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São Paulo também se rende ao brilho do carnaval de rua

23/02/2017 12h44

São Paulo, 23 Fev 2017 (AFP) - Terra da garoa, túmulo do samba, onde só se trabalha, tudo isso ficou para trás. Agora, durante o carnaval, São Paulo, sacode a sisudez e também se rende aos encantos da purpurina.

A explosão do furor carnavalesco é recente na maior cidade do país. Cresceu nos últimos anos sob a administração do ex-prefeito petista Fernando Haddad, que impulsionou a ocupação dos espaços públicos da cidade de mais de 11 milhões de habitantes, onde o lazer costuma ser mais recatado.

Mas os paulistanos se renderam ao apelo.

"Antes o Carnaval era assistir o desfile das escolas de samba do Rio pela tevê. Isso aqui, como você vê agora, não existia", contou à AFP a médica Marília Felício, de 31 anos, no meio de um dos muitos blocos de carnaval que tomam as ruas de São Paulo nestes dias.

"Eu sempre gostei muito do carnaval de rua", complementa, contando que muitas vezes passou o feriado em outras cidades onde a tradição do carnaval é mais forte.

"Por isso estou muito contente de que tenha crescido tanto também em São Paulo", continua Marília, que curte o carnaval de rua paulista coberta de purpurina, vestindo um chapéu engraçado, cerveja gelada na mão e acompanhada de amigos, como acontece nesta mesma época em cidades veteranas da folia, como Rio, Recife, Olinda e Salvador.

- A festa cresce - Segundo a Secretaria Municipal da Cultura da Cidade de São Paulo, três milhões de foliões são aguardados no carnaval de rua da cidade, um milhão a mais que em 2016.

O orçamento também aumentou: no ano passado foi de 10,5 milhões de reais, cerca de 70% a cargo do Município e o resto às custas de patrocinadores. Neste ano, o aporte do setor privado aumentou para 15 milhões de reais, "o que permitiu quase deixar em zero os investimentos públicos para a festa", informou a secretaria em nota.

A festa é organizada em torno dos blocos, que desfilam ao ritmo de percussionistas ou atrás de carros de som com algum tema específico, como o "Casa Comigo" ou o "Tô de Bowie", em homenagem a David Bowie. Há, também, outros de inspiração mais política, como grupos militantes do direito dos homossexuais, e outros que debocham do "Pequeno Burguês".

Um dos mais emblemáticos da cidade é o "Bloco Baixo Augusta", fundado em 2009, que no domingo passado convocou mais de 350.000 pessoas, segundo cifras oficiais. Outro bem marcante é o "Bloco Soviético", que reuniu outros tantos milhares vestidos de vermelho, gorros peludos de estepes distantes e gritando palavras de ordem contra o presidente Michel Temer, enquanto dançavam e bebiam.

"O carnaval de rua já acontecia. A partir de 2013, a Prefeitura ajuda a organizar, oferecendo infraestrutura, o que serve de incentivo para que as pessoas busquem essa diversão nas ruas da cidade", diz à AFP Fernanda Ascar, gerente de turismo de São Paulo, que aguarda 30 mil pessoas por noite nos desfiles mais importantes do sambódromo.

- Mais gente, mais desafios - Em 2011 e 2012 desfilaram na cidade 30 blocos. Este ano foram quase 400, apenas 13% a menos que no Rio de Janeiro.

"O Haddad acompanhou essa tendência de grandes cidades mundo afora onde se fomenta a ocupação dos espaços públicos, não só pelo Carnaval de rua mas também por ter estimulado o uso da bicicleta, por exemplo", diz à AFP a publicitária Agatha Kim, de 32 anos.

"Há muito pouco tempo falamos com meus amigos de passar um carnaval em São Paulo para curtir os bloquinhos", conta, entre risos.

Mas este crescimento traz desafios. O novo prefeito, o conservador João Doria, foi criticado pelos foliões por restringir a passagem por certas ruas residenciais, mas muito aplaudido por vizinhos que reclamam pelo barulho e o lixo que fica quando a festa acaba.

Estes dias, Doria afirmou que ainda falta ajustar assuntos, como a coleta de resíduos ou a organização do trânsito em uma cidade gigantesca como São Paulo.

"Antes você ia ao Sambódromo ou viajava, o resto olhava de longe, não participava. Agora a gente tem esse espaço de convivência que é o carnaval de rua, não vamos retroceder. Senão vai ter revolução!", diz um entusiasmado folião no "Bloco Soviético".