance de amor"Nosso verdadeiro trabalho começa depois que o clube fecha, quando saímos para tomar um drinque com a cliente, nos arrastamos para a cama às 9h da manhã e encontramos outra cliente para o almoço", acrescentou Takami, que planeja abrir um clube em Las Vegas no ano que vem.

"É importante que a cliente acredite que há uma chance de amor. No fim das contas é assim que você faz com que ela venha ao clube e gaste dinheiro", explicou Takami.

Estes clubes representam uma indústria de 10 bilhões de dólares por ano no Japão, com cerca de 800 locais.

Cerca de 260 deles estão localizados em Tóquio, a maioria nas ruas estreitas de Kabukicho, onde os sinais de néon piscantes iluminam os rostos de jovens bem penteados e com bronzeado artificial, com nomes como Romeo, Gatsby e Avalon.

Em ocasiões, os acompanhantes já foram considerados gueixas masculinas, e Takami acredita que essa cultura, que surgiu no início dos anos 1970, empodera as mulheres.

"O trabalho de um acompanhante é servir de suporte para o coração de uma dama. Estamos aqui para fomentar o avanço das mulheres na sociedade", disse.

"Curtir festas com acompanhantes costumava ser considerado um pouco vulgar. Mas os tempos mudaram. Hoje em dia, poder frequentar estes clubes é um sinal de status ou sucesso", acrescentou Takami.

Predadores de emoçõesOs acompanhantes no Japão, figuras da noite reconhecíveis instantaneamente por seus bronzeados de spray, cabelos longos frisados e ternos apertados, são frequentemente acusados de ser predadores das emoções femininas.

"As clientes compram afeto", explica, dando de ombros, o ex-acompanhante Ken Ichijo, de 38 anos, no terraço de seu apartamento dúplex com vista para o Monte Fuji.

"Vendemos sonhos, e para isso é preciso mentir, dizer que as amamos em troca de somas consideráveis de dinheiro", acrescentou Ichijo, que hoje é gerente de clube.

Para ele, é simplesmente um caso de oferta e demanda.

"Os acompanhantes existem para preencher um vazio na vida de alguém", disse. "Atendemos a todas as necessidades de uma mulher - escutamos seus problemas, dizemos que são bonitas, fazemos as suas fantasias se tornarem realidade".

Com maiores restrições aos horários de funcionamento, inspeções policiais regulares e muito menos envolvimento de gangsteres da "yakuza", o negócio dos acompanhantes tem conseguido limpar a sua imagem sombria nos últimos anos.

Mas a perspectiva de sexo continua sendo uma isca neste setor muito concorrido, admite Ichijo.

"O sexo não faz necessariamente parte dos serviços de um clube de acompanhantes, mas é uma parte da tentativa de satisfazer as necessidades da cliente", disse.

Durante a conversa, seu colega Takami deixa entrever o outro lado da moeda: desconfiança, medo de ser desbancado por outro acompanhante ou de ser destruído por uma mulher.

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